Neste domingo (18) é celebrado o 115° aniversário da imigração japonesa no Brasil, marcada pela chegada da nau Kasato Maru no Porto de Santos com os primeiros 781 imigrantes, em uma viagem que durou 52 dias. Os viajantes deixaram o Japão por conta da tensão social que o país sofria durante as reformas da Era Meiji, enquanto o Brasil demandava mão de obra para trabalhar nas lavouras de café e outros setores que ascendiam no início do séculos XX, após a abolição da escravatura. Eventualmente, muitas famílias acabaram se instalando e formando uma colônia em Mogi das Cruzes.
Segundo conta Frank Tuda, presidente do Bunkyo de Mogi das Cruzes, as primeiras famílias começaram a trabalhar na construção civil e indústria de Santos, mas em condições muito precárias, o que levou muitos a adoecer. "Havia um médico japonês, chamado Sentaro Takaoka, que comentava que todos deveriam ir para uma região mais úmida e menos quente, e que Mogi era um lugar muito propício", disse.
Assim, em 1915, a família Suenaga é a primeira a passar por Mogi, no então bairro de Biritiba Mirim, mas sem se estabelecerem. Foi somente em 1919 que de fato os japoneses se instalaram em Mogi, com a chegada da família Suzuki, que se assentou no bairro Cocuera. "Na época eles abriram todo o sítio com machado e inchadão. E esse realmente era um dos maiores desafios, porque eles não tinham nada e então começaram a abrir a mata com o que era possível", pontuou Tuda.
Além da precariedade de recursos materiais e a dificuldade em se familiarizar com a língua portuguesa, Tuda explica que os imigrantes acabaram se dedicando ao cultivo de verduras, um alimento que ainda não era presente no cardápio dos brasileiros. "Muitas vezes eles plantavam, mas não conseguiam vender a produção. Somente com o tempo eles foram introduzindo isso na comunidade e em Cocuera, e aos poucos a vizinhança começou a comparar e a verdura foi se expandindo pela região", destacou o presidente.
Desta forma e apesar dos desafios, o nome de Mogi se expandiu de forma positiva entre colonos japoneses, que nas décadas que se sucederam começaram a chegar com maior intensidade em outros bairros além de Cocuera, como Botujuru e Cézar de Sousa.
Família Tuda
No caso de Tuda, seus avós vieram de Tokyo direto para Mogi durante o período entre guerras, e se instalaram no então bairro de Biritiba Mirim. Como primeiros imigrantes na cidade, tiveram o papel de desbravar a região, e prepararam todo o terreno onde constituíram um sítio e plantavam verduras.
"Depois meu pai nasceu, também em Biritiba Mirim, no mesmo lugar onde eu viria a nascer, e ele continuou plantado, e desde aquela época ele já era líder comunitário, foi vereador em Biritiba e trabalhou um bom tempo ajudando a comunidade", destacou Tuda.
Frank Tuda seguiu os passos do pai, e o ajudava na vida do campo além de ser um membro ativo da comunidade. "Depois vim para fazer faculdade aqui em Mogi, me formei em Engenharia Civil na Universidade de Mogi das Cruzes (UMC), e me mudei para cá, onde abri um escritório de engenharia e uma loja de ferragens. Depois de um tempo na área e sempre ajudando nos bairros, em 2003 fui convidado a integrar o Bunkyo. Entre 2004 e 2005 ajudei no Akimatsuri e em 2007 virei diretor, até nesses últimos sete anos estar como presidente. E é um trabalho que é gratificante, pois somos todos voluntários, e é um orgulho ajudar a manter as tradições culturais dos nosso antepassados", salientou
Preservação da cultura
Como presidente do Bunkyo, Tuda destaca o desafio da associação em preservar a cultura japonesa, sobretudo entre as novas gerações. "Hoje nós estamos na quinta geração, e a terceira e parte da quarta geração ainda cultuam o que os nossos ancestrais trouxeram. Mas meus filhos, por exemplo, já não falam japonês e muitos nem conhecem o que os avós trouxeram ou pelo o que passaram aqui no país", contou.
Com isso, o Bunkyo exerce um papel importante em resgatar os costumes japoneses, seja por meio da escola de língua japonesa, ou pelos eventos como o Akimatsuri, Furusato, Undokay, que consiste em um celebração poliesportiva, e cursos, como ecorigami e de escrita japonesa.
"Acho muito importante manter essa tradição, tudo o que aprendi dos meus avós e dos meus pais, de ter palavra, ter caráter e todas as tradições a serem seguidas. Então tudo isso que a gente fala é bom deixar para nossos filhos e netos, e mostrar a dificuldade que nossos ancestrais passaram para que eles possam ter o que têm hoje, e relembrar um pouco tudo o que foi trazido e mantido aqui, porque só existe toda essa cultura porque foram criadas as associações e entidades dentro da nossa cidade, no Estado e no país", constatou.
Akimatsuri
Tuda ressalta a importância e o peso que o Akimatsuri representa hoje para a preservação da cultura japonesa, considerada atualmente o segundo maior evento nipo-brasileiro no país. De acordo ele, "dentro do Akimatsuri temos oficinas e tradições que poucos lugares e poucos eventos conseguem mostrar para o público", e cita como exemplo o Tooro Nagashi, em que lanternas brilhantes são lançadas na água ao anoitecer com o nome de entes falecidos.
"Com o evento também geramos muita renda ao município através das pessoas que vêm nos visitar e ficam em hotéis, gastam com alimentação, transporte, além de gerar emprego no evento", concluiu.
*Texto supervisionado pelo editor