Tradicional discrição japonesa no 44º Salão de Automóvel de Tóquio - aberto ao público até o próximo dia 8 - foi trocada por atitudes mais ousadas dos fabricantes locais e uma aposta no hidrogênio como alternativa às baterias dos carros elétricos. Na verdade, o governo do país incentiva fortemente essa tecnologia cuja principal vantagem é tempo de abastecimento (três a cinco minutos, contra horas de uma bateria), mas a infraestrutura, além de muito cara, precisa ser construída a partir do zero.
O Japão acredita muito também na direção autônoma. Estima-se que será o primeiro país a regulamentar seu uso em 2020, contando com a alta disciplina típica dessa sociedade. Assim, uma das atrações da exposição é o elétrico conceitual autônomo Nissan IDS, caracterizado pela versatilidade e um sistema de volante revolucionário com manche retrátil para se adequar aos desejos do motorista.
A Toyota pretende entregar 700 unidades do Mirai no mercado doméstico este ano, primeiro carro elétrico com pilha a hidrogênio vendido em série, e no salão apresentou uma evolução, FCV Plus, que no futuro permitirá ao próprio veículo gerar eletricidade com ajuda de fonte externa de hidrogênio. A quarta geração do híbrido Prius, bastante diferente da atual do estilo ao chassi, estará à venda no Japão em um mês. A marca já não esconde que poderá fabricá-lo em pequena escala no Brasil, com motor flex, como reflexo dos estímulos fiscais anunciados agora pelo governo federal.
Outro carro bem interessante da Toyota, o crossover conceitual compacto C-HR, tem linhas praticamente definitivas. Trata-se de um híbrido, mas em versão convencional reúne boas chances de produção aqui, principalmente por ser concorrente direto do Honda HR-V.
Por sua vez, a Honda apresentou o sedã médio-grande Clarity, elétrico também com pilha a hidrogênio (autonomia recorde de 700 quilômetros), pouco maior que o Mirai, disponível a partir do início de 2016. Mesmo com altos subsídios do governo, seu preço será o dobro de um Accord. Entre as tecnologias de segurança a fábrica mostrou um sistema capaz de desviar o carro de um pedestre distraído, quando não for o caso de precisar frear automaticamente para evitar o atropelamento.
Em evento à parte para jornalistas, a Honda demonstrou a forma evoluída de um carro autônomo no seu campo de provas de Tochigi. Em um circuito demarcado de cerca de 500 m com curvas de diferentes raios, um Accord adaptado se autoguiou com maestria, acelerando e freando fortemente, além de fazer tangências corretas. Cumpriu a tarefa sem o menor erro, ajudado por antenas em volta do circuito e mapa de bordo de altíssima precisão. Pormenor: o aspecto externo do carro não foi alterado, o que serviu para demonstrar o alto limite de interação com a via.
A participação de marcas ocidentais na exposição é modesta, apenas 13 europeias de cinco conglomerados. A Mercedes-Benz entrou no clima com seu conceito Vision Tokyo, espécie de perua de grandes dimensões, cujo interior foi pensado em função do melhor aproveitamento do tempo livre dos ocupantes, quando os carros se autoguiarem em um futuro não tão distante em estradas adaptadas para este fim.