Uma mulher foi morta a tiros no início da manhã de ontem na frente do Fórum de São José da Tapera, no sertão alagoano, instantes após gravar um vídeo afirmando que seu marido iria matá-la. É uma cena que se repete cotidianamente por todo esse nosso país. É impressionante como o número desse tipo de violência no Brasil acontece e vem aumentando.
No primeiro semestre do ano passado, em média, quatro mulheres foram vítimas de feminicídios, por dia.
A todo momento nos deparamos com notícias na televisão, rádio, ou jornal sobre crimes ou tentativas de crimes de ex-maridos, ex-namorados, ex-companheiros que, ao não aceitarem o final da relação, passam a assediar, atormentar e importunar a vida da mulher.
No caso dessa mulher, a dor é ainda maior. Ela deixou claro em mensagem no celular o que iria acontecer. A lógica que rege esse conjunto de cena bizarra, é a mesma que acalanta uma série de outras ações. Mais ou menos drásticas, mas com potencial de violências absurdas.
A deputada Sâmia Bonfim tem denunciado a forma como é tratada por seus pares na Câmara dos Deputados. "Vagabunda, assassina, terrorista, bandida e louca", são alguns dos termos depreciativos, segundo a deputada. No entanto, por mais que isso seja ultrajante do ponto de vista da relação entre iguais, todas as denúncias estão congeladas na gaveta do presidente da Câmara.
No entanto, Sâmia e outras cinco deputadas do Psol e do PT respondem a processo por quebra de decoro parlamentar no Conselho de Ética. Motivo: chamaram de "assassinos" deputados que apoiaram a aprovação do projeto do marco temporal das demarcações de terras indígenas na Câmara, no último dia 30. Ou seja, a questão do feminicídio não está só ligada aos casos de violência entre casais. É algo bem mais arraigado em nossa temerária cultura. Não podemos mais nos aquietar diante de tantas notícias de agressões contra mulheres como as que estamos vivenciando atualmente.
E é preciso que nos superemos aquele dito infeliz. "em briga de marido e mulher o melhor é não meter a colher. Devemos meter a colher sim.
Afonso Pola é sociólogo e professor.