O processo de globalização vivido pela humanidade, não significa o fim do local, enquanto realidade social. Pelo contrário, a análise da modernidade deve ter presente e destacar a natureza dialética da globalização, enquanto processo assente na interação do global e do local. O que a globalização significa de fato é uma forte e intensa conexão do local e do global, associada a um conjunto profundo de transmutações da vida cotidiana, que afetam as práticas sociais e os comportamentos.

Se tomarmos como referência a perspectiva culturalista da globalização, seria um erro pensar que a globalização significa um processo destruidor da ideia de local ou de localidade. O conceito de globalização nos coloca diante da ideia de uma forte e intensa conexão do local e do global, associada ao processo de profundas mudanças nas práticas sociais.

Nesse sentido, o surgimento de conceitos como "glocal" e "glocalização" indica que devemos dar atenção ao grau de complexidade da relação local-global, num cenário constituído principalmente pela mundialização da economia e a revolução do digital. O termo "glocal" é um neologismo que aparece no âmbito da cultura tecnológica, primeiro no Japão e depois na Europa, e em seguida se tornando objeto de estudo em importantes universidades.

Os países apresentam cada vez mais uma relação de interdependência por causa da globalização da economia, enquanto o desenvolvimento da tecnologia digital permite a comunicação entre pessoas de qualquer parte do planeta em tempo real, produzindo um importante impacto no comportamento.

A contribuição local para o desenvolvimento sustentável mundial é cada vez mais importante. A tendência é que o processo de mudanças climáticas em curso produza fenômenos que atinjam pessoas em diferentes locais do mundo com intensidade cada vez maior. A combinação de ações locais com ações globais é fundamental. Quanto mais habitantes e mais cidades estiverem envolvidos nas ações de preservação, maiores são as chances de êxito.

Afonso Pola é sociólogo e professor.