Agências especializadas da ONU, em colaboração com o Ministério da Saúde de Gaza, vão lançar neste domingo (9) uma campanha de vacinação para crianças na Faixa de Gaza. O anúncio foi feito nesta quarta-feira (5), em comunicado. Também serão avaliados os níveis de subnutrição das crianças, após dois anos de guerra e vários meses de bloqueio à ajuda humanitária. Liderada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e a Agência da ONU para os Refugiados Palestinianos (UNRWA), a campanha pretende chegar a 44 mil crianças. Elas receberão doses para prevenção de doenças como sarampo, rubéola, caxumba, difteria, tuberculose e poliomielite, indicaram as agências da ONU. Uma em cada cinco crianças com menos de três anos em Gaza não recebeu qualquer dose de vacina ou não pôde receber as doses programadas devido ao conflito. Como resultado, as taxas de vacinação infantil neste território palestino caíram de 98% para menos de 70%. “Após dois anos de violência implacável que ceifou a vida de mais de 20 mil crianças na Faixa de Gaza, temos finalmente a oportunidade de proteger aqueles que sobreviveram”, declarou o representante do Unicef na Palestina, Jonathan Veitch, no comunicado. Durante a campanha, que envolverá 600 médicos e outros profissionais de saúde em três rodadas de vacinação, as crianças serão examinadas para detectar sinais de subnutrição. Os casos graves e moderados serão tratados. As vacinas serão administradas em 149 unidades de saúde e 10 unidades móveis em Gaza, mas o Unicef e a OMS também trabalham para reabilitar 35 centros de saúde que foram totalmente ou parcialmente destruídos durante a guerra, para poder aumentar o número de locais de vacinação. As agências especializadas da ONU sublinharam que, para garantir o êxito desta campanha, é fundamental que haja um total cumprimento do cessar-fogo, em vigor desde 10 de outubro, mas marcado por vários incidentes violentos, incluindo bombardeios israelenses. Entenda Em 7 de outubro de 2023, Israel declarou uma guerra na Faixa de Gaza para “erradicar” o movimento islamita palestino Hamas, horas depois de este realizar um ataque sem precedentes em território israelense, matando cerca de 1,2 mil pessoas e sequestrando 251. A guerra de retaliação israelense no enclave palestino fez, até agora, pelo menos 68.875 mortos, a maioria civis, e 170.679 feridos, segundo números atualizados hoje (com as vítimas das violações ao cessar-fogo por Israel) pelas autoridades locais, que a ONU considera fidedignos. Fez igualmente milhares de desaparecidos, soterrados nos escombros e espalhados pelas ruas, e mais alguns milhares que morreram de doenças, infecções e fome, causada por mais de dois meses de bloqueio total de ajuda humanitária e pela posterior entrada, a conta-gotas, de mantimentos distribuídos em pontos considerados "seguros" pelo Exército, que regularmente abria fogo contra civis famintos. Há muito que a ONU declarara o território em grave crise humanitária, com mais de 2,1 milhões de pessoas em uma "situação de fome catastrófica" e "o mais elevado número de vítimas já registrado" pela organização em estudos sobre segurança alimentar no mundo, mas em 22 de agosto emitiu uma alerta oficial do estado de fome na cidade de Gaza e suas imediações. Já no final de 2024, uma comissão especial da ONU acusou Israel de genocídio em Gaza e de usar a fome como arma de guerra, situação também denunciada por países como a África do Sul junto do Tribunal Internacional de Justiça, e uma classificação igualmente utilizada por organizações internacionais de defesa dos direitos humanos. Relacionadas Israel anuncia restabelecimento do cessar-fogo após ataques a Gaza