O ministro-chefe da Casa Civil, Jaques Wagner, disse ontem que a presidenta Dilma Rousseff (PT) está preocupada e recebeu com indignação a notícia de que o senador Delcídio do Amaral (PT-MS) teria firmado um acordo de delação premiada em que teria declarado que a presidente e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tinham conhecimento do esquema de corrupção na Petrobras. A notícia foi publicada em reportagem da revista Isto É.
"Ela [presidenta Dilma] está preocupada, porque eu acho que é uma coisa totalmente fora de qualquer padrão, uma delação que eu não sei se foi, pelo que sei não foi homologada, que envolve ministros e principalmente a figura da presidenta da República", disse Jaques Wagner a jornalistas, após evento no Palácio do Planalto.
Segundo o ministro, Dilma recebeu a notícia "com a mesma indignação" que ele "ou talvez mais", já que "envolve diretamente o nome dela". Para Jaques Wagner, se o senador fechou acordo, as declarações deveriam ser mantidas em sigilo. Cabe à Procuradoria-Geral da República e ao Supremo Tribunal Federal (STF) investigar se houve vazamento, o que considerou "gravíssimo" e "intolerável".
"Se ela [delação premiada] deveria estar protegida por sigilo, estou entendendo que a delação perdeu o seu valor de fato, do ponto de vista do processo judicial, e virou o que tem virado muitas vezes: a execração pública para depois alguém provar que algo está diferente", disse o ministro.
Segundo ele, é "intolerável" num Estado democrático de Direito haver o linchamento público de uma pessoa para depois se dizer se realmente foi válido. "Quem fez o vazamento? Alguém vai apurar? Ou fica pelas calendas isso? Isso é um crime gravíssimo, porque está sob sigilo de Justiça, deveria ir às mãos do ministro Teori [Zavascki, relator dos inquéritos da Lava Jato no STF], que é quem preside esse feito, e de repente sai. É mérito talvez da revista, do órgão de imprensa que conseguiu", afirmou.
Jaques Wagner citou o caso da escola Base, ocorrido na década de 1990, quando diversas reportagens relataram casos de abuso sexual por parte dos donos da instituição. O caso foi arquivado por falta de provas.
"Depois que você execra, quem paga o prejuízo da execração? Isso não constrói democracia. Este ambiente que estamos vivendo destrói democracia e crença nas instituições. Estamos indo para o tudo ou nada, para o vale-tudo. Qualquer um faz o que quer para atingir o seu objetivo. Eu acho, como democrata, gravíssimo isso aí", disse.