Aécio Neves deve estar exultante. Desde outubro do ano passado, na quase virada entre o primeiro e o segundo turnos das eleições, ele não surfava nem mesmo perto do topo da onda. Volta agora sob o patrocínio de Dilma Rousseff, que, relegada ao volume morto, bate boca e dá trela ao rival, abrindo generosos espaços para ser criticada por ele.
Dilma joga contra ela. Talvez pela mania de autossuficiência, de tudo impor à sua maneira. Talvez por falta de tato e impaciência. Provavelmente por soberba e teimosia, ou tudo isso junto, Dilma parece não compreender o quanto ela perde cada vez que retruca a fala do senador mineiro, recém-reeleito presidente do PSDB, maior partido de oposição.
As acusações de golpismo, ainda que despropositadas, soariam menos impróprias se viessem do líder do governo no Senado ou do presidente do PT. De igual para igual. Poupariam Dilma do vexame do "daqui não saio daqui ninguém me tira" que, como criança birrenta, ela transformou em "não vou, não vou, não caio, não caio", na fatídica entrevista ao jornal Folha de S. Paulo.
Dilma abusa do direito de errar. Nos Estados Unidos, acuada pelas novas diligências da Lava-Jato, caiu na esparrela de comparar a delação prevista em lei que ela própria sancionou a coerção tirana exercida pelo governo militar. A espantosa declaração ofuscou os resultados da viagem. E insiste no erro: de Ufá, na Rússia, onde se reuniu com os parceiros dos BRICS, tinha tudo para mudar a pauta. Mas preferiu, para delírio da oposição em geral e de Aécio em particular, rebater o senador. Novamente.
Erráticos na forma de exercer oposição, os tucanos não têm conseguido capitalizar a aguda insatisfação popular com Dilma e o PT. Só tinham perdido terreno desde as eleições. Mesmo com a presidente sangrando. Com o empurrão de Dilma, voltam a ter voz.
Mas ainda estão longe da liderança no ranking dos que mais perturbam a presidente. Ficam muito atrás do PMDB de Eduardo Cunha e Renan Calheiros. Perdem para Lula e para a própria Dilma. Esta, sim, insuperável em derrubar a si mesma.