Ainda nos dias de hoje, por mais insólito que pareça, ocorrem grandes negligências nesta que é uma das mais importantes e fundamentais etapas de um empreendimento: a fundação.

Tais negligências podem se manifestar desde a etapa de projetos e se prolongar ao longo da execução, potencializando, dessa forma, a probabilidade de sinistros com consequências imprevisíveis.

Em parte significativa das situações acima descritas, é desconsiderado o "maciço de solo" como parte integrante, o qual é tão importante quanto o elemento estrutural que irá compor a fundação delineada para o suporte das cargas provenientes da superestrutura.

Tal fato pode ser ilustrado pela resistência em se executar a sondagem do solo sob a alegação de que a mesma é desnecessária por "já se conhecer o solo na periferia da obra", dentre outras justificativas de consistência altamente questionável.

É premente que os engenheiros civis e arquitetos conscientizem os empreendedores de que a fundação é constituída por dois subsistemas: o subsistema estrutural, que inclui a infraestrutura (sapata, estaca ou tubulão), a qual é embutida no subsistema geotécnico (solo), compondo, dessa forma, um sistema único suscetível a um conjunto de forças ativas externas chamadas de ações (permanentes, variáveis e excepcionais).

Os investimentos para a realização das investigações geotécnicas implicam numa parcela ínfima do custo total da obra e, sem sombra de dúvida, se constituirão em investimento de payback imediato, pois estabelecerão a "posologia"/fundação correta para a demanda do "paciente"/empreendimento no concernente as cargas a serem absorvidas.

O conhecimento do perfil geotécnico, além de subsidiar a escolha correta da fundação, também acaba por influenciar a concepção arquitetônica. A título de exemplo, podemos citar a opção em se utilizar (ou não) o subsolo em função do conhecimento das implicações de uma eventual ocorrência de um lençol freático dada a sua intensidade e abrangência. Além disso, o perfil geotécnico poderá influir na opção pela "verticalização" da obra dadas as possibilidades de concentração (ou não) das cargas em função da disposição estrutural dos pilares.

Cabe aqui salientar que as diretrizes necessárias para um correto dimensionamento da fundação são sistematizados pela norma de Projeto e Execução de Fundações, a NBR 6122, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Sempre é necessário conhecer onde apoiaremos nossas obras.

Joni Matos Incheglu é engenheiro civil