Na última sexta-feira, dia 10 de maio, foi comemorado o Dia Mundial do Lúpus, uma data criada para dar visibilidade a doença e conscientizar sobre seus sintomas e sinais, como explica o reumatologista Marco Antônio Araújo da Rocha Loures, presidente da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR).

“O lúpus é um mimetizador, isso quer dizer que ele pode parecer no seu início com várias patologias, como doenças outras reumáticas, inflamatórias, crônicas autoimunes e também doenças infecciosas, então a gente tem que fazer um diagnóstico diferencial e quando nós fazemos um trabalho de conscientização como esse, a gente chama atenção para as pessoas para sintomas do lúpus eritematoso sistêmico”, destaca o reumatologista. 

Ele explica que o lúpus eritematoso sistêmico é uma doença inflamatória crônica, autoimune que precisa ser acompanhada com muito cuidado: “A defesa que deveria ser contra bactérias, vírus e fungos, com a doença, é contra proteínas das células do próprio organismo por alterações genéticas. Pelo não reconhecimento que essa imunidade tem para combater os agentes externos, ela é contra as células por uma desregulação, e logicamente que existem outros gatilhos que podem contribuir para a doença. Há uma incidência maior em mulheres do que nos homens, principalmente as mais jovens, mas podem ter também em crianças e recém-nascidos, e são vários tipos de lúpus”. 

O dr. Loures afirma que, embora, a doença seja uma predisposição da doença familiar, ela pode passar para outras gerações: “É só fazer um paralelo a diabetes. Se você tem uma mãe diabética, a possibilidade de você ter um filho diabético é grande, mas não é total. Você pode ter um filho só e ele não ser diabético. Pode ter cinco filhos, dois serem diabéticos e três não. Então é esta mais ou menos a proporção. Você pode ser lúpica e ter um filho que não é ou pode ter o filho sim com a mesma coisa, pode um ser e os outros não serem, pode passar para a geração seguinte”. 

Sintomas e sinais 

Entre os sintomas, o especialista lista a queda de cabelo; emagrecimento; falta de apetite; aftas; febre; alterações orgânicas, como a urina que pode ficar espumosa devido a eliminação de proteínas; e lesões cutâneas no rosto e no corpo, que devem ser diferenciadas de outras patologias. “Nós vamos juntando esses sintomas clínicos, mas a história da pessoa se tem alguém na família com a doença ou não, porque é genética”, explica dr. Loures sobre o diagnóstico. 

Gatilhos e tratamento 

Por ser de predisposição genética, o médico reumatologista diz que não é possível prevenir a doença, mas sim evitar sua piora: “Nós não podemos prever se a pessoa terá a doença, o que nós podemos é prevenir a piora ou a tratamos para ter uma baixa atividade ou não ter atividade da doença”. A recomendação é evitar o sol, o excesso de bebida alcoólica, o cigarro e destaque para a saúde emocional, uma vez que a depressão, ansiedade e problemas de sono podem ser gatilhos para piora da doença. O especialista também reforça a importância da alimentação, a prática de atividade física e seguir a orientação do médico, comparecendo regularmente nas consultas regularmente e tomando a medicação conforme a dosagem e o período indicados. 

O especialista ressalta que o tratamento sempre deve ser individualizado, e pode contar com corticosteróides, quando está no início e por ter uma ação mais rápida; antimetabólicos, que são usados para alguns cânceres por ter boas respostas no controle da imunidade, e os biológicos, feitos a partir de seres vivos e armanezados em geladeiras para que não se decomponham. 

No caso de corticoides, a indicação do dr. Loures é que se forem indicados sejam usados por pouco tempo, pois em altas doses têm efeitos colaterais muito graves, que podem ser, por exemplo, osteoporose, glaucoma, hipertensão arterial, diabetes secundário , entre outras. 

Paciente vive com a doença há mais de 20 anos 

Quando a recepcionista Estela Sanches de Oliveira, de 38 anos, recebeu o diagnóstico de lúpus, há aproximadamente 22 anos, a doença não era tão conhecida. Ela conta que o médico, quando informou o diagnóstico disse que a doença era tão grave que poderia ser comparada ao câncer, e que ela teria pouco tempo de vida. Mesmo hoje, ela afirma que muitas pessoas não sabem o que é o lúpus quando ela fala da doença. 

Sem casos em familiares próximos, Estela diz que seus principais sintomas foram a perda de peso, dores e inchaço nas articulações, lesões na pele, perda de apetite, queda de cabelo e enfraquecimento das unhas. Segundo ela, durante algum tempo, a doença foi tratada como reumatismo, até que um exame confirmou o diagnóstico de lúpus. 

Estela enfrenta dores nos momentos em que a doença está ativa. “Muitas vezes nem levanto da cama, minha autoestima fica lá embaixo. As dores são muito fortes e você vai até um Pronto Socorro e dão, de imediato, uma morfina, um tramal, mas logo em seguida a dor volta. Hoje em dia consigo lidar um pouco melhor, mas houve um tempo em que eu não conseguia segurar um copo, um prato. Agora, chegando o frio, as turbulências começam de novo”, comentou. 


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