O tempo perdido pelos brasileiros no deslocamento para o trabalho nas regiões metropolitanas devido às más condições de mobilidade urbana gera um custo adicional de R$ 62,1 bilhões por ano à economia, cerca de oito vezes o que o País investe anualmente na área, mostra estudo liderado pelo economista Armando Castelar, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV). Esse custo estima o tempo em que as pessoas poderiam estar produzindo caso não estivessem presas ao trânsito.
Em um momento de emergência fiscal, especialistas defendem alternativas não dispendiosas que já trariam melhoras para a mobilidade urbana, além da maior atratividade ao setor privado. Entre elas estariam a criação de um pedágio urbano, o aumento dos valores cobrados por estacionamentos nas regiões centrais de grandes metrópoles e a elevação de tributos que incidem sobre veículos individuais (automóveis e motocicletas) e sobre combustíveis.
"Isso reduziria o acesso de automóveis (aos centros urbanos) e ainda poderia gerar recursos para investir em mobilidade", avalia Cláudio Frischtak, sócio da Inter.B Consultoria.
A cifra apresentada pelo Ibre/FGV considera dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2012 e não inclui custos adicionais com combustível e os danos trazidos pela poluição. Outras entidades já apresentaram valores até maiores. Recentemente, a Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) divulgou estudo que aponta perda de mais de R$ 111 bilhões por ano devido ao maior tempo das viagens casa-trabalho-casa.
Mas o alerta é o mesmo, nota Castelar. "No governo, essa questão (mobilidade urbana) é vista de maneira muito periférica", diz o economista. "Olhar o problema de uma maneira financeira é perder oportunidade. Gastar dinheiro é só um dos jeitos de solucionar isso."
Nas últimas décadas, o porcentual de motorização subiu vertiginosamente. Considerando seis regiões metropolitanas (Belém, Curitiba, Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador e Belo Horizonte) e o Distrito Federal, havia 33,8 automóveis a cada cem habitantes em 2014. Em 2002, essa taxa era de 20,7%.
"É o momento para repensar o papel do Estado na mobilidade urbana. Há uma retração na capacidade de coinvestir e de cofinanciar", afirma o especialista. "O que afasta o setor privado é o risco e a incerteza. Precisamos de estabilidade regulatória e um sistema de fiscalização honesto."