Fazia muito tempo que eu não chorava como eu chorei no domingo. Não foi choro de dor ou de tristeza. Foi o choro de lavar a alma com a demonstração dada pelo povo brasileiro. 

Foi lindo por todo Brasil. Manifestações pacíficas, sem desordens, sem agressões aos jornalistas, sem bombas e depredações. Foi uma verdadeira aula de cidadania, de civilidade e de patriotismo. Bandeiras de diversas cores, representando o apreço à diversidade. Mas melhor ainda, nenhuma bandeira dos EUA e de Israel, como aquelas que costumam ser desfraldadas nas manifestações da extrema-direita.

Pessoas que se dizem cristãs, empunhando bandeiras de um país que não reconhece cristo como filho de Deus, já é uma grande contradição. Principalmente quando testemunhamos um dos maiores genocídios das últimas décadas, praticado por esse país. Todo povo tem direito a ter seu território e ter seu estado. Isso deve ser uma conquista civilizatória. 

No domingo nós pudemos ver os verdadeiros artistas do nosso país, comprometidos com as causas que mais interessam ao povo brasileiro. Não aqueles que são ligados ao “agro” que não é pop, é tóxico. Esses que estavam presentes nas manifestações ocorridas por todo o país, são os estandartes da nossa cultura. São aqueles que resistiram aos ataques da extrema-direita, ao desmonte das políticas públicas culturais.

A população brasileira foi às ruas no Brasil inteiro, não por alguém, não por um partido. Ela foi para as ruas para dar um basta aos absurdos impetrados pelo pior congresso de nossa história. 

Já disse em outro artigo, que quando a câmara foi dirigido pelo Severino, aquele que pegava mesada de R$ 10.000,00 do restaurante da câmara, parecia ser o fundo do poço. Não foi. Depois dele veio, entre outros, Michel Temer, Eduardo Cunha, Arthur Lira e, agora, o Hugo Motta, que ficou horas impedido de assumir a cadeira da presidência no famoso motim promovidos por deputados da extrema-direita, e que não tomou nenhuma medida para punir de maneira exemplar aqueles que praticaram tais atos.

É o mesmo que não pauta a proposta do governo de isentar do Imposto de Renda quem ganha até R$ 5.000,00, combinada com a taxação dos mais ricos que pouco pagam, mas cede a pressão para colocar em pauta a PEC da “bandidagem” e a tal “anistia”, que o povo, em sua maioria, já deixou claro que rejeita.

Nossa democracia está amadurecendo. Resistimos a uma tentativa de golpe e isso não é pouco. As nossas instituições se mostraram fortes. O Brasil está assumindo um importante papel na nova geopolítica.

Sem pec da bandidagem, sem anistia e viva o povo brasileiro.

 

Afonso Pola (acelsopp@gmail.com) é sociólogo e professor.