Na medida em que prestamos atenção ao que ocorre no Brasil e no mundo, é impossível não perceber a existência de uma escalada da violência. Principalmente no nosso sofrido país.
No caso da PMSP (em outros estados e em outras forças de segurança não tem sido muito diferente), a sucessão de fatos promovidos em ações de seus membros chocou a sociedade paulista e brasileira, colocando o governo do estado na defensiva, por mais que o discurso de seus representantes máximos na esfera da segurança, sempre tivesse o caráter de justificar e aprovar as ações demasiadamente violentas praticadas por uma boa parte dos membros dessa força policial.
A própria resistência do governador e do secretário de segurança ao uso de câmeras corporais por parte da PM é um indicativo claro dessa aprovação silenciosa. Não precisamos ir longe. Derrite, homem avalizado por Jair Bolsonaro para ser o secretário de segurança de SP, indicação prontamente aceita pelo governador Tarcísio, é alguém que foi desligado da Rota (tropa de elite da PM) por excesso de mortes.
É obvio que essa violência exacerbada não surgiu nesse passado recente. Essa violência é um processo cultural que se instala e se desenvolve de forma gradativa e permanente, na sociedade de uma forma geral e, em diversas instancias dela. Não é um fenômeno que acontece da noite para o dia. Ele é resultado de um processo que vai sendo construído cotidianamente, através de atos, omissões, impunidades e discursos.
São muitos os exemplos de ações absurdamente ilegais e violentas contra segmentos mais vulneráveis da sociedade. Carandiru com seus 111 presos executados de maneira aterrorizante, foi um evento desprezível que contou com a anuência das principais autoridades da segurança do estado e a conivência da sociedade, como diz a letra da música de Caetano e Gil (Haiti) - “quando ouvir o silêncio sorridente de São Paulo Diante da chacina”. Inúmeras chacinas nunca bem esclarecidas ou com seus responsáveis nunca condenados aconteceram desde então.
Integrantes da Polícia Militar disseram à Folha que a crise de segurança no estado de São Paulo, com recorrentes casos de violência praticados por policiais militares, é consequência direta da escolha do capitão reformado Guilherme Derrite para o comando da Secretaria da Segurança.
O caso do jovem negro atirado de cima da ponte no rio poluído, o caso da invasão da garagem da senhora empresária e também negra vendo seu filho ser violentamente agredido bem como ela o foi, por vários policiais sem mandato e o policial que deu vários tiros pelas costas de outro jovem negro que havia roubado alguns produtos de limpeza, acabaram mobilizando a opinião pública, fazendo com que o governador tentasse corrigir o rumo de suas falas relacionadas ao uso de câmeras corporais por parte da PM. Mais do que isso o que se espera é que haja mudança na condução da Secretaria de Segurança.
Afonso Pola (afonsopola@uol.com.br) é professor e sociológo.