Toda a vez que se discute a questão dos gastos no Brasil, setores da sociedade que gozam de simpatia demais dos meios de comunicação, buscam eleger como problema, os chamados gastos sociais.
E o que são esses gastos sociais? Gastos sociais são despesas públicas relacionadas com a área social, como educação, saúde, previdência social, assistência social, entre outros. Ou seja, são recursos destinados à correção das distorções causadas por um sistema econômico que não tem compromisso com a justiça social.
Se não, vejamos. Em 2004, o Brasil gastou R$ 5,35 bilhões com transferência de renda para os pobres. São políticas que buscam dar ou complementar renda das populações mais vulneráveis.
Para termos de comparação, no mesmo período o Brasil pagou R$ 950,4 bilhões em juros da dívida pública, o que corresponde a 8,05% do PIB. Isso muito em função de um presidente do Banco Central que teimou em manter uma escalada dos juros, que mesmo assim não foi capaz de inibir o animador crescimento econômico registrado nos dois últimos anos. Um crescimento próximo aos 7% do PIB, sendo que em 2024 o Brasil registrou um dos sete maiores crescimento econômico entre as maiores economias do mundo.
Enquanto os gastos sociais servem para garantir um mínimo de dignidade aos mais necessitados, os juros da dívida abastecem os cofres já abarrotados de especuladores que não produzem nada. Afinal estamos falando de um país onde 63% da riqueza está nas mãos de apenas 1% da população.
Mas não é só isso. A previdência social, que volta e meia ganha espaço no noticiário como grande consumidora do orçamento da união, tem algumas concorrências importantes.
Segundo o economista sênior do BTG Pactual, Fabio Serrano, uma das instituições que previa um crescimento econômico de 1,2% do PIB para 2024, calculou os gastos da Previdência na ordem de R$ 1,02 trilhão. Esse dado tem sido questionado pelo governo. Mas vamos considerar ser verdadeiro. Vocês sabem qual é a estimativa da sonegação praticada por aqueles que estão no curto andar de cima. Algo em torno de R$ 600 bilhões por ano.
Sem contar que temos outras aberrações. No judiciário, a tal da aposentadoria compulsória para aquele que é pego cometendo falhas graves. Ele é aposentado e segue recebendo sua polpuda remuneração, que aliás tem sido objeto de inúmeras denúncias sobre seus generosos penduricalhos. O mesmo ocorre com os soldos e pensão pagos para militares e familiares. As filhas de militares não se casam no civil para manter suas polpudas pensões.
Dá para dormir com um barulho desse?
Afonso Pola (afonsopola@uol.com.br) é sociólogo e professor