Aos 25 anos, a mogiana Gabrielle Candida da Fonseca Jerônimo atravessa um momento difícil: pela segunda vez, ela foi diagnosticada com linfoma de Hodgkin — um tipo de câncer originado no sistema linfático. A jovem criou uma vaquinha online para custear o tratamento — que não é oferecido na rede pública de saúde — e a ação judicial para solicitar o pembrolizumabe, medicamento de alto custo negado pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O médico hematologista Gustavo Affonso Horta de Oliveira alerta que a doença é mais comum entre 20 e 35 anos e após os 65.
A moradora de Biritiba Ussu recebeu o diagnóstico da doença pela primeira vez em 2016 e, no ano seguinte, ela conta que houve remissão. Contudo, oito anos depois, no início de 2024, o surgimento de fortes dores na coluna lombar e de nódulos na virilha levou a um exame que indicou o possível retorno (recidiva) do câncer. Segundo a mogiana, em razão da demora no agendamento dos exames e da biópsia, a confirmação do diagnóstico veio somente em outubro. "Além de dores, eu ainda tive que passar pelo processo de aceitar que a doença voltou”, relembrou a jovem.
Após receber a notícia, Gabrielle rapidamente deu início às sessões de quimioterapia. No entanto, ao concluir os primeiros ciclos do tratamento, um novo exame revelou que a doença não respondeu positivamente e que seria necessário iniciar o uso de pembrolizumabe, medicamento que faz parte do tratamento pré-transplante autólogo de medula óssea — quando as células-tronco de medula óssea do próprio paciente são coletadas, armazenadas e posteriormente, reintrotuzidas.
Com a negativa do SUS, a jovem busca arrecadar R$ 30 mil, que pagarão os custos do processo judicial para solicitar o fornecimento do medicamento, além de cobrir outros gastos, como consultas e exames particulares e outros remédios. As doações podem ser feitas através deste link. Para a mogiana, conseguir o pembrolizumabe simboliza a esperança da cura.
Apesar das adversidades que enfrenta, Gabrielle afirma ter encontrado forças no apoio que tem recebido. “Agradeço a todas as pessoas que tem me dado apoio, principalmente emocional, até mesmo pessoas do bairro que eu não esperava”, declarou.
Linfoma de Hodgkin
Gustavo Affonso Horta de Oliveira, que é especialista em tratamento de anemias e tumores do sangue e atua no Centro Oncológico Mogi das Cruzes (COMC), explica que o linfoma de Hodgkin é um tumor maligno que acomete o sangue e se manifesta através de ínguas (linfonodos) em partes do corpo como pescoço, axilas, virilha. Segundo o médico hematologista, entre os principais sintomas, estão a coceira no corpo, febre, perda de peso e suor noturno. Gabrielle apresenta alguns desses sintomas, além de dores.
O especialista destaca que essa forma de câncer — que ele avalia como sendo relativamente comum— aparece principalmente em pessoas com idade entre 20 e 35 anos e após os 65. Além disso, pessoas com doenças como HIV, lúpus, artrite reumatoide e síndrome de Sjögren (doença autoimune), por exemplo, e que já fizeram quimioterapia ou radioterapia no passado também estão mais propensas à doença. Oliveira alerta ainda que, embora o linfoma de Hodgkin não seja genético e não tenha fatores de risco específicos, o histórico deste ou outros tumores na família pode aumentar as chances de ter a doença.
Diagnóstico e tratamento
Gustavo esclarece que, quando tratado adequadamente, o linfoma de Hodgkin tem grandes chances de cura. O diagnóstico é feito por meio de biópsia dos linfonodos e, caso o linfoma seja constatado, o próximo passo, segundo ele, é identificar se está concentrado em uma parte específica do corpo ou espalhado. Se o tumor estiver localizado, o tratamento inicial geralmente é feito através de quimioterapia que dura de 4 a 6 meses e, em alguns casos, é necessária a intervenção com a radioterapia. De acordo com o especialista, caso não haja melhora após o tratamento inicial, é necessário fazer o transplante autólogo.
A respeito do pembrolizumabe, Oliveira explica que o medicamento é utilizado nos casos em que a doença volta após um período de remissão ou não responde ao tratamento inicial. "Ele age diretamente nas células dos linfomas, diferentemente do tratamento convencional que temos no SUS. É um tratamento bem específico com ação importante para tentar curar ou melhorar a doença para o paciente conseguir fazer o transplante autólogo de medula óssea”, finalizou.
*Texto supervisionado pelo editor.