A moradora de Mogi das Cruzes, Karina Camenforti, de 38 anos, criou com a esposa Paloma Gomes uma vaquinha online para arrecadar R$ 25 mil e custear uma cirurgia contra um colesteatoma — pequeno tumor benigno que cresce dentro do canal auditivo e que pode resultar em diversas complicações. Com quadro identificado de forma tardia, ela, que é atendente autônoma, espera há três anos pela cirurgia no Sistema Único de Saúde (SUS). O caso serve de alerta, segundo o otorrinolaringologista Dr. Fernando Balsalobre, sobre os sinais desde a infância.
“A vaquinha é para não depender da fila do SUS. Os médicos informaram que se isso estourar o meu tímpano, corro risco de vida”, explicou Karina, que reforça que qualquer apoio é bem-vindo. Segundo ela, o valor arrecadado será usado para realizar o procedimento de forma particular. O link para colaborar é: vakinha.com.br/vaquinha/ajudar-minha-esposa-colesteatoma.
A atendente conta que já nasceu com um problema de infecção no ouvido. "Com os anos, fui passando por vários médicos, mas nenhum identificava a causa. Diziam que era normal, e acabei me acostumando”, relembra. Em diferentes fases da vida, ela diz que passou por complicações e viu a audição se deteriorar.
A situação piorou durante a pandemia de Covid-19. Com o uso das máscaras faciais, Karina percebeu que não conseguia acompanhar as conversas. “Foi quando percebi que estava praticamente surda. Comprei um aparelho auditivo, mas ele piorou a infecção e começou a sair sangue”, conta.
Após exames e uma tomografia, veio o diagnóstico: colesteatoma, causado por uma infecção antiga no osso do ouvido. “Se os médicos tivessem descoberto antes, isso poderia ter sido evitado. Mas agora, se essa infecção avançar, pode ir para o cérebro”, relata. Ela destaca ainda que o tratamento precisa ser ágil, inclusive para prevenir outras complicações, como o aumento do risco de doenças como Alzheimer.
Depois do diagnóstico, Karina esteve na fila de cirurgia em Santa Catarina, onde morava, e depois no Rio Grande do Sul, onde chegou a ser classificada como caso urgente. Ainda assim, não foi chamada. “Entrei como urgência e nunca saí do número 473. A fila simplesmente não anda”, lamenta.
Há cinco meses, ela se mudou para Mogi das Cruzes na tentativa de conseguir atendimento com médicos do Estado de São Paulo. Em março, ela diz que passou por atendimento na Unidade Básica de Saúde (UBS) Vila Natal e segue aguardando encaminhamento para um especialista em São Paulo. A ideia da criação do financiamento colaborativo online veio da esposa. "Foi uma forma dela mostrar carinho e veio após momento de muita preocupação", explica Karina.
Especialista explica
Dr. Fernando Balsalobre, otorrinolaringologista formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e membro da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL-CCF), explica que o colesteatoma é uma consequência de problemas que costumam começar na infância, ligados a infecções. “O que acende o alerta é o paciente que precisa ir no médico a cada dois meses por infecção. O ouvido dessa criança vaza o tempo todo e não está tendo um desenvolvimento bom de linguagem e tem dificuldade de escutar, pode não estar indo bem na escola por isso, ou ter queixas de dor”, destacou.
Ele esclarece que uma disfunção como de Karina pode surgir quando a criança tem um desenvolvimento inadequado do ouvido, muitas vezes devido ao aumento das adenoides, que bloqueiam a passagem entre o ouvido e o nariz. o que gera infecções frequentes e prejudica o desenvolvimento do osso chamado mastoide, que depende do funcionamento dessa passagem para crescer adequadamente. "Ao longo do tempo a membrana do tímpano começa a ficar chupada para dentro e forma-se o colesteatoma", explica.
O colesteatoma, conforme Balsalobre, geralmente é consequência de problemas que poderiam ser evitados na infância, por meio de cuidados que melhoram a respiração e a ventilação. Também citando o exemplo de Karina, ele conta que qualquer pessoa com algum grau de perda auditiva, mesmo que leve, desenvolve a chamada leitura orofacial — um recurso visual para compreender a fala. "Por vezes essa pessoa nem percebe até um momento como a pandemia, com todo mundo usando máscara, e acaba perdendo essa vista que te ajuda na comunicação", comenta.
Sobre o colesteatoma, ele destaca que se trata de um tumor benigno formado por tecido epitelial morto que vai destruindo o ouvido por dentro. "Ele começa a destruir os ossinhos do ouvido, tem uma alteração da propagação do estilo sonoro e começa a ter perda auditiva", explica o especialista, ressaltando que trata-se de uma condição relativamente comum, e, salvo contra-indicações, o tratamento é cirúrgico, já que ele precisa ser retirado. As complicações graves que podem ocorrer com o tumor, segundo o especialista, são paralisia facial e perda auditiva total, que, embora improváveis, têm risco aumentado em comparação à população geral.
Ao notar algum desses sinais, ele recomenda que pais procurem o otorrinolaringologista para uma avaliação.