Mais de 190 países-membros da Organização das Nações Unidas (ONU) adotaram formalmente, nesta segunda-feira (30), o documento "Compromisso de Sevilha", que pretende criar nova arquitetura para a cooperação internacional e o financiamento para o desenvolvimento, que enfrenta cortes e déficits de bilhões. O documento, de 68 páginas, foi adotado na abertura da 4.ª Conferência Internacional sobre Financiamento ao Desenvolvimento (FFD4) da ONU, que ocorre em Sevilha, na Espanha, até quinta-feira (3). O "Compromisso de Sevilha" foi negociado no comitê de preparação da conferência, copresidido por Portugal e pelo Burundi. Os Estados Unidos (EUA), país que é grande doador da comunidade internacional, decidiu cortar ajuda humanitária e apoio a programa de desenvolvimento e combate à pobreza desde que Donald Trump regressou à Presidência, em janeiro, e é o único país dos 193 que integram a ONU que não está representado no encontro de Sevilha. Os EUA também se retiraram das negociações do "Compromisso de Sevilha" e não subscrevem o documento, mas não o bloquearam, pedindo na ONU, uma votação. Mais de 60 líderes mundiais, entre chefes de Estado e de Governo, estão na conferência que discute financiamento para o desenvolvimento e ocorre dez anos após a anterior, na Etiópia, em 2015. O objetivo agora é "renovar o quadro do financiamento global ao desenvolvimento", em momento de "graves tensões geopolíticas e conflitos" e quando "estão gravemente atrasados" os objetivos acordados pela comunidade internacional na Agenda 2030, diz o texto "Compromisso de Sevilha". "Estamos ficando sem tempo para atingir os nossos objetivos e enfrentar os impactos adversos das alterações climáticas. O fosso entre nossas aspirações de desenvolvimento sustentável e o financiamento para concretizá-las tem aumentado, particularmente nos países em desenvolvimento, atingindo valor estimado de US$ 4 bilhões anuais anuais", acrescenta o documento. Segundo estimativas da ONU, o déficit atual na ajuda ao desenvolvimento é de US$ 1,5 bilhão a mais do que há dez anos e, em 2024, a ajuda oficial ao desenvolvimento caiu pela primeira vez nos últimos seis anos, com previsão de nova queda de 20% para 2025. Num mundo com mais conflitos bélicos e novas tensões e discursos geopolíticos, os recursos estão sendo desviados para orçamentos militares e de segurança. É grande o impacto no corte de verbas para ajuda humanitária e a agências da ONU pelos Estados Unidos, desde que Donald Trump voltou à Presidência do país, que representava até o ano passado 42% do total de doações. No documento de Sevilha, a comunidade internacional assume compromissos para criar novos mecanismos de mobilização de ajuda ao desenvolvimento, de aplicação dos investimentos e de gestão das dívidas soberanas dos países mais vulneráveis ou em vias de desenvolvimento, reconhecida como um dos grandes obstáculos para o desenvolvimento sustentável. Enfatiza também que só o reforço do multilateralismo pode responder à necessidade urgente de erradicação da pobreza e enfrentar os impactos das alterações climáticas. O documento deverá ser complementado com anúncios unilaterais de diversos países durante a conferência e de ações mais concretas a serem desenvolvidas no âmbito da "Plataforma de Sevilha para a ação", que será apresentada ainda hoje. As organizações não governamentais (ONG) denunciam que o "Compromisso de Sevilha" ficou aquém das expectativas iniciais, com muitas reivindicações dos países em desenvolvimento e mais vulneráveis ficando fora do texto final. A ONU e os Estados-membros consideram que foram lançadas as bases para haver mudanças e realçam que foi obtido acordo num contexto geopolítico mais complicado do que há dez anos e marcado por tensões no multilateralismo. Relacionadas ONU reduz ajuda humanitária após corte internacional de financiamento Na Cúpula do G7, Lula defende a volta do protagonismo da ONU