Com a celebração do Abril Azul, mês reservado para a Conscientização Sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA), profissionais da Clínica Sinapses explicam as atividades realizadas para o desenvolvimento saudável de autistas, unindo comportamento, sociabilidade, aprendizagem, além dos próprios sentidos do corpo. Localizada em Mogi das Cruzes, o espaço é referência em tratamento de crianças com o transtorno, utilizando-se da ciência ABA e método Denver, específicos para o acompanhamento do diagnóstico. Confira as entrevistas completas em nosso canal no YouTube - PortalNews Oficial

A terapeuta ocupacional da clínica, Daniela de Andrade, explica que, no primeiro momento em que a criança com TEA chega ao local, ela é avaliada e diagnosticada e, em seguida, são identificadas as principais habilidades que precisam ser desenvolvidas. Desta forma, o paciente é encaminhado aos profissionais qualificados para dar andamento ao tratamento.

"Na terapia ocupacional a gente vai pensar o brincar com a criança, porque é a partir disso que a gente se desenvolve. A gente trabalha a integração sensorial e a base dos sistemas sensoriais, que são os cinco sentidos e mais dois, que a gente fala que é a propriocepção e o sistema vestibular (o primeiro diz respeito a compreensão do corpo no espaço e o segundo com o movimento). Então a gente trabalha todas essas questões dentro da integração sensorial", explicou a terapeuta.

Segundo ela, o desenvolvimento desses sentidos ocorre de forma conjunta, e não segmentada. Daniela utiliza o exemplo de uma criança que possui dificuldade de interagir com a areia. A primeira investigação do profissional está em compreender os sentidos atuantes neste exercício, para chegar às causas das reações desviantes do paciente, como a hipersensibilidade.

"A gente consegue trabalhar isso com movimentos, trazendo algumas texturas para essa criança para que a gente possa ir organizando esses sentidos. Então fazemos esse rastreio, agimos em cima disso, mas não mudamos o perfil da criança. O que fazemos é com que ela se adapte de uma forma mais adequada aos sentidos dela", diferente de outros métodos, que trabalham com a dessensibilização. O tratamento pode ser feito já a partir do um ano e meio, sendo que quanto mais cedo é dado início, mais rápido o desenvolvimento.

 

Didática

Já Ana Paula Rosa, psicopedagoga da Sinapses, explica que a principal função de seu cargo será identificar e atuar sobre as principais dificuldades de aprendizagem, que podem ter causas intelectuais, sociais ou até mesmo motoras.

"Quando a pessoa possui autismo, naturalmente ela terá dificuldades. Então é preciso ir mais a fundo nas avaliações e tornar as sessões mais interessantes. Com isso, muda muito também o número de repetições das atividades. É preciso ser criativo para que, ao mesmo tempo em que você tenha que repetir, faça aquilo ficar muito legal, fazer ser prazeroso, para que a repetição não fique aversiva", comentou.

Dentre outras abordagens, o principal é analisar o gosto do paciente, para que seja possível estimulá-lo com mais facilidade, prendendo por mais tempo a concentração e melhorando o engajamento no exercício proposto.

"Teve um paciente que eu sabia que ele gostava muito de basquete, e na primeira sessão ele não queria olhar para mim, ele só olhava para a janela. Aí eu consegui uma camiseta do Mogi Basquete. Eu cheguei na segunda sessão com a camiseta, quando eu cheguei na recepção e chamei ele, ele veio, entrou na sala, olhou para mim, e ali o vínculo foi", relembrou a psicopedagoga. "Ele passou a me ver porque primeiro eu consegui ter esse olhar para ele".

Ela ressalta que todo esse mecanismo, aliado à terapia ocupacional e ao acompanhamento ativo dos responsáveis, será essencial, posteriormente, para a alfabetização, processo que começa "a partir dos cinco anos e vai até os sete ou oito anos".

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*Texto supervisionado pelo editor.