Na primeira década deste século, particularmente entre 2003 e 2009, mais de 29 milhões de pessoas entraram para a classe C, representando 50,5% da população brasileira, isso segundo estudo da FGV (Fundação Getulio Vargas). Essa ascensão foi motivada pelo aquecimento do mercado de trabalho, pelo crescimento econômico, a política de valorização real do salário mínimo e intensificação dos programas sociais. Tanto é que em 2014 o Brasil saiu do Mapa da Fome da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação da Agricultura). A definição das classes sociais leva em consideração a renda per capita do domicílio. Classe A R$ 28.240,00; B1 R$ 12.683,34; B2 R$ 7.017,64; C1 R$ 3.980,38; C2 R$ 2.403,04; e D-E R$ 1.087,77.

Entre as faixas da classe média (C)e o topo da pirâmide temos a chamada classe média alta, ou classe B. Essa parte mais abonada da classe média é o segmento social mais conservador de todos. São, na maioria, profissionais liberais do terceiro setor, ou seja, comerciantes, funcionários públicos dos mais variados cargos, bancários, pequenos empresários, médicos, enfermeiros, professores, engenheiros, gerentes de setores comerciais e administrativos, entre outros. Essa população é o motor de sustentação e manutenção das estruturas políticas do país.

Já o corte para estar no 1% mais rico, ou seja, com renda superior à de 99% da população brasileira adulta é de 28.659,00. Vale lembrar que estamos falando de um país onde as 6 pessoas mais ricas detém a mesma riqueza que os 100 milhões de brasileiros mais pobres. A brutal concentração de riqueza em nosso país é criminosa, pois joga parte significativa da nossa população na mais absoluta miséria.

Se por um lado o período entre 2003 e 2009 significou a ascensão de pobres em direção à classe média, esse movimento foi posteriormente invertido. Infelizmente o Brasil, que havia saído do Mapa de Fome em 2014, retornou àquela condição 2018.

Com a pandemia o problema se agravou. A baixa atividade econômica e a ausência de políticas compensatórias para que perdeu seu emprego ou teve seus pequenos comércios inviabilizados pelas restrições impostas por ela impactaram a realidade social brasileira. O percentual de brasileiros na classe média caiu de 51% em 2020 para 47% em 2021, segundo estudo do Instituto Locomotiva. Levantamento estima que cerca de 4,9 milhões de famílias caíram para a classe baixa no último ano.

Como resultado das ações tomadas pelo governo atual, o Brasil já está próximo de sair novamente do Mapa da Fome. É o Brasil subindo de novo a ladeira.


Afonso Pola (afonsopola@uol.com.br) é sociólogo e professor