Com os recentes ataques em escolas pelo país, o poder público tem reforçado o monitoramento diante do clima de medo entre pais e alunos. Em Suzano, a operação "Escola Segura", iniciada no dia 10 de abril, conta com a visita da Guarda Civil Municipal (GCM) em toda a rede de ensino do município, além de botão de pânico nas instituições e mil câmeras de vigilância instaladas. Além disso, como divulgou o Grupo Mogi News/Dat, a União Paulista dos Estudantes Secundaristas (UPES) no Alto Tietê realizou uma consulta pública para a paralisação de escolas no dia 11, que já contava com pouco mais de 10 mil assinaturas a favor da medida até o dia 13.

Para o professor e sociólogo Afonso Pola, entretanto, as ações imediatas de segurança não serão suficientes para combater as causas da violência. "No caso do policiamento nas escolas, precisamos fazer o seguinte questionamento: nossa polícia, que tem como características mais evidente a ostensividade e a repressão, está preparada para desempenhar um papel importante no trato dessa questão?", ponderou.

Pola ainda apontou que câmeras de monitoramento não possuem um efeito inibidor eficiente: "Vivemos em cidades onde praticamente a totalidade dos espaços são monitorados. No entanto, isso não tem impedido ações de criminosos".

Na análise do professor, paralisar as escolas também pode ter um peso simbólico negativo no próprio combate à violência, pois "seria o equivalente a reconhecermos que a sociedade está refém desses atos". Ele avalia que a situação é consequência de uma intensificação do discurso de ódio, potencializado pelas redes sociais e por representantes políticos. "A escola é uma instituição pertencente a esta sociedade, não é de se estranhar que ela também está contaminada", destacou.

Contudo, Pola salienta que não há política de efeito imediato. "Do mesmo modo que a cultura da violência não se instala de um dia para o outro, ela é resultado de um processo alimentado por atos e discursos, a sua reversão é também um processo no sentido contrário", disse o sociólogo.

Mídias sociais

O historiador e professor da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC), Mário Sérgio de Moraes, avalia que as mídias sociais possuem um papel central para propagação de discursos com apologia à violência. "As redes sociais se comportam como indivíduos alucinados, donos de uma verdade absoluta, trabalhando em algoritmos, formando bolhas. Razão pela qual isso alimenta cada vez mais uma sociedade de egos, em que eu falo somente para os meus", observou.

Moraes elogiou à postura da imprensa em não divulgar mais a identidade de autores de massacres em escolas para não alimentar atos semelhantes, mas classificou como um curativo que se coloca em uma ferida muito maior: "Isso tem que se dar por meio de uma busca de identidade que só a política pode trazer. Identidade no sentido da autoestima, principalmente que nossas escolas deixem de ser colas de outros projetos que vem de fora. A informação dada pelo celular não pode sobrepujar a discussão, que é o conhecimento. Quando algum dia, e isso não está acontecendo, a escola formar pessoas para o diálogo, tenho a impressão que essa sangria poderá ser detida".

Diálogo na escola

A pedagoga e educomunicadora Suéller Costa afirmou que é essencial que os professores iniciem diálogos com os estudantes para saber como estão se informando sobre os ataques, com quem estão conversando e espalhando essas informações.

Suéller disse que a principal fonte de informação dos jovens são o Tik Tok, YouTube e, para os mais velhos, WhatsApp: "Temos que falar com eles para que olhem as fontes, que sejam críticos e verifiquem quem mais compartilha aquilo. Nos comentários já se tem uma postura para questionar se aquilo é verdade e se inspira o ódio e a violência". A pedagoga disse ter ressalvas sobre uma possível paralisação das aulas, e que o mais importante é acalmar os ânimos e promover um diálogo com todas as camadas da sociedade a partir das plataformas digitais.

*Texto supervisionado pelo editor