A concentração de renda e riqueza nas mãos de poucos é uma característica do sistema capitalista. Um estudo feito pela Oxfam, ONG britânica de assistência social e combate à pobreza, compreendendo um período de 23 anos (1988 até 2011), a renda dos 10% mais pobres de todo o mundo aumentou em média apenas US$ 3 ao ano. Já a renda do 1% mais rico cresceu 182 vezes mais, ou seja US$ 11.800 por ano.

No caso do Brasil, por exemplo, essa situação que é grave desde os anos 80, apresenta uma intensa piora. É verdade que tivemos uma melhoria dos indicadores sociais na primeira década e meia deste século. Diversas iniciativas pavimentaram a saída do Brasil do Mapa da Fome da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação da Agricultura) que ocorreu em 2014. A partir daí o Brasil tem convivido com profundas crises (crise econômica, política e institucional), e retornou ao Mapa da Fome em 2018.

De acordo com uma pesquisa realizada pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN), o número de brasileiros que passam fome está na casa dos 33 milhões. Desde a última pesquisa da rede Penssan, em 2020, esse número aumentou em 14 milhões. Hoje, mais da metade da população do país (58,7%) está em insegurança alimentar. Ou seja, o país voltou ao patamar de 30 anos atrás.

Durante a pandemia esse cenário apresentou significativa piora. O aumento da riqueza dos bilionários foi de 30% (US$ 39,6 bilhões), enquanto 90% da população teve redução de 0,2%. Os 20 maiores bilionários têm mais riqueza (US$ 121 bilhões) do que 128 milhões de brasileiros (60% da população).

Apenas 4 a cada 10 famílias tem acesso pleno à alimentação. E isso em um país que está entre os cinco maiores produtores de alimento do mundo. Crianças que não estão se alimentando de forma satisfatória, e mesmo se estiverem frequentando a escola, elas não apresentarão desempenho esperado, estarão condenadas a reproduzir a miséria de seus pais. Triste país.

Afonso Pola é sociólogo e professor.