Na Copa de 1958, o técnico brasileiro Vicente Feola, antes do jogo do Brasil com a antiga União Soviética, reuniu os jogadores para combinar a estratégia da partida: Nilton Santos, Zito e Didi seriam meios de campo com Vavá jogando do lado esquerdo. Durante o jogo, a bola caindo nos pés de Garrincha; este, driblando com facilidade a marcação dos adversários, lançaria a bola para Mazzola que faria o gol. Garrincha, despreocupado, tendo no rosto aquela aparente inocência, após a narrativa imaginária do Feola, perguntou: "Mas o senhor já combinou, também, tudo isso com os russos?"
Quando se busca realizar com obsessão os sonhos, não se leva em conta os difíceis obstáculos que se levantam à frente. No meio da batalha a falta de pessoas ou coisas esquecidas nos impede de atingir o ideal. O erro imperdoável é menosprezar a capacidade de luta dos nossos adversários. O fantasioso caminho asfaltado da vida para quase todos é uma estrada esburacada.
A pergunta que seria mais oportuna do que indiscreta para o Tite, lá na Rússia: "Você já combinou com os russos?" O sociólogo Mauricio Murad, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, nos dá respostas como: Porque do futebol é um fenômeno mundial tão apaixonante? Há três características: 1) Poucas regras claras e simples que dificilmente mudam; 2) É um esporte barato, que exige poucos e simples equipamentos para ser praticado, e não custa nada para se organizar uma pelada de rua; 3) É a modalidade mais imprevisível, onde o fraco pode vencer o forte com mais frequência, e assim imita a vida como ela é.
Qual a importância desta Copa para o Brasil, considerando o momento político e econômico? Apesar da trágica corrupção dos governos, dos empresários, da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), o futebol como arte e cultura popular pode mostrar sua marca vencedora - a mesma marca histórica e cultural que está na base da capoeira, do samba, do frevo, do Carnaval e de outras festas e celebrações populares, símbolos do país.