Quando pensamos em acessibilidade na arquitetura e no espaço urbano, muitas vezes a primeira imagem que vem à mente é a de rampas ou elevadores. Embora essas estruturas sejam essenciais, a acessibilidade é muito mais do que isso. Trata-se de criar uma cidade inclusiva, onde todas as pessoas, independentemente de suas condições físicas, sensoriais ou cognitivas, possam transitar, trabalhar, estudar e viver com dignidade e autonomia. Em Mogi das Cruzes, como em tantas outras cidades brasileiras, o desafio de tornar os espaços públicos e privados realmente acessíveis ainda é imenso.
De acordo com o IBGE, cerca de 24% da população brasileira possui algum tipo de deficiência – um número que chama atenção para a necessidade de projetar cidades que contemplem essa parcela significativa da sociedade. Em Mogi das Cruzes, a realidade diária de muitos moradores com deficiência ou mobilidade reduzida é marcada por obstáculos: calçadas esburacadas ou mal niveladas, falta de rampas em edifícios públicos, transporte coletivo inadequado e pouca sinalização para deficientes visuais. Esses problemas não apenas dificultam o acesso a serviços essenciais, mas também limitam a liberdade de circular pela cidade.
As calçadas, por exemplo, que deveriam ser um espaço democrático para pedestres, mostram bem o quanto Mogi tem desafios a superar. Muitas ruas do centro histórico possuem passeios estreitos e irregulares, sem adequação às normas de acessibilidade previstas pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) e pelo Estatuto da Pessoa com Deficiência. Para quem se locomove com cadeira de rodas, bengalas ou muletas, essas barreiras podem transformar trajetos simples em verdadeiros obstáculos impossíveis de superar.
Outro ponto crítico são os prédios e espaços públicos. Embora existam leis que exijam adequações, como a instalação de rampas, banheiros adaptados e piso tátil, a aplicação dessas normas ainda é desigual. Alguns edifícios históricos, por exemplo, enfrentam dilemas entre preservar a arquitetura original e adaptá-la para acessibilidade, mas essa não deve ser uma justificativa para excluir parte da população. Uma cidade só é completa quando permite que todos os seus habitantes possam desfrutar de suas estruturas.
No transporte coletivo, a realidade também merece atenção. Apesar de algumas melhorias, como ônibus equipados com elevadores, muitas linhas ainda não funcionam de forma inclusiva, com paradas e embarques mal planejados e sem estrutura adequada para quem precisa de apoio. Isso cria um ciclo de exclusão que afeta não apenas a mobilidade, mas também o acesso a oportunidades econômicas e sociais.
Mas e as soluções? Felizmente, a arquitetura e o design urbano oferecem ferramentas e perspectivas poderosas para superar esses desafios. Planejar os espaços com o conceito de desenho universal – que prioriza projetos que atendam a todas as pessoas, sem necessidade de adaptações posteriores – é uma dessas estratégias. Calçadas mais largas e niveladas, instalação de rampas, ampliação de sinalizações visuais e táteis e mecanismos eficientes no transporte público são medidas urgentes que podem ser implementadas de forma gradual, mas constante.
Além disso, é fundamental que o debate sobre acessibilidade vá além de reformas arquitetônicas. Incluí-la nas discussões sobre o planejamento urbano de Mogi das Cruzes é essencial, especialmente em uma cidade que segue crescendo e recebendo novos empreendimentos. Incorporar a acessibilidade desde o início dos projetos é mais econômico e eficiente do que corrigir falhas depois que os espaços já foram construídos.
Por fim, mais do que uma questão técnica, a acessibilidade é sobre respeitar e valorizar a diversidade humana. Tornar Mogi das Cruzes uma cidade mais acessível é investir na qualidade de vida de seus moradores e promover a inclusão social como um compromisso coletivo. O caminho é longo, mas os primeiros passos já podem (e devem) ser dados hoje.