Eu não tenho nada contra os coaches, tenho vários amigos que são profissionais dessa área, porém é inegável que desde quando essa metodologia se expandiu no Brasil, ela caiu em desgosto pela atuação de especialistas desqualificados ou com má fé. Lembro-me de um fato ocorrido em 2023, quando Lívian Aragão, filha de Renato Aragão, ator e comediante, viralizou nas redes sociais citando que: “todas as pessoas têm 24 horas por dia”, uma associação sobre o tempo com a oportunidade individual, que repercutiu negativamente.
E nesse nível de conceitos isolados, também surgiram os coaches da favela, que alinham mensagens emotivas com uma realidade ilusória. Em geral, esses “profissionais” têm autonomia e lugar de fala por ter nascido, crescido e vivenciado a estrutura urbana irregular, tem conhecimento de causa, e muitas vezes, até nobres, porém, sem resultado efetivo no que se trata de mudança social.
Eu, particularmente, não sou e não tenho interesse em ser o profeta apocalíptico da mazela social, porém, entre ter uma perspectiva utópica emocional e realista-pessimista, fico com essa última, e explico. Virou tendência no Brasil terceirizar políticas públicas, principalmente nos espaços de vulnerabilidade social, sendo na atualidade um nicho de mercado direcionado mais para o financeiro do que comunitário. Mesmo o terceiro setor fazendo o que governos não fazem nesse segmento, apesar de ajudar, não resolve.
E o motivo? O Governo Brasileiro, independente da gestão, precisa reconhecer a sua ausência histórica para com essa população e devolver cidadania, algo que não envolva pintar barracos ou dar “predinhos populares”, mas sim, estrutura urbanística de qualidade e sustentável, com educação financeira e planejamento de pagamento de impostos de longo prazo para os seus moradores. É possível e necessário acabar com a favela no Brasil, mas enquanto não formos honesto sobre a mudança social desses espaços, estaremos tratando patologias sem entrar na real causa.
Marcelo Barbosa é jornalista, pedagogo e psicanalista. Autor da trilogia “Favela no divã” e “A vida de cão do Requis”.