Existe um negacionismo de plantão que reúne determinados segmentos sociais no Brasil e no mundo e que não tem por hábito negar apenas a ciência e o formato do nosso planeta. Esses negacionistas também negam que existe um processo de aquecimento global em curso, decorrente da ação humana sobre a natureza. O modelo de desenvolvimento econômico que tanto caracterizou o século 20, trouxe graves consequências e a fatura está sendo cobrada.

O debate sobre o aquecimento global e o que precisa ser feito para entregarmos um mundo habitável para as futuras gerações ganha cada vez mais importância.

Uma pesquisa realizada pelo Climate Central, uma organização sem fins lucrativos, em parceria com a Universidade Princeton, ambas nos Estados Unidos, e o Instituto Potsdam de Pesquisa de Impacto do Clima, na Alemanha, foi guiada pela seguinte pergunta: Como o aumento da temperatura global e a elevação do nível do mar vai afetar na prática diferentes regiões do planeta?

Essa pesquisa identificou lugares que podem sofrer graves inundações, caso as políticas para combater as mudanças climáticas não sejam colocadas em prática. De acordo com esse estudo, centenas de áreas costeiras, que abrigam atualmente mais de 1 bilhão de pessoas, estão sob risco. Para que o aumento fique em 1,5°C, precisaríamos ir diminuindo gradativamente a emissão de gases do efeito estufa, até alcançarmos zero emissões em 2050. No entanto, caso as emissões se mantenham no ritmo atual, a elevação será de 3°C em algumas décadas.

No caso do Brasil, pelo tamanho do nosso litoral, várias cidades seriam atingidas. Salvador, por exemplo, com o aumento de 1,5°C faria o mar avançar sobre parte do centro e outros bairros da Cidade Baixa. Seis locais que, de acordo com o estudo, serão engolidos pelo oceano nas próximas décadas: Ilhas Maldivas, território de Seychelles no Oceano Índico, Veneza, Península de Yucatán no México, as ilhas de Tuvalu na Oceania e Santa Catarina. Ou seja, apenas não piorar é insuficiente para entregar um mundo melhor para as próximas gerações.

Afonso Pola é sociólogo e professor.