Há quase uma década a Associação Nova Esperança (ANE), de Mogi das Cruzes, oferece treinamento e motivação para jovens meninas que desejam jogar futebol. Fundada em 2000 para atender meninos que sonhavam em jogar futebol, mas não tinham condições de pagar escolas particulares, em 2012, as meninas também foram incluídas. Desde então, a equipe feminina vem se destacando e conquistando resultados como o terceiro lugar no Campeonato Paulista Sub-17 de Futebol Feminino de 2021.
Rogério Davi dos Anjos, presidente da associação e técnico do time feminino, contou que a criação de um time feminino, em 2012, foi motivada por sua filha Andressa Anjos. Na época, ela tinha 12 anos e jogava com os meninos da Liga de Futebol de Mogi das Cruzes. “A Liga proibiu e ela teria que jogar no feminino, foi então que tive a ideia de iniciar uma equipe feminina”, destacou.
Um dos desafios iniciais do time feminino da ANE foi encontrar adversários. “Não tinha adversário em Mogi, então fomos para São Paulo enfrentando o Centro Olímpico e outros projetos com a modalidade de futebol feminino”. Entre os talentos descobertos pela ANE no futebol feminino, estão Andressa Anjos, que joga pelo Real Brasília; Miriã Santos, no Corinthians; Renata Larissa, com passagem pela Portuguesa; e Priscila Edite, que está na Macedônia pelo ZFK Ljuboten.
A ANE treina 60 atletas em duas categorias, sub-17 e idade livre, em núcleos no Jardim Camila, Quatinga e Jardim Layr, com ênfase nos projetos sociais esportivos Futebol Feminino da ANE e Sanção Premial. Esta segunda iniciativa é um projeto de lei complementar da cidade, que proporciona desconto no Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) aos clubes e entidades esportivas que compartilhem seus espaços com crianças e adolescentes carentes.
“Por meio do esporte se trabalha a questão dos valores de cidadania, ética, valores morais e valores humanos. Um dos nossos objetivos principais é ajudar o aluno na realização do sonho, incentivando e ajudando”, destacou Rogério.
Projeto realiza sonhos
O projeto é mantido por meio de ações da prefeitura, de doações de empresas, rifas, ajuda de amigos e ex-alunos. A Secretaria de Esporte e Lazer, de Mogi das Cruzes, auxilia o futebol feminino da ANE, de acordo com o técnico, oferecendo transporte, disponibilizando campos e espaços para prática esportiva, ajudando com os custos quando as atletas que jogam fora da cidade, e garantindo o direito do time feminino ao uso dos espaços. O A.A. Comercial Futebol Clube também ajuda o projeto cedendo espaços para o desenvolvimento de atividades.
Para Rogério, o maior desafio é o baixo número de times femininos e campeonatos, apesar de avanços no segmento. O técnico considera que não existem diferenças entre treinar um time masculino ou feminino: “As mulheres são dedicadas e podem jogar futebol normalmente, são fortes e apresentam um futebol de qualidade”.
Há cinco anos na ANE, Rafaela Rocha, 20 anos, disse que aprendeu muito com o projeto: “O aprendizado que ganhei foi incrível, não só no meu futebol, mas também na minha vida. É difícil achar uma definição para a sensação que é jogar bola e ser uma jogadora. O futebol ensina, salva e ajuda. Poder fazer parte e viver isso é incrível”.

“Minha paixão pelo futebol vem de bem pequena, desde criança sempre gostei de assistir”, relembrou a jogadora. “Me lembro que começou no dia que meu irmão me chamou para jogar bola pela primeira vez, depois disso nunca mais parei”. A jogadora hoje divide seu tempo entre o esporte, o curso de Engenharia Civil e o trabalho. “É muito difícil conciliar tudo, mas as responsabilidades chamam”.
A esportista admitiu que existe um impacto no desempenho, mas entende que é a única forma de continuar no esporte. “Não só eu, muitas meninas gostariam de viver só do futebol. Mas não têm o incentivo que precisam, por isso acabam tendo que procurar outros meios para se manter”. Outro desafio é o preconceito, mas ela considera que a situação está melhorando e se mantém otimista. “Temos que seguir em frente mostrando que o nosso lugar é jogando bola também. E conquistando aos poucos pessoas para apreciar o nosso futebol”.
Vivendo de futebol
Andressa Anjos, 22, volante do Real Brasília, filha do treinador Rogério, começou a atuar na ANE antes mesmo da criação do time feminino, jogando com meninos e contra eles. “Antes da criação do feminino, me sentia bem e até gostava de disputar com os meninos. Não tive nenhum episódio de preconceito, mas as pessoas normalmente desacreditavam", relembrou.
Para ela, a experiência adquirida na Associação e no time feminino abriu portas e a fez acreditar na realização dos próprios sonhos. A jogadora acredita que o principal desafio para o futebol feminino é a falta de reconhecimento: “O maior desafio é ser reconhecida pela sua qualidade profissional, ser valorizada e levada com mais credibilidade”.

Andressa avaliou como positiva a inserção da mulher no esporte, que, segundo ela, deve procurar espaços diferentes para atuar. “Hoje é possível viver do futebol feminino, seja jogando, na gestão ou na divulgação". O conselho dela para outras jogadoras é ignorar pessoas que tentem desmerecer seus objetivos: “Em qualquer situação em que alguém tentar apagar a luz do seu sonho, você continua e faz com excelência e, sem dizer nada, vai mostrar que aquilo que você disse é real e possível”.