A nova temporada do Café com Mogi News estreia nesta terça-feira, dia 7 de março, véspera do Dia Internacional da Mulher, com uma entrevista especial com a vice-prefeita de Mogi das Cruzes, Priscila Yamagami. O bate-papo, gravado na semana passada, foi dividido em duas partes e nesta primeira, você confere, no formato texto e vídeo, a trajetória de Priscila, que tem mais de 30 anos de experiência na área da Educação, com passagens pela Uninove, Braz Cubas e Fatec, como professora e coordenadora de cursos. A segunda parte da entrevista destacando os projetos da atual gestão será publicada na quinta-feira (9).
Além da ampla carreira construída na Educação, e também tendo atuado na Publicidade e Marketing, Priscila se dedica ao estímulo ao empreendedorismo, nos últimos anos, especialmente com foco nos servidores públicos, colaborando para que eles descubram seu propósito. O trabalho que começou na Escola de Governo, ainda na gestão passado, segue e ganhou força na administração ao lado do prefeito Caio Cunha.
Para a vice-prefeita, o servidor público é uma pessoa que está ali para ser útil, para servir e fazer o destino dos nossos pagamentos de impostos acontecerem de forma plena, efetiva, uma função muito nobre e precisa ser ajustada a uma área que faça mais sentido e permita que ele desenvolva projetos profissionais e pessoais. Na entrevista, ela conta mais sobre sua carreira e seus projetos.
Café com Mogi News: Conte um pouco da sua trajetória.
Priscila Yamagami: A história é meio longa, a gente não vai entrar em detalhes, são 37 anos de trabalho e 37 anos de carteira assinada. Comecei na área de atendimento mesmo, aos 15 anos, trabalhei no Bradesco, e vim trilhando uma trajetória muito focada em comunicação, em atendimento, em pessoas, sem saber. Apesar de ser uma apaixonada pela causa animal, mas as pessoas sempre me moveram. Então, eu começo com 15 anos no Bradesco, em Suzano, cidade onde eu morei 30 anos. Depois fui para o Sudameris, comecei a fazer faculdade de Propaganda e Marketing. Trabalhei também na área de marketing, em indústria e agências de publicidade.
Um belo dia, em 2003, há 20 anos, eu caio numa sala de aula na Uninove e me apaixonei pela área da educação. Um bichinho me picou e nunca mais saí. Eu fiquei sete anos na Uninove e foram experiências incríveis. Eu tenho amigos, ex-alunos, professores, coordenadores, que até hoje que a gente se fala. Eu morava em São Paulo e eu queria muito voltar para a terrinha, aí eu consegui uma aula na Braz Cubas com o professor Zé Maria na época. Ele me deu uma disciplina em que eu conheci uma querida aqui, a Simone (Soares, diretora do Grupo Mogi News), em 2003. A disciplina era ‘Merchandising no Ponto de Venda’, ela vai lembrar. Eu fiquei um tempo bom na Uninove, conciliando com a Braz Cubas, e eu fui fazer mestrado até por uma provocação de um aluno para poder melhorar enquanto professora. Então, eu estava fazendo mestrado na Metodista, dando aulas na Braz Cubas e na Uninove, uma loucura, mas foi muito bom.
CMN: Você chegou a ser coordenadora do curso?
Priscila: Nessa época, eu já estava na Uninove há quase sete anos, e o professor Zé Maria me convidou para ser coordenadora. Eu coordenei nove cursos na Braz Cubas, todos os cursos de comunicação - Web Design, Rádio e TV, Comunicação Institucional, Marketing, Publicidade e Propaganda, Jornalismo, e por aí vai. O sonho da minha mãe era que eu fosse funcionária pública, mas eu nunca prestei. Eu gosto de viver sempre na corda bamba, ali para gente correr atrás. A Fatec abriu concurso em 2013, e eu falei: “vou realizar o sonho da minha mãe, e vou ser servidora pública”. Eu prestei e passei para as disciplinas de Endomarketing, Marketing e Empreendedorismo. Eu virei uma servidora pública na Fatec em 2013, e fiquei na Fatec e Braz Cubas. Depois, eu comecei a coordenar o curso de RH na Fatec também, e aquela avenida Cívica era meu caminho maluco.
Até que eu comecei a coordenar Pedagogia na Braz Cubas, e os cursos de Comunicação estavam em uma fase de reestruturação. Eu saí da Braz Cubas chorando. Foram 16 anos, meu coração estava ali, fiz muitos amigos, muitos alunos, uma história incrível, mas eu sabia que eu iria voltar ali em algum outro formato. Na Fatec, eu já estava em tempo integral e fiquei quatro anos e meio, coordenei cursos, então recebi o convite da gestão anterior para coordenar a Escola de Governo, que é a escola dos servidores públicos municipais, e eu não conhecia. É exatamente o que você falou antes, é o intraempreendedorismo, não é só o externo, não é só negócio, é trazer ideias, empreender na própria vida. Você dá uma oxigenada também no servidor público, foi um pouco disruptivo para a época, mas a gente fez um trabalho muito legal, principalmente de autoconhecimento, para descobrir o que você realmente gosta de fazer, se está na área que tem a ver, criar projetos, foi incrível. Eu me apaixonei pelo serviço público.
O servidor público é muito incrível, principalmente quando ele se olha e associa que ele ama o que está fazendo, porque você buscar o serviço público pelo simples fato da estabilidade, ou de você ter uma questão financeira, faz falta aquele coraçãozinho vibrando pelo que você faz. A minha missão dentro da Escola de Governo foi essa, foi trabalhar o propósito do servidor público.
O servidor público é uma pessoa que está ali, e eu não estou falando no ato da submissão, mas no ato de ser útil, de servir, de fazer o destino dos nossos pagamentos de impostos acontecerem de forma plena e efetiva, é muito nobre. Só que muitas vezes ele vem nessa busca, por conta da estabilidade, e aí falta ele ser ajustado a uma área que faça muito mais sentido ou ele ter projetos que possa aliar essa questão financeira, essa questão que ele faz no dia a dia ao que ele ama, porque é muito importante a gente fazer o que a gente ama. A grana é uma consequência. Foi um trabalho incrível, eu me apaixonei por eles.
Eu comecei a fazer o curso do Caio (Cunha) para lideranças, para quem quisesse exercer uma cidadania mais atuante e o mandato dele como vereador foi sempre muito participativo. Eu ficava mais escondidinha, porque eu sabia que de certa forma ele era uma oposição para o governo que eu estava, até que um dia eu saí numa foto, em um vídeo e eu fui exonerada por conta disso, foi no Dia dos Professores.
Ele (Caio Cunha) falava muito de ter uma vice mulher, e eu ouvi uma voz aqui dentro falando: “É você”, e eu falava para essa voz: “Para, fica quieta, voz, fica na sua”. Até que organicamente o grupo falou: “Não, Caio, eu acho que a sua vice é a Priscila”. Eu comecei a levar esta questão do propósito para o grupo de candidatos que a gente formou. Quando ele me convida, eu falei: “Só que eu sou um pouco elétrica, não vou ficar assim na foto, ali de canto, esperando. Eu vou atuar”, e ele falou: “Eu não queria ouvir outra coisa”. A gente sai para campanha e acontece o que a gente já sabe.
CMN: Você encarou algum tipo de preconceito?
Priscila: O primeiro preconceito que eu sofri, enquanto candidata, foi em um grupo de mulheres. Olha que coisa interessante e triste também, porque na época que todo esse movimento estava acontecendo, criou-se um grupo de mulheres e me convidaram para participar. Eram candidatas a vereadoras, candidatas a prefeita, candidatas em geral, e eu entrei, até agradeci. Eu já ouvi assim de primeira: “Você não é bem-vinda aqui, porque a gente não quer uma candidata a vice, ou a gente quer uma candidata a vereadora ou uma candidata a prefeita, uma candidata a vice, não faz sentido”. E eu falei: “Eu nunca fui da política, eu preciso aprender, eu preciso estar com alguém que tenha experiência, e mais eu quero estar junto, eu quero ter um olhar, complementar”. Saí do grupo, e então você vê que o preconceito ele vem da própria mulher, porque não deram nem chance de eu me explicar por que eu tinha escolhido ser candidata a vice-prefeita.
Eu fiz uma formação na RAPS (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade) e às vezes a gente sofre preconceito e a gente não sabe, em uma olhar, numa fala, numa ignorada, sabe? Então a gente também vai aprendendo a olhar e perceber isso. A gente é muito amorosa, mais afetuosa, e você vai se dando conta que não é tão simples assim.
É um meio muito masculino sim, e a gente que fala bastante, precisa de mais objetividade, assertividade, isso também afeta muito as questões de preconceito. Muitas vezes a gente procura relevar, por isso que eu falo da respiração, da meditação, inteligência emocional, e seguir, mas é, é um meio difícil, mas um caso pra mim emblemático assim, que me marcou foi esse grupo de mulheres.
CMN: E esse olhar diferente que você traz para a gestão, como é isso?
Priscila: Eu acho que não é porque é gestão pública, não é porque a gente está falando de um serviço público, que tem suas diferenças em relação do setor privado, que você não pode trazer as questões da gestão, seja ela onde for. Quando a gente fala muitas vezes de respiração, de meditação, de momentos de descanso, de recarregar as energias, é fundamental para você pensar melhor o teu negócio, seja público, seja privado, ainda mais quando você lida com dinheiro público, que é uma extrema responsabilidade. E como inovar no setor público, que é altamente burocrático porque tem que ser, porque você tem questões jurídicas importantes que barram gastar o dinheiro de qualquer forma.
Você querendo fazer, querendo entregar, e esse tempo, que é muito diferente do tempo da iniciativa privada. Eu vejo que tem uma necessidade de trazer inovação até para estas questões jurídicas mesmo da área pública para que a gente possa acelerar, porque senão você passa um mandato, preciso de dois mandatos, preciso de não sei quantos mandatos para fazer. As pessoas, elas não esperam. A gente, que é da educação, sabe que cada semestre aquela criança já perdeu aquela chance, então precisa ser agora, e essa vontade de entregar, nossa equipe está muito focada nisso, pensa em inovar dentro dos parâmetros legais, dentro do que é possível. A gente tem tido iniciativas até com o Ministério Público de inovação. Para gente criar novos caminhos, é possível melhorar, aprimorar a lei. A gente precisa inovar no serviço público, senão a gente não vai ter o país que a gente merece e precisa.
(Colaborou Fabiana Oldra)