A violência não é uma exclusividade do ser humano, mas é condenável por termos o discernimento de valores básicos que nos separam das feras. Inclusive, há comportamentos no reino animal de compaixão, empatia e abnegação sobre os mais fracos que superam a natureza humana.

Dados do Panorama da Violência Letal e Sexual contra Crianças e Adolescentes no Brasil, divulgados em outubro de 2021 pela Organização das Nações Unidas, apontam que 35 mil crianças foram mortas no período entre 2016 e 2020. Já entre os anos de 2017 e 2020, foram mais de 180 mil crianças que foram violentadas sexualmente no país - quatro em cada cinco sendo do sexo feminino na faixa de 10 a 14 anos, e 86% dos casos com o autor conhecido pela vítima.

Os acontecimentos desta semana na cidade de Suzano mostraram que a violência contra as mulheres não ocorrem apenas na periferia das cidades, nas camadas mais baixas, e no estereótipo do homem frustrado e dependente do álcool e drogas que desconta seu ódio sobre os mais fracos que dependem dele.

A prática perniciosa do abuso psicológico e físico cria raízes daninhas no corpo e na alma de crianças de todas as idades, de todas as faixas sociais, escondidas em sorrisos e no condicionamento social que as obrigam a rezar, obedecer, esquecer e relevar. Nada justifica a banalização da violência, que é a mola que impulsiona novas gerações a perpetuar a violência contra os mais indefesos.

As Nações Unidas recomendam a qualificação de policiais e profissionais da educação para identificar e atuar em casos suspeitos, na educação dos jovens sobre seu próprio corpo e seus direitos, na responsabilização dos culpados, entre outros pontos. Mas em um país onde a educação sexual de crianças e jovens ainda é tabu, onde a Justiça, a Polícia e a Educação estão sucateadas, custa a crer que haverá algum progresso no Brasil.

A violência contra a criança, infelizmente, não é uma nova moda do século XXI. Mas combater de forma efetiva ao dar voz e respeito às vítimas e punir aqueles que matam a inocência não pode ser a "nova moda do verão", mas o início tardio de nossa civilidade.