Um insone que não dorme há anos por um instante sequer e suas tentativas para voltar a dormir. É esse o ponto de partida da peça "Vigília", um texto de Cássio Pires encenado por André Capuano (colaborador do Tablado de Arruar), Carlos Canhameiro e Daniel Gonzalez (ambos da Cia Les Commediens Tropicales), que será apresentada hoje no Galpão Arthur Netto (avenida Fausta Duarte de Araújo, 23, centro de Mogi). O espetáculo que começará às 18 horas e segue até às 6 horas de domingo. A entrada é gratuita. 
Ansioso por voltar a dormir, ora observando a cidade da janela de seu apartamento, ora perdendo-se por suas ruas e avenidas, o personagem se entrega a todas as tentativas que lhe ocorrem: toma remédios, procura por médicos e psicólogos, aborda estranhos e arrisca-se a experiências de extenuação a fim de voltar a dormir. A encenação da montagem é assinada pelo trio de atores, juntamente com Cássio Pires.
A peça foi construída com base em trocas de ideias. Os ensaios, que duravam entre duas e seis horas ininterruptas, serviam para colocar em prática todos os elementos que eram resultados dessas conversas. "A proposta nasce do nosso desejo de experimentar em cena a sensação da vigília. Não fizemos nenhum trabalho de pesquisa corporal para a peça. Nos interessa não apenas representar os conflitos do Insone, o personagem da peça, mas, sim, vivenciar esta condição, abrir-se à extenuação física e mental gerada pelo ato de estar em cena durante a noite, a madrugada e a manhã e compartilhar esse estado com o público", diz Cássio.
Pires explica que, mais que representar a noite de um insone, a produção leva atores e a plateia a realmente vivenciarem esses momentos. Ambos, abrindo-se à extenuação física e mental. Porém, o espectador é que estabelece qual o seu tempo de relação com o espetáculo: as pessoas podem assistir toda a peça, ver somente alguns minutos, sair e voltar.
No cenário, as pessoas podem ver diversos objetos que tem relação direta ou indireta com a narrativa do personagem. Há poltronas, televisores, micro-ondas, máquina de café, geladeira, um notebook, mas também microfone, uma marreta, etc. Há uma quantidade grande de itens, que são organizados não para sugerir um espaço realista (a sala de uma casa, por exemplo), mas sim uma área cênica em que os objetos ficam à disposição da interação dos atores.
Enredo
Durante 12 horas, os atores realizam diversas ações relacionadas ao universo do Insone e sua trajetória e, por diversas vezes, dizem o texto da peça, que, em uma montagem convencional, caberia em aproximadamente 50 minutos de montagem. O público pode entrar e sair do espaço cênico no momento que bem entender. 
A montagem estreou em setembro de 2013 na Oficina Cultural Oswald de Andrade, em São Paulo, participou da IX Festival de Fortaleza e em 2014 foi contemplado pelo ProAC do governo do Estado de São Paulo para a circulação em cinco cidades paulistas. O texto de Cássio Pires surgiu em 2004, e ganhou uma nova versão em 2006. Ele já participou de um ciclo internacional de leituras em Florença, na Itália, sendo traduzido para o italiano pela dramaturga Letizia Russo; em 2012, a peça foi contemplado pelo Prêmio Myriam Muniz, do Ministério da Cultura.