Um dos maiores dramaturgos do teatro do absurdo, Eugène Ionesco, ridicularizava as situações mais banais, suas peças mostram de uma forma tangível a solidão do ser humano e a insignificância da sua existência. Deixou escrito: "Pensar contra o nosso tempo é um ato de heroísmo. Mas dizê-lo é um ato de loucura". Há mais loucura naquilo que se relata do que em quem ousa dizê-lo. Dando continuidade ao estudo das seis características do mundo pós-moderno em que já citamos as duas primeiras, a desconstrução da verdade e a morte da metanarrativa: 3.- A morte do texto: Se a metanarrativa está morta, então os grandes textos que ela contém também estão mortos. Na concepção pós-moderna é um erro atribuir qualquer significado a um texto ou mesmo ao autor do texto; é o leitor quem estabelece o significado.
O filósofo Jacques Derrida foi um importante desconstrucionista literário que decretou a "morte do autor e do texto" para que tivesse a liberdade de interpretá-los sem nenhuma opressão. Este novo método hermenêutico coloca todos os grandes autores sub judice do leitor. A Bíblia, verdade revelada e não construída, têm, também, seus textos reinterpretados se considerados desagradáveis à mente pós-moderna, rejeitados como opressivos, patriarcais, heterossexistas, homofóbicos ou deformados por tendência política ou ideológica. Atribuída, com dúvida, a Dostoiévski essa frase: "Se Deus está morto, tudo é permitido"; serve bem para afiançar a vontade bem ateísta dos pós-modernistas de pensar e de realizar o que desejam, sem haver culpa.
Um rapaz afirmava ser cristão, professava a fé na doutrina bíblica e na salvação pela morte de Cristo na cruz, mas acreditava também na reencarnação. Seu pastor citou-lhe o trecho de Hebreus 9:27: "Aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo, depois disto, o juízo". O jovem se sentiu pressionado em sua crença, e respondeu: "Bem, essa é a sua interpretação". Na mentalidade pós-moderna a verdade é a interpretação que cada um faz do texto.
Mauro Jordão é médico.