Nunca é demais lembrar que eu escrevo meus artigos nas tardes de segunda-feira. Portanto, estou escrevendo ainda embalado pela ressaca de um longo domingo de votação na Câmara dos Deputados, acompanhando e analisando tudo lá dos estúdios da Rádio Metropolitana de Mogi.
Para além do resultado, até porque ele apenas representa a admissibilidade da denúncia contra a presidente Dilma e encaminhamento da mesma para a Câmara Alta, a impressão que eu tenho é que muitos, dos dois lados, acordaram com um gosto amargo de fel. 
Foi um espetáculo deplorável. Durante horas assistimos ao desfile de homens e mulheres, todos - com justiça ou não - imbuídos da imensa responsabilidade de representar os vários milhões de eleitores espalhados pelo imenso Brasil, justificando seus votos por motivos absolutamente estranhos àqueles que deram fundamentação ao pedido de impeachment e que deveriam orientar o voto de cada um.
"Em nome de Deus", "em nome dos filhos", "em nome dos meus pais", foram os "hits" mais tocados pelos "nossos nobres parlamentares". Tivemos até uma indecente homenagem ao coronel Ustra, um dos mais cruéis torturadores da ditadura militar brasileira, prestada pelo deputado Bolsonaro. A casa legislativa que foi fechada pela sanguinária ditadura militar, servindo como espaço para o enaltecimento de um dos seus algozes é algo muito dolorido.
Nesta segunda-feira, por aquilo que podemos chamar de dose extrema de ironia, a Polícia Federal prendeu o prefeito de Montes Claros, cidade do interior de Minas Gerais, na operação Máscara da Sanidade II Sabotadores da Saúde, que investiga fraudes para favorecer hospitais privados ligados ao prefeito. Sua esposa, a deputada Raquel Muniz (PSB-MG), votou pelo "sim" ao processo de impeachment da presidente dizendo: "Meu voto é para dizer que o Brasil tem jeito; o prefeito de Montes Claros mostra isso para todos nós com sua gestão". Perfeita armadilha do destino.
Gostaria muito de acreditar que toda essa instabilidade e seus consequentes sacrifícios, sugeridos pela profunda crise que acomete o Brasil, trariam como resultado um país melhor. Infelizmente, sou cético em relação a isso, pois nem um roteiro de filme de horror seria tão caprichado.