O ser humano sempre se viu socialmente envolvido numa teia de relações. Mas essas relações sempre estiveram permeadas de conflitos. A perspectiva de um momento no espaço-tempo das sociedades sem a presença de embates e divergências pode soar ingênua demais quando se constata em diversos períodos da história uma gigantesca falta de entendimento e, por esse motivo, os consequentes embates e enfrentamentos entre os povos e nações ou apenas entre pequenos grupos e entre indivíduos.
A verdade é normalmente moldada de acordo com a conveniência de quem a tem e, de tabela, é entendida de acordo com a conveniência de quem ouve. Gerando assim um ciclo infinito de meias verdades.
Em nossos dias, percebe-se como as redes sociais têm apresentado e ampliado os conflitos entre as pessoas. Por isso, os comentários às postagens e publicações se tornaram um campo fértil para trocas de acusações, ofensas e injúrias de todos os tipos, muitas vezes direcionadas às pessoas desconhecidas, sequer nunca vimos. A expressão mais aguda para esses conflitos nesse ambiente virtual é o que se conhece por "cultura do cancelamento".
Uma pessoa é posta de lado em razão do alcance de suas ideias, posturas ou ações. O ato de se mover é bastante perigoso porque, se por um lado pode fomentar discussões associadas à defesa dos inalienáveis direitos humanos e defesa de minorias sociais, por outro lado, não refletidamente, pode acirrar ainda mais discussões que não chegam a lugar nenhum, promover um linchamento virtual irreflexivo, que pode vir a prejudicar seriamente a vida e as relações de quem se expõe nas redes.
Os conflitos atuais vão das ruas para as redes e das redes para as ruas, é razoável considerar que eles ultrapassam os séculos. Inclusive, a tradição judaico-cristã apresentará uma narrativa mitológica para dar conta desse movimento entre pessoas e grupos. Livros! Coisas do passado?
Raul Rodrigues é engenheiro e ex-professor universitário