O País está moralmente doente, pois as pessoas estão se distanciando de valores que são fundamentais para a construção de uma nação livre, soberana e democrática. Não que isso seja um acontecimento recente. Isso está presente em nossa sociedade já faz bastante tempo.
O que é mais recente é o processo de desenvolvimento da tecnologia da informação, que literalmente colocou o universo em nossas mão. Estamos na era da informação, e estamos num ponto em que, a impossibilidade de processar tudo que está diante de nós, acaba nos massacrando.
Obviamente que isso acaba impactando nossas vidas de forma muito intensa e em todos os sentidos. Não estamos tão distante dos dias em que liamos as notícias pela manhã e estávamos bem-informados até o outro dia. Não é mais assim. A todo momento somos colocados diante de novas informações.
Do ponto de vista da democracia estamos vivendo um tremendo retrocesso. E o que é pior, isso acontece com o respaldo de uma minoria que é muito barulhenta e que tem se apropriado de métodos questionáveis do ponto de vista da honestidade.
Antonio Gramsci (filósofo, jornalista, crítico literário e político italiano) dizia “que só a verdade é revolucionária”. Mas nós sabemos que existe uma “doutrina da mentira plausível”, ou seja, da desinformação.
A proliferação das fakes news pelas diversas redes sociais, postadas e compartilhadas freneticamente por pessoas que parecem se deliciar com isso, torna o ambiente social pantanoso. E com muita frequência a expressão “desonestidade intelectual” é invocada para tentar desqualificar conceitos e valores que são importantes para a sociedade como um todo.
Ouço, todos os dias, a desonestidade intelectual que, com toda sua postura de melindre, inverte o discurso e tenta desqualificar qualquer forma que esteja em seu caminho.
Nas ruas, nas redes sociais, nos bancos acadêmicos, nas instituições, a desonestidade se tornou uma batalha. Quem tem a força e o poder de fazer do discurso desonesto o mais plausível. Eu posso argumentar horas, com livros, autores, história, mas e daí se uma resposta como “mimimi” pode, na hora, combater tudo o que eu digo. Mas para que a pessoa precisa ler se ela pode simplesmente ser desonesta na sua falsa intelectualidade e criar factoides escalafobéticos e impor isso como uma verdade pressuposta.
Negar fatos sociais para impor uma opinião é um problema sério de megalomania, é síndrome de privilegiado. O que mais me assusta é a pessoa nem sequer se importar se sua opinião tem relação com a realidade ou se é disseminadora de preconceito.
Tempos sombrios esses que estamos vivendo.
Afonso Pola (afonsopola@uol.com.br) é sociólogo e professor