A implantação do Parque Náutico Mogiano, às margens do rio Tietê, em Mogi das Cruzes, deve preservar uma área que reúne décadas de história e que integra a memória afetiva dos mogianos. A avaliação é do historiador Glauco Ricciele. O equipamento, conforme anunciado pela prefeita Mara Bertaiolli, nesta semana, será instalado em uma área que pertencia ao Clube Náutico, adquirida pela Prefeitura. Ricciele afirma que a área carrega uma longa relação com os mogianos, voltada ao esporte, lazer e contato com meio ambiente. 

Num momento em que a história do clube volta aos holofotes por causa do futuro parque, o historiador afirma que a trajetória do local - fundado em 1933 - se confunde com a própria evolução de Mogi das Cruzes e acompanhou o desenvolvimento urbano do município. E o rio Tietê sempre foi protagonista na história que segundo Ricciele remonta aos séculos passados: “O rio foi principalmente um vetor de deslocamento e mobilidade. Como nós vivíamos entre duas serras, do Itapeti e do Mar, o Tietê servia como uma grande avenida de deslocamento dentro do seu leito, tanto para os povos originários como, em alguns momentos, para as monções (expedições fluviais) dos bandeirantes no início da colonização do Brasil", explicou.

A construção do Clube Náutico nas proximidades do rio, segundo o historiador, reforçou essa relação e o espaço se consolidou como uma ferramenta social importante para a cidade. “Nos anos 30, o clube é fundado. A estrutura que nós conhecemos — o desenho das áreas, piscinas — é da metade dos anos 40 em diante", lembra ele. 

Ricciele destaca elementos históricos do clube como o cocho, que marcou as décadas de 1950 e início dos anos 1960. “O cocho era uma estrutura de madeira, um deque que saía da margem e adentrava o rio. Nesse quadrilátero era colocada uma rede, e as pessoas podiam fazer seus banhos e brincadeiras sem o risco maior do afogamento. Consolidou-se na memória afetiva dos mogianos nas décadas de 50. Hoje é difícil apontar onde ficava, porque a mata já se restabeleceu. A partir dos anos 1950, o rio entra em um estado mais acelerado de poluição e perda da flora e fauna”, destacou.

O historiador ressalta o desenvolvimento do clube ao longo dos anos: "Cada década ele vem tomando estruturas, como a chegada do ginásio, salão social e a piscina nos anos 60. É um patrimônio porque consolidou sua história com o desenvolvimento da cidade, com um uso equilibrado do rio, com esportes e lazer num lugar de convívio social", afirmou. “Cada fase do clube tem uma fase de construção de identidades. Tudo isso fomentou demais essa memória afetiva por parte da sociedade. Acredito que só por esse ponto já dá um grande potencial para que esse clube tenha um reconhecimento como um patrimônio afetivo de Mogi”, ressaltou.

As fases mais recentes do clube, segundo Ricciele, são marcadas pela instalação da faculdade e da escola, além do declínio com dívidas. "Infelizmente o clube quase perdeu parte do seu território para uma especulação imobiliária. Por isso, é importante parabenizar a Prefeitura pela utilização da área de forma consciente como parque, pois vai preserva o espaço para as futuras gerações, equilibrando o meio ambiente com a economia da região”, concluiu. 

Aquisição

Na última segunda-feira (24), a prefeita anunciou a criação do Parque Náutico Mogiano, que será construído em um terreno de 18 mil metros quadrados dentro do Clube Náutico. Segundo Mara, o projeto do novo parque deverá ser apresentado nos próximos meses. Na ocasião, Mara disse ainda que a Prefeitura negocia a aquisição de outras áreas do Náutico, como onde está a piscina. 

Após o anúncio da prefeita, o vereador Marcos Furlan, que também é 1º tesoureiro do Clube, reforçou em suas redes sociais que todas as atividades serão mantidas, como a faculdade de Educação Física e Fisioterapia, o colégio, a academia de artes marciais e as aulas de inglês. Segundo ele, nada será interrompido com a implantação do parque municipal e o objetivo da diretoria é fortalecer ainda mais a instituição, que há 93 anos atende a população. 

Galeria

Foto 1 - Historiador Glauco Ricciele destaca memória afetiva do mogiano com área do Náutico
Foto 2 - Registro colorido digitalmente mostra como era o cocho do rio Tietê