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Uma questão que não quer calar: por que o indivíduo, revestido de seu papel de cidadão, que vai às ruas e cobra (com razão) honestidade de políticos, ao mesmo tempo, utiliza expedientes de "jeitinho" para conseguir se dar bem, através da malandragem, ou , como dizem, da esperteza, para solucionar seus cotidianos problemas? Pedindo indicações para colocação no mercado de trabalho, vantagem em pecúnia para apoios, em filas de exames, cirurgias, consultas médicas, favores de leva e trás sem despesas, cestas básicas, etc... Por que será que ao invés de exigir seus direitos, prefere mendigar favores como moeda de troca, gerando uma corrupção ativa e passiva, sendo agente corruptor?
A filosofia tem um campo de estudo sobre o assunto denominado "dualidade de paradigmas éticos". Sabe-se que a ética mais tradicional tem como princípio a honestidade e o cumprimento do dever coexiste, tendo paralelamente, uma espécie de "ética de malandragem", de levar vantagem em tudo. A famosa lei de Gérson.
Essa burla da ética seria uma exclusividade brasileira? Alguns estudiosos dizem que não, pois essa dualidade ética já se fazia presente na obra de Homero.
Roberto Da Matta, cientista social (1936), clássico Carnavais, malandros e heróis, fez um estudo acerca da malandragem brasileira, tomando como ponto de partida o mito de Pedro Malazarte (personagem tradicional da cultura ibérica que foi importado para o Brasil, como espécie de protótipo do malandro brasileiro". Uma variante mais recente de Malazarte é João Grilo, personagem de Ariano Suassuna, que usa de sua astúcia para engambelar seus adversários e se livrar das mais variadas complicações.
O que percebemos é uma espécie de moral da conservação da vida, em que a necessidade de sobrevivência legitima a trapaça e se sobrepõe a uma moral da honestidade. Razão pela qual se faz, cada vez mais, necessária à reflexão, afinal, não é de estranhar que o homem pós-moderno, angustiado pelas mudanças sucessivas, sinta-se um iniciante todos os dias!