A terceira temporada da série "Sob Pressão", que estreou em maio na TV aberta, é eletrizante desde o primeiro episódio. E esta já é uma das séries de maior audiência na grade da Globo, uma pena que esteja em sua última etapa. Ninguém sabe explicar o porquê. "É uma decisão da emissora", explicou o diretor-geral Andrucha Waddington. E o ator Júlio Andrade: "A gente prefere acreditar que, no futuro, a atração voltará. É muito forte, e tem um impacto muito grande sobre o público. Já ouvi de muito jovem que quis fazer medicina por causa do dr. Evandro, da dra. Carolina". São os personagens de Marjorie e Júlio.
Do macro ao micro, logo no primeiro episódio, a história mostra o estado do Brasil e apresenta uma radiografia do sistema de saúde visto pelo ângulo de quem não tem recursos. No livro que inspirou a série - "Sob Pressão" -,
o dr. Márcio Maranhão, em depoimento à jornalista e coautora Karla Monteiro, narra a rotina de guerra de um médico brasileiro no Sistema Único. Dr. Maranhão não se vexa de revelar a cruel piada dos próprios médicos nos corredores de hospitais mal equipados e lotados - SUS é a sigla para 'seu último suspiro'.
Andrucha define a série criada por Jorge Furtado - "Esse movimento do macro ao micro está presente desde a primeira temporada, é a marca da série. Estamos abordando de um novo ângulo os problemas que são os de sempre no sistema de saúde. Falta tudo - equipe, remuneração, material. E também falta participação do Estado num serviço público fundamental". Para Lucas Paraízo, é triste constatar que a Constituição de 1988 defende o direito à saúde, à educação, ao emprego, e não está sendo cumprida. "É só ir a um hospital público, qualquer um, para constatar o abandono." E Andrucha -
"Em especial, nessa terceira temporada existe uma pergunta que nos fazemos o tempo todo -
quanto custa salvar uma vida?"
Toda a equipe se orgulha muito do trabalho porque reconhece que "Sob Pressão" alcançou essa síntese difícil que é a informação com o entretenimento. "O que a gente mais percebe nas ruas, nas pessoas que aproximam para falar e comentar a série, é uma coisa de identificação. Todo mundo viveu uma situação parecida, ou conhece quem viveu, então fica muito próximo das pessoas, muito real para elas", diz Marjorie. E Júlio - "Eu acho que as pessoas estão conseguindo ver o lado dos médicos. Eles são vilanizados, como se a falência do sistema de saúde fosse culpa dos médicos. Mas eles estão ali muitas vezes desesperados por não poder ajudar. Dr. Maranhão, que foi nosso guia, reflete muito sobre esse drama dos médicos. O que as pessoas estão descobrindo é que estão do mesmo lado, que os médicos não têm respaldo."