Em 15/02/2005, Severino Cavalcanti (PP-PE), um deputado do baixo clero, era eleito presidente da Câmara dos Deputados, com 300 votos entre os 498 deputados presentes naquela sessão. Ele construiu sua candidatura com a promessa de elevar salários e de melhorar as condições de atuação dos colegas congressistas, derrotando o candidato do governo, o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP).

Ainda naquele ano, no mês de setembro, Severino se viu obrigado a renunciar ao cargo e ao mandato parlamentar, para evitar um processo por quebra de decoro, que poderia levar à cassação e à perda de direitos políticos, acusado que foi de cobrar propina mensal de um empresário para a operação de um restaurante na Câmara. As cobranças ocorreram quando ele ainda ocupava o cargo de primeiro-secretário da Casa.

Pensava eu naquele momento, que a falta de compostura de um parlamentar havia atingido seu limite, que o fundo do poço estava no Severino. Ele foi uma vergonha absoluta, tendo sido eleito presidente com o voto de 300 outros deputados.

A presidência da Câmara voltou a chamar muito atenção em 2015, quando o eleito foi o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Carregando consigo uma série de suspeitas de atos de corrupção, Cunha mostrou que Severino não foi o pior mal na presidência da Câmara. 

Eduardo Cunha foi afastado da presidência em 5 de maio de 2016 por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que também suspendeu o seu mandato. Em 7 de julho ele renunciou à presidência da Câmara. Sua atuação na presidência da casa foi marcada pelo seu envolvimento em casos de corrupção, além de ter usado seu poder político para promover o impeachment de Dilma Rousseff. Em outubro do mesmo ano ele foi preso em Brasília condenado por improbidade administrativa.

Mais uma vez, tive a impressão de que tínhamos atingido o fundo do poço. Outro engano, pois aí veio o Arthur Lira (PP-AL). Seu mandato tem se caracterizado por coordenar ações da Câmara ostensivas contra o governo.

Assim como o Eduardo Cunha se movia para criar dificuldades ao governo Dilma, Arthur Lira se move criando dificuldades ao governo Lula. Nunca as comissões parlamentares tiveram composições tão esdrúxulas, dirigidas por expoentes da extrema direita. Nunca as bancadas evangélica, da bala, do agro tiveram tanto respaldo da presidência da Casa como agora.

E hoje, somos surpreendidos com uma notícia bizarra. Dos 20 deputados indicados por Arthur Lira, para compor o GT (Grupo de Trabalho) que vai debater um projeto de lei para combater fake news, dez já postaram ou compartilharam informações falsas nas redes sociais e dois tiveram os perfis bloqueados.

Ou seja, parece que esse raio de poço não tem mesmo fundo. 

 

Afonso Pola (afonsopola@uol.com.br) é sociólogo e professor