O Café com Mogi News desta terça-feira (29) entrevista Suéller Costa, jornalista, pedagoga e especialista e Mestre em Educomunicação. Ela, que atuou por anos no Grupo Mogi News, hoje está em salas de aulas da rede de ensino de Guararema, ensinando Língua Inglesa e também é palestrante como educomunicadora. Em sua trajetória, vem trabalhando na interface, entre a educação e a comunicação, o que deu origem ao projeto Educom Alto Tietê, que tem como slogan: “Educar, comunicar e mobilizar pelas mídias”.
Na rede municipal de Guararema, Suéller conquistou por projetos que criou, recentemente se tornou articulista do Mogi News/Dat. Grupo, onde sempre deu voz para crianças, professores e pessoas ligadas à educação, na produção dos suplementos Diarinho e Newszinho, entre outros. Também foi responsável pelo programa de formação que atendia redes de ensino da região.
“Eu sempre fomento na perspectiva da educomunicação, porque a educomunicação ela trabalha esse educar para as mídias, colocando esses jovens como produtores de conteúdos e não só consumidores. Não são jornalistas mirins, mas são crianças e adolescentes que transformam seus conhecimentos constituídos”, explicou. Leia mais na entrevista completa com apoio da Padaria Tita.
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Café com Mogi News: Você é jornalista e professora. Como esses caminhos foram surgindo na sua vida e depois enveredando pela educomunicação?
Suéller Costa: Eu sempre tive uma vertente educativa, desde sempre. Acho que antigamente a gente tinha no professor uma das principais referências profissionais. Então, eu me inspirava muito nas professoras que circularam pela minha trajetória e eu sempre quis mesmo ir para área educacional, mas com o Ensino Médio e as novas aberturas que foram surgindo ao longo da minha trajetória, eu fui para o jornalismo porque eu sempre gostei de escrever.
Parece até rotineiro ouvirmos isso dos jornalistas, mas eu sempre gostei de narrar, criar histórias e ouvir. Eu tive esse lado da escuta muito presente no meu berço familiar, que tem muitos contadores de histórias, começando pelos meus avós, e isso influenciou muito a minha carreira no jornalismo. E quando eu fui para o jornalismo, fui levada para a educação. Trabalhei em várias editorias, mas a editoria de educação foi a que sempre me chamou, e eu fui chamada por ela. Eu trabalhei nos suplementos infantojuvenis e foram as minhas melhores fases na área do jornalismo. Foi o período em que eu trabalhei com o infantojuvenil do Mogi News.
CMN: Tinham projetos também?
Suéller: Exato! O Diarinho e o Newszinho. Foram 10 anos ouvindo crianças, professores e pessoas ligadas à educação em todas as vertentes, e além disso, tínhamos o programa Jornal Educação, que era um programa riquíssimo em que nós levávamos os jornais para as escolas e fomentávamos formação com professores para o uso desse veículo de forma pedagógica.
Ali já começava um trabalho de educação para as mídias, e a gente não só estimulava a leitura dos meios, mas estimulava a criação de jornais nas escolas e concursos de fotografia, de jornais escolares e de leitura de imagens, era algo muito primoroso.
CMN: Tínhamos também concurso de redação.
Suéller: Concurso de redação, e tínhamos a mostra de talentos em que os alunos faziam uma exposição dos trabalhos realizados na escola, como se fosse um seminário. A gente passou por sete redes de ensino com esse programa, com o foco na rede municipal. Quatro a cinco delas ficaram conosco muitos anos.
Por onde eu passo, encontro professores dessa época que sempre têm ótimas recordações das nossas formações, dos nossos encontros, e desse projeto que deixou sua marca na região.
CMN: Você enveredou pela educomunicação, é especialista e mestre, e se dedica sempre a muitas coisas, como que é seu trabalho na educomunicação?
Suéller Costa: Eu trabalho na interface, porque eu sempre estive entre a educação e a comunicação. A educomunicação, a formalização de buscar pelos estudos nessa área foi ao longo do projeto, porque eu comecei a participar de muitos congressos e muitos eventos.
Nós temos um grupo de coordenadores de programas Jornal Educação, que era realizado pelo grupo Mogi News e em outras regiões. Até hoje a gente tem contato. Nós temos um grupo de WhatsApp, trocamos figurinhas. A maioria dos programas das outras regiões também infelizmente chegaram ao fim por causa da própria determinação da ANJ (Associação Nacional de Jornais), mas eles fazem os seus projetos paralelos e independentes.
Eu nunca esqueço que eles me orientaram a fazer um curso de educomunicação na ECA-USP (Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo), que era o único lugar que tinha na época. Hoje tem vários cursos de educomunicação em universidades privadas, mas o curso oficial começou na ECA-USP. Eles me incentivaram muito a fazer o processo seletivo e entrar para entrar na educomunicação.
Eu participei, consegui ingressar e realizar esse curso, e desde então, nunca mais saí de lá. Fiz a especialização, depois fiz um mestrado na linha de pesquisa: Comunicação e Educação.
Eu nunca deixo de mencionar, não dá para falar o nome de todos, mas de destacar o meu orientador no mestrado, as pessoas que entraram na minha trajetória. Quando a gente se une com pessoas com propósitos semelhantes, a nossa trajetória só enriquece e a gente também fica feliz quando alguém disse que a gente enriquece a trajetória de alguém.
Se eu estou aqui hoje é por causa de todas as pessoas que entraram na minha vida, foram me alinhando até aqui mesmo no Grupo, o pessoal sempre falava: ‘você é muito ligada em educação’. Vim para o programa Jornal Educação, na época do saudoso Marcos Siqueira (que foi editor), ele mesmo quando fez o convite, disse: ‘Você já é professora, já é da educação, acho que você vai ser bem-vinda aqui nesse núcleo’, e foi que foi.
CMN: Também agora uma vertente também é a educação mediática. O Instituto Palavra Aberta que tem o curso e esse projeto, você também está ligada nisso?
Suéller: Sim, eu digo que hoje, a educação tem ganhado esse destaque, principalmente por ter ganhado mais espaço na agenda federal. A gente tem um grupo que está muito empenhado em fomentar políticas públicas nessa área de educação midiática, mas é importante ressaltar que é uma área de estudos de muitos anos e luta também para quem fomenta.
CMN: Como a gente pode definir a educação midiática?
Suéller: A educação midiática tem esse termo que é mais claro, mais compreensível, mas a gente pode falar da educomunicação, que não é um sinônimo, mas o propósito é semelhante. A gente tem várias terminologias, mas com propósitos em comum, que é o educar para as mídias, com as mídias e pelas mídias.
Os nomes às vezes eles diferem por conta dos grupos de pesquisas, que ajudam a consolidar essa área. A gente tem educomunicação, mídia educação, tem comunicação em educação, educação midiática, dentre tantos outros. São estudos que são muito inspirados também na área internacional, então a gente ouve muito media and information literacy, dentre outros.
A educação midiática acho que é um termo que casou, é compreensível. É o termo que o Instituto Beta utiliza, o Grupo Educamídia. Eu sempre fomento na perspectiva da educomunicação, porque a educomunicação ela trabalha esse educar para as mídias, colocando esses jovens como produtores de conteúdos e não só consumidores. Não são jornalistas mirins, mas são crianças e adolescentes que eles transformam seus conhecimentos constituídos, aqueles que eles aprendem nos diferentes componentes atuais.
CMN: É o que hoje já faz parte do dia a dia deles, as mídias já estão aí.
Suéller: Então, elas estão e eu ainda digo que elas estão onipresentes, porque eles já convivem com essas mídias, mas o que necessita é de uma mediação para como lidar com a informação que chega até eles, que são totalmente hiperconectados e o seu universo informacional é a área digital e essa área digital necessita de uma orientação com relação ao uso dos dispositivos, mas não só dos equipamentos em si, mas de como navegar nesse site nesse ciberespaço com consciência. Quando a gente fala da educação midiática, a gente fala disso.
CMN: Da responsabilidade por aquilo que está compartilhando e produzindo.
Suéller: Exatamente! Quando eles leem, eles reconhecem os gêneros que estão ali, as intencionalidades, as mensagens que estão por trás de tudo que envolve os textos em si. A gente está diante de uma geração muito imediatista. Eles se informam 80% pelas redes sociais, por textos curtos, pelas chamadas e, às vezes, não pelos desdobramentos daqueles fatos que chegam até eles. Os textos longos não são atrativos.
A gente precisa também entender a linguagem que eles mais gostam para a gente levar essas informações pelas linguagens deles. Então a gente tem, por exemplo, canais no TikTok que transmitem informação muito rapidamente, no máximo em um minuto. Não tem um desdobramento, mas é uma forma de chamar a atenção desse jovem para navegar pelo mundo da informação, para compreender o quanto é necessário hoje você se atualizar.
A gente como educador tem que estimular esse desdobramento nesses textos mais densos, porque são esses textos que vão acompanha-los numa avaliação estadual, nacional, nas provas que eles participarão. A gente não foca só em prova, mas em processos informativos para essa leitura de mundo que a gente tanto exige.
CMN: A gente esbarra em fake news, desinformação, e os discursos de ódio que vão infelizmente tomando conta.
Suéller: Eu digo que a gente faz as nossas regras de convivência, e tem essas regras nosso ambiente presencial e no virtual é a mesma coisa. Eu trabalho com infâncias e juventudes que estimulam essa produção de mídias com eles no ensino regular, dentro do componente que eu atuo, que é língua inglesa e língua portuguesa também.
Ao mesmo tempo, nos projetos independentes também eu incentivo essa produção, sempre prezando pelas regras de convivência. A gente conversa, e eles usam celulares nas minhas aulas, fazem gravações. Com relação a isso, nós trabalhamos a imagem, ela é um direito autoral do nosso projeto e está no seu celular, vai para sua nuvem. Você não vai compartilhar essa imagem a não ser pelos nossos canais, nas nossas produções.
Muito cuidado com também com o que é você vai ouvir sobre as produções, porque a gente trabalha com mídia, desde o processo de planejamento, desenvolvimento, a publicação e o feedback. Como são crianças, a gente tem que preparar eles também para os comentários que virão, que nem tudo vai pode ser positivo, mas entender o que é uma crítica uma crítica construtiva.
Lidar também como a gente se comporta quando a gente vai comentar o trabalho do colega. Na questão da desinformação, trabalhamos os sites que são confiáveis. Eles fazem muitas pesquisas dos temas que a gente explora.
Eu oriento muito que o site não é somente os três primeiros que aparecem ali no Google, tem outros em embaixo. Olhem o que mais chama atenção, não se prenda pelos três primeiros, todo mundo vai nesses três primeiros. Essa diferença no que você vai reportar para nossa comunidade. São treinamentos que acontecem a longo prazo. Então hoje a fake news é muito complexa, porque ela é muito planejada, organizada, esquematizada.
Elas são fabricadas e, às vezes, nós adultos já temos essa dificuldade de identificar mesmo, porque às vezes elas estão muito bem-feitas. Então imagina a gente trabalhar isso com crianças e adolescentes, que têm seus influenciadores, que seguem canais que a gente desconhece? Precisamos tentar mediar, que há interesses divergentes. E como a gente também pode incentivar essa forma de se informar para ir além do que eles conhecem.
CMN: Hoje você está na sala de aula, é professora de língua inglesa na rede municipal de Guararema. Como é que esse trabalho na sala de aula?
Suéller: Esse ano completou quatro anos que estou em Guararema. Passou muito rápido. A dinâmica jornalística, ela sempre fez parte do meu fazer educativo, então eu fico triste porque as pessoas perguntam: ‘nossa, você saiu do jornalismo?’. Não, eu não saí e nunca vou sair do jornalismo. Eu continuo escrevendo, continuo produzindo. Eu não parei nunca, o impresso e a escrita sempre estiveram presentes, e dentro da sala de aula essa dinâmica jornalística faz parte, que é essa perspectiva educomunicativa.
Eu tenho meus conteúdos que eu aplico e nessas oportunidades, eu criei um projeto, chamado English Club, que é o clubinho da língua inglesa, em que é o momento da aula reservado para as produções mundiais. Nós trabalhamos temas transversais, são temas de impacto global por ser língua inglesa, e de que forma esse tema impacta o nosso regional e o nosso local e a partir daí é uma sequência bem longa. Existem várias etapas, a gente trabalha os temas, depois o repertório e a língua inglesa desse tema, nas palavras-chaves e algumas frases específicas, que vão produzindo essa escrita deles em inglês e português.
Nesse processo de produção, é quando tem essa possibilidade de trabalhar um espírito investigativo, a questão do consumo consciente, porque eles fazem as pesquisas sobre os temas e ao mesmo tempo você trabalha a produção consciente. Ele é consumidor de conteúdos e, ao mesmo tempo, se transforma em produtor de conteúdo. A responsabilidade por estar fazendo uma produção para comunidade, que a comunidade vai assistir no audiovisual é o que mais chama atenção.
A gente escolhe qual linguagem nós vamos transmitir. Então já fizemos história em quadrinhos, revistas de mangás. Sobre temas, trabalhamos os ODS (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável), a questão socioemocional na escola. A gente fez um especial revelando os talentos da nossa comunidade, que é muito além do nosso estereótipo. E isso foi um trabalho bem bacana, porque eles viram que a merendeira, o seu maior talento não é cozinhar, ela cozinha porque ela gosta, mas o talento dela era natação.
CMN: Todos nós temos uma história legal para contar, o básico do jornalismo.
Suéller: Sim, porque crianças são falantes. A gente trabalha o escutar, que tem que ter a paciência de escutar a história do outro.
Nesse momento estamos trabalhando a Escola dos Sonhos, que é um projeto que está ficando muito bacana, e em breve a gente vai ter muitas novidades. O projeto surgiu naquele momento mesmo do impacto às escolas, por conta daquela violência e dos ataques, mas começou mesmo em março, por conta do Dia da Escola. Era para trabalharmos sobre a escola no mundo, como que é o processo de ensino, enfim, as diferenças, como que é a escola nos Estados Unidos e como que é aqui no Brasil. E aí vieram todas aquelas notícias horrorosas, que acabou desmembrando esse projeto para trabalhar a cultura de paz na escola.
Agora eles estão fazendo uma campanha, revelando os seus sonhos por meio de vídeos, por meio de exposições que eles estão montando, por meio de mensagens para proliferar o que que é uma escola dos sonhos.
E essas produções elas acontecem ali no ensino básico, no ensino regular, é difícil conciliar? Os professores sempre me perguntam. É difícil sim, mas acho que quando a gente tem um propósito, e eu nunca me vi como ir para sala de aula, cumprir os conteúdos apenas com base nos livros, mas de ir além daquilo.
As crianças têm um potencial muito além do que a gente vê na primeira aula. A gente tem que explorar o potencial de cada um deles. A gente segue com projetos fora do ensino regular, com essa missão de mostrar a potência das infâncias e da juventude. Sou muito focada nesse público, pois eles têm muita coisa a nos ensinar também. Eu aprendi demais.
CMN: Vamos falar um pouco das premiações que você recebeu com esses projetos desenvolvidos na escola.
Suéller: Bom, ao longo desses quatro anos, foi assim, bem revelador. Eu digo que a sala de aula é um laboratório de estudos, de experimentações, e esses projetos são concretizados porque os alunos abraçam as ideias, eles realmente cumprem as etapas que são propostas e isso tem repercutido positivamente na nossa história.
O English Club nos seus três anos de produções a gente já conquistou quatro premiações nacionais e a gente já foi semifinalista em outras quatro. A gente tem aí um histórico de oito destaques nacionais, dois deles, inclusive com uma repercussão internacional, porque a gente competiu com projetos de outros países. Competiu é uma a palavra meio pesada, mas é que estávamos entre semifinalistas com outros países também. Acho que isso mostra o quanto eles são potenciais. Eu me inscrevo assim em premiações e não só pela visilidade em si, mas principalmente pelo reconhecimento, a gente tem que reconhecer o que está dando certo em sala de aula, reconhecer nossos educandos. A gente tem esses rankings que colocam nosso país para baixo, mas tem muita coisa boa acontecendo na escola, projetos que mostram a potência dos nossos educandos, que nas suas dificuldades, eles alavancam.
Meu desejo de construir um projeto de bases sólidas na educomunicação, lá do ciclo do ensino infantil até o ensino médio, e por isso que a gente precisa lutar por políticas públicas, que é quando se consolida oficialmente. A gente não pode esperar patrocínio, apoio político, tem que colocar a mão na massa e fazer acontecer no seu espaço, no seu território. Às vezes a gente pensa em algo grandioso, e algo grandioso é o que a gente conquista em nosso território.
CMN: Você também tem o projeto Educom Alto Tietê, como funciona?
Suéller: É um projeto pessoal, que ocorre de forma independente. Com esse propósito de fomentar a formação e a informação em educomunicação. A ideia é de compartilhar práticas nesse segmento, estudos, pesquisas e de orientar na formação de professores, mas não só professores que estão no ensino regular, mas educadores, e entusiastas que vêm a influência das mídias no fazer educativo nos diferentes contextos, no ensino formal, no ensino informal.
Eu ofereço oficinas, palestras, me coloco à disposição para levar o tema para a sua escola, para o seu espaço educativo, como ONGs, movimentos sociais, e a gente cria trilha informativa para orientar sobre o que é a educomunicação. A educomunicação fala muito de território, de você colocar em pauta o que não está nos jornais tradicionais, e assim a gente dá reconhecimento a outras vozes. E outras pessoas estão vindo para essa rede de aprendizado colaborativa, ninguém faz nada sozinha, e proliferar essa área que é muito potente. Acompanhe nas redes sociais - @educomaltotiete
CMN: E quais são seus planos para o futuro?
Suéller: A vida é movimento. Eu continuo nos grupos de pesquisa, porque são elas que fundamentam nossa prática. Não me vejo sem estudar, quero fazer o doutorado. Me vejo no futuro orientando professores na sala de aula, tenho a meta de atuar no ensino superior, hoje tenho um contratado orientando TCCs (Trabalhos de Conclusão de Curso) em uma pós-graduação. Futuramente profissionalmente me vejo cada vez mais envolvida, não só com pesquisa, mas com pratica, na sala de aula onde se tem uma visão mais ampla, uma visão panorâmica como fazer com que o conhecimento não seja só transmitido, seja transformador para quem recebe. O estudo move a gente. Não estudamos só para ter titulações, não é um estudo formal, é com quem a gente conhece. Quando você se propõe a escutar, ouvir, aprender com o outro, você está em movimento e crescendo.