A Associação dos Amigos da Rota da Luz, grupo que acolhe e auxilia os peregrinos que vão até o santuário de Aparecida pela Rota da Luz, é o destaque do último episódio do Café com Mogi News deste ano, publicado nesta terça-feira (10). O caminho passa pelas cidades de Mogi das Cruzes e Guararema, na região, e segue rumo à cidade de Aparecida, onde fica o Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida. O entrevistado é o presidente da entidade, que une peregrinos e empreendedores locais, Ubirajara Nunes Pereira de Souza, o Bira, também é arquiteto e diretor do Departamento de Patrimônio e Arquivo Histórico de Mogi. que já foi entrevista do no Café. Saiba mais nesta entrevista especial.
Café com Mogi News: Conte pra gente sobre a Rota da Luz.
Ubirajara Nunes Pereira de Souza: A Rota da Luz é um caminho de peregrinação que foi criado em 2016, e tem o propósito de conectar um caminho mais seguro para os romeiros. A gente tradicionalmente tem aí no mês de outubro todos os anos essa peregrinação, que é feita na rodovia Presidente Dutra, onde os romeiros saem de diversas localidades e vão sentido Aparecida. O Governo do Estado em 2016, por uma solicitação da então primeira dama, a dona Lu Alckmin, pensou um caminho mais seguro para os romeiros. Haja vista que todos os anos a gente tem relatos de acidentes.
Na Rota da Luz a gente tem aí a perspectiva de, além de estar fazendo um caminho mais seguro a partir de 2016, é um caminho mais tranquilo. Quando o peregrino está fazendo a Rota da Luz, ele está não somente com aquele objetivo da chegada, mas ele consegue nesse período um momento de contemplação da natureza, de observar, de ouvir o som dos pássaros, de todo aquele ambiente, por ser um percurso na zona rural. O tráfego de veículos é menor, e isso já faz com que o peregrino tenha aquela paz, aquele momento de poder pegar ali o seu rosário e o seu terço e fazer essas orações.
Destacando que a Rota da Luz não é somente um caminho feito por católicos, por religiosos. Tem esse objetivo, mas cada vez mais esportistas, atletas e aventureiros têm feito por ser um desafio. A gente tem vários trechos, começando aqui por Mogi das Cruzes.
Voltando ao início da implantação, o governador Geraldo Alckmin vem aqui em Mogi junto com a primeira-dama, inaugura a Rota da Luz, e aí é feito toda uma estrutura por parte da Secretaria de Estado de Turismo, no quis diz respeito a site, passaporte. É interessante explicar, o peregrino quando ele faz esse percurso, ele recebe na estação Estudantes (CPTM) um passaporte e ele vai carimbando a sua passagem pelas cidades, pelas localidades.
CMN: Isso em pousadas?
Ubirajara: Pousadas, restaurantes, comércios. E qual é o objetivo? É fomentar o turismo na região. Então a Rota além da proposta de ter um caminho mais seguro para os romeiros, para os peregrinos e também para os ciclistas, que a gente chama de bicigrinos, ela também fomenta o turismo e a economia local. Então é bem bacana, porque ao longo desses oito anos, a gente tem observado um crescimento substancial de pousadas, de lanchonetes, de pontos de apoio. O pessoal vai se qualificando, vai entendendo que aquele caminho, além de ser um local aonde os peregrinos cada vez mais começam a se apropriar, ele também pode ser um lucro para as pessoas.
CMN: E não é restrito a outubro também, é uma rota que vai durante todo o ano?
Ubirajara: Exato, perfeito a sua colocação. A Dutra é usada geralmente. A gente observa ao longo do ano com menos frequência alguns romeiros na rodovia Dutra. Logicamente que o ponto maior é a primeira quinzena de outubro, e a Rota da Luz não. A Rota da Luz é o que a gente chama de 'caminho peregrino', que é aquele caminho que não é sazonal, ele é de janeiro a janeiro. As pessoas se programam, tiram férias, feriados, eles aproveitam essas datas, principalmente os ciclistas, por ser às vezes feriado e emenda de feriado. Em três a quatro dias de bicicleta dá para fazer tranquilamente, e a gente tem observado a vinda de turistas estrangeiros para fazer a Rota da Luz.
A gente já tem relato de pessoas que chegaram de avião, pegaram o trem em São Paulo, vieram para Mogi, fizeram a Rota da Luz, chega em Aparecida, pega o ônibus, vai para o Terminal Tietê, avião, trem, avião e vai embora. Então é bem interessante, dentro de todo esse cenário da criação da Rota da Luz em 2016, a gente foi observando logo no início, toda essa infraestrutura dada no sentido de sinalização, de emissão de passaporte, de um site estabelecido pelo Governo do Estado.
CMN: Isso em um primeiro momento.
Ubirajara: É, no primeiro momento. A gente lamenta a questão da descontinuidade de alguns programas, o que geralmente acontece nas trocas de gestões. Então um chega ao outro governador eleito, aí as estruturas do Turismo mudam e aí a gente fica preocupado. Nesse momento, eu particularmente junto com outro grupo de peregrinos que desde 2016 estão ali na Rota da Luz e acompanhamos toda sua evolução, a gente começa a se preocupar com a descontinuidade. Imagina você, eu implanto um caminho de peregrinação na região, faço todo um trabalho de divulgação, convenço você a investir nesse caminho, e aí quando troca a gestão: acabou. E eu posso dar exemplos de outros caminhos que foram descontinuados, como por exemplo a Rota Passos dos Jesuítas, ou a Rota Frei Galvão, que tanto foi divulgada, mas a gente ouve pouco falar hoje.
CMN: Onde fica?
Ubirajara: A Rota Frei Galvão, ela faz uma rota também no Vale do Paraíba e chega até a cidade onde Frei Galvão se estabeleceu. Mas ao contrário desses outros caminhos, na Rota da Luz, os peregrinos se apropriam, e a partir desse momento juntamente com os empreendedores da Rota, os primeiros, é criado um grupo no WhatsApp, e a gente começa a ter um foco em orientar quem está começando a fazer a Rota, porque as pessoas começam a literalmente ficar perdidas no caminho. E como eu estou aqui em Mogi das Cruzes e tem um grupo de ciclista, o Família de Ciclistas, logo nesse período no WhatsApp o pessoal começa a postar. “Olha, eu encontrei um peregrino perdido na Rota da Luz”, porque ela passa ali pela região que a gente pedala de Luiz Carlos (Guararema), Sabaúna, e começamos a suscitar a possibilidade de criar um coletivo para auxiliar esses peregrinos.
CMN: A Associação surge quando?
Ubirajara: Surge em 2019. A gente cria primeiro um coletivo e a gente começa a fazer essa orientação, esse cuidado com peregrino, só que aí a gente começa a perceber que esse coletivo começa a ficar algo mais encorpado. E a gente fala: “Olha eu acho que a gente vai precisar pensar em algo maior, aí para a gente ter uma estrutura”. Nesse período a dona Lu Alckmin fica sabendo da criação do coletivo “Amigos da Rota da Luz” e a gente programa uma reunião em São Paulo lá no Mosteiro São Bento com a presença da dona Lu.
CMN: Uma grande apoiadora?
Ubirajara: Uma grande apoiadora, porque a Rota da Luz tem toda uma história que envolve naquele período de 2016, quando tragicamente o filho dela (Thomaz Alckmin)sofre um acidente de moto e vem a falecer. E aí a dona Lu toma conhecimento da criação desse coletivo e nós temos a primeira reunião no Mosteiro São Bento. A partir dali a gente estabelece esse cronograma de criar a “Associação Amigos da Rota da Luz”, que surge então em 2019. A dona Lu Alckmin diretamente não faz parte da Associação, não é membro da diretoria, mas ela é uma apoiadora e sempre muito preocupada, porque todos os anos ela faz a Rota em abril, que é o mês em que foi lançada. Nós criamos uma diretoria e por uma sugestão dela, ela disse: “olha eu gostaria que você presidisse a Rota, que você pudesse iniciar esse processo da Associação". Juntamente comigo também o Guga, como vice-presidente por ser também um peregrino. Ele foi um dos primeiros que começou a fazer a Rota a pé.
Então, em 2019, a gente estabelece a Rota da Luz e o primeiro passo é solicitar uma reunião com o secretário de Turismo do Estado. na ocasião o senhor Vinícius lummerz. Nós encaminhamos a documentação, mandamos o nosso estatuto e a gente pede uma reunião para tratar da Rota da luz, e foi uma reunião maravilhosa. Fomos muito bem recebidos e a própria Secretaria de Turismo achou importante essa apropriação da Associação. E na conversa não é a questão da Associação falar: “olha vocês não estão cuidando da Rota da Luz, e nós vamos assumir a rota da luz”. Nunca foi essa proposta.
A proposta nossa foi: “A nossa preocupação é com o peregrino porque nós somos peregrinos, então é orientá-lo e dar a infraestrutura". A infraestrutura no sentido de ter a sinalização, o passaporte, um site que oriente, que a pessoa possa entrar e ter informações. Fomos muito bem recebidos e fizemos então essa parceria. A Secretaria de Turismo ficou responsável pela questão da infraestrutura e Associação, pela orientação aos peregrinos, suporte e acompanhamento. É muito interessante que a partir deste momento, como esse acolhimento feito na rede social, porque hoje o peregrino acessa “www.amigosdarotadaluz.org” e ele faz um cadastro e é automaticamente direcionado para o grupo de WhatsApp, onde peregrinos que já fizeram a Rota da Luz o recebe e orienta.
CMN: Dão dicas?
Ubirajara: Dão dicas de que tipo de calçado utilizar, qual a estratégia de percurso, porque muitas vezes a pessoa diz: “Eu tenho cinco dias para fazer”, então os próprios peregrinos mais experientes dão essa orientação.
CMN: Quanto tempo para fazer a rota?
Ubirajara: Olha, a gente diz que de 6 a 7 dias é o ideal. Mas, a pessoa pode de repente também fracionar, tem muitas que fazem por final de semana, então faz um trecho no final de semana de Mogi até Santa Branca ou Guararema, e no outro final de semana faz o restante do percurso. A gente tem exemplos e existem várias formas de realizar o percurso. Com esse acolhimento da Associação no site, na rede social, a gente começa a perceber o fluxo aumentar ainda mais, porque é aquele negócio, a conversa vai espalhando, e um fala: “Olha, tem um pessoal que orienta. Tem um pessoal que acolhe”. E não é só dar orientação, a forma com que a Rota da Luz, a Associação trata o peregrino é uma forma de acolher diferenciada, que muitas pessoas já relatam que em outros caminhos não acontece isso.
CMN: Você comentou que a pessoa vai acompanhando mesmo, quando saiu daquele estabelecimento e não chegou no outro, a pessoa vai procurar.
Ubirajara: Exatamente. Esse exemplo é muito bacana, porque assim, eu saio de Mogi das Cruzes, eu posto uma foto no grupo da Associação: “Olha vou viajar, eu estou saindo daqui da estação rodoviária tal, ferroviária Estudantes”, e qual é o destino? É Guararema? Então a pousada já tá lá reservada, e o pessoal me aguardando. Então, quem vai de bicicleta, o pessoal sabe mais ou menos o tempo que vai levar para a pessoa chegar e quem vai a pé também, é um período um pouco mais longo, mas eu sei a hora que você está chegando na minha pousada. Se eu vejo que você já extrapolou um pouco aquele tempo, o próprio empreendedor que vai te acolher na pousada dele, faz o percurso para te encontrar, e se não encontrar o sinal do celular, ele liga. Em outros lugares não tem isso.
CMN: É um cuidado, mais um acolhimento?
Ubirajara: É cuidado. Além disso, em alguns percursos o pessoal coloca aquele que você pode acompanhar no WhatsApp o deslocamento em tempo real. Então tem esse cuidado. E aí que tá, porque muitas vezes, eu fiz recentemente agora o caminho de Santiago Compostela, e a gente saía de uma pousada e ia para outra, e ninguém perguntava nada. Em nenhum momento, a pessoa teve esse cuidado de saber onde vocês estão, e na Rota da Luz tem esse cuidado, o pessoal acompanha.
E na parte do site, do gerenciamento, nós temos lá a Tânia que além de cuidar de toda essa parte da rede social, do site, a quem temos que agradecer muito a colaboração, o apoio, ela acompanha o tempo todo isso. Apesar dela ter a sua pousada, o seu empreendimento, ela tem essa dedicação 24 horas com os peregrinos. Isso é muito bacana.
CMN: Isso vai atraindo mais gente?
Ubirajara: Vai dando uma confiabilidade cada vez maior. E isso reflete também com os outros empreendedores. Nós temos diversas pousadas, porque tem aumentado substancialmente. Então assim, o caminho quando ele é pensado, isso é muito legal, ele não foi pensado somente tirar o peregrino da Dutra e colocar num caminho mais seguro, ele foi pensado também para desenvolver economicamente a região com o turismo. E isso depois de oito anos, a gente tem tido reflexo, são diversos grupos fazendo o caminho, e a cada ano um maior número de pontos de apoio. Principalmente nesse período da Dutra de outubro, que o pessoal muitas vezes opta por lá, porque tem vários pontos de apoio onde as pessoas fazem massagem, dão alimentação, dão suporte, e na Rota da Luz também está acontecendo isso, lógico um pouco menos, até porque tem oito anos do caminho, mas cada vez mais a gente vê relatos de pessoas que deixaram de fazer pela Dutra e passaram a fazer para a Rota da Luz.
Já diversas reportagens foram feitas, a própria TV Globo, a TV do Vale do Paraíba, a Rede Bandeirantes, a Vanguarda fez esse ano um documentário muito bacana sobre a Rota da Luz. Então toda essa divulgação tem atraído cada vez mais os peregrinos, e é totalmente diferente a jornada pela Rota da Luz do que pela Dutra.
CMN: E como você vê então daí para frente? Vem crescendo, mas quais são os desafios?
Ubirajara: Uma das propostas da Associação é que nós tenhamos em cada cidade os seus membros, os seus representantes, e que eles passem a compor os Conselhos Municipais de Turismo. Aqui em Mogi das Cruzes, por exemplo, eu faço parte do Conselho Municipal de Turismo pela Associação dos Amigos da Rota da Luz, e em Guararema, a gente tem a pretensão de ter uma cadeira de um conselheiro representante, e assim por diante nas outras cidades, porque a gente se aproxima cada vez mais do poder público. O governo do Estado não pode deixar de dar essa assistência na infraestrutura, mas as prefeituras, os municípios, precisam se apropriar cada vez mais do caminho, porque isso é renda pro município, para o morador da cidade, em comércio de artesanato, gastrônomico, hospedagens.
A partir do momento que a gente teve essa descontinuidade, implantamos a Associação. Tenho que agradecer o pessoal do Caminho da Fé, porque quando a gente cria a Associação a notícia é dada pelo Caminho da Fé, que é um caminho de peregrinação mais estabelecido. O primeiro caminho bem estruturado no país, que tem uma gestão fantástica a qual a gente tem como referência. É noticiado para a Basílica a criação da associação e prontamente eles entram em contato e pedem uma reunião.
Nessa reunião, a Basílica reconhece a Rota da Luz efetivamente como um caminho de peregrinação certificado pela Basílica. Anteriormente não era, havia um certificado emitido na Basílica que o governo do Estado mandava o certificado para lá, então era um certificado diferente dos outros certificados dos caminhos de peregrinação reconhecidos pelo Santuário. A partir desse momento, quando o Associação é criada, eu acho que perde mais diretamente esse vínculo político, e também existe essa preocupação. A associação já começa assim a colher frutos desse estruturação. A Rota da Luz passa a ser reconhecida como um caminho de peregrinação do Santuário.
CMN: E um reconhecimento do trabalho de vocês?
Ubirajara: Um reconhecimento do trabalho de todos. Não é somente do Ubirajara, mas de todos os envolvidos. Eu tenho que fazer uma menção aos pioneiros na implantação desse caminho que são os empreendedores. Então hoje Redenção da Serra já tem diversos pontos de pouso, mas a Marlene, por exemplo, foi a primeira que acreditou, uma pessoa extremamente importante para o caminho, assim como o Daniel Pereira. As pessoas vão entendendo que apesar de estar numa localidade distante gera renda, não somente para ele diretamente, mas pra cidade.
Por exemplo, isso o relato do próprio Daniel, Redenção da Serra com a Rota da Luz, foi inserida no cenário turístico do Estado de São Paulo, porque pouca gente conhecia. Na estrada que a gente pega para ir para São Luís Paraitinga, tem lá uma rotatória e está escrito Redenção da Serra. Ninguém vai em Redenção da Serra, aliás, ninguém ia. E Redenção da Serra é um lugar tão bonito, ela faz margem com a represa de Paraibuna, toda aquela região, é espetacular, e Redenção tem no cenário histórico. A gente passou pela semana da Consciência Negra, dia 20 de novembro, e Redenção foi a primeira cidade de São Paulo que declarou a abolição, que libertou todos os escravos. Na rotatória da cidade tem um monumento dos escravos quebrando algemas. E também foi cenário de diversos filmes do Mazzaropi.
Aumentou muito o fluxo de turistas para Redenção da Serra com o estabelecimento da Rota da luz. O que acontece hoje muitos peregrinos que vão para lá, eles se estabelecem nas pousadas, são bem acolhidos e depois retornam com as famílias para passar o final de semana, conhecem a cidade, passeiam de lancha pela represa, isso é muito bonito. Então aquela proposta da Rota da Luz de um caminho mais seguro, mais bonito, para tirar o peregrino da Dutra, passa a ser uma opção de rota turística que vai trazer o desenvolvimento econômico para cidade que fica cada vez mais estruturada.
Esse trabalho da Associação envolve a questão da participação dos peregrinos nos Conselhos de Turismo e a Secretaria de Turismo também entender essa vocação do caminho para o desenvolvimento econômico sustentável. E hoje, a gente tem a felicidade de que a manutenção da sinalização da Rota é feita pelos municípios. Então, por exemplo, você começa a Rota da Luz aqui em Mogi das Cruzes, você tem a placa da Rota da Luz com o brasão do município de Mogi, e a partir do momento que você acessa Guararema, você tem a mesma placa, só que o brasão é da Prefeitura de Guararema, em Santa Branca, em Paraibuna. Isso passa para o peregrino uma sensação de segurança tremenda, porque ele sabe que ele é conhecido ali, não é mais um.
CMN: Você tem o apoio do grupo, mas também do poder público.
Ubirajara: É, e muitas vezes, logo no início isso, o pessoal relatava que chegava nos estabelecimentos de mochila e assim, é o povo mais do interior, da zona rural, assim: “Quem é esse forasteiro? Quem que é esse cidadão invasor?”, mas a partir do momento que entende que é um peregrino, que está indo para o Santuário Nacional e isso na zona rural assim é muito bonito. Essa devoção, você vê as capelas, a religiosidade. É emocionante você estar fazendo o caminho e de repente parar um carro e a pessoa te deseja um bom caminho: “Você está fazendo a Rota da Luz? Parabéns, que Nossa Senhora te acompanhe!”. Você não vê isso na Dutra.
Aconteceu comigo algumas vezes, e as pessoas relatam, de pessoas pararem e oferecerem água; "Você está precisando de alguma coisa, tem a minha casa aqui na frente". Eu fiz a Rota da Luz em 2022 com a minha esposa e meus dois filhos pequenos. “Você é maluco?. Não sou maluco, programei em janeiro, nas férias escolares e a gente fez em 7 dias. Eu fui, o meu filho estava com oito para nove anos, o Davi e foi pedalando. O Lucas, eu levei um bike trailer, num reboquinho.
CMN: Quantos anos?
Ubirajara: Ele estava com quatro anos. E a minha esposa. A gente foi pedalando, paramos em Guararema, paramos em Santa Branca, Paraibuna, Redenção da Serra, Pindamonhangaba e fomos para Aparecida. Tem Roseira também, cidade antes de Aparecida. Em todo trecho o pessoal parava, tirava foto, conversava com a gente. Apesar de você estar longe de casa, você não tem essa sensação, você tem uma sensação de acolhimento tão bonito. Isso não tem na Dutra.
A gente tem no caminho além das hospedagens e do comércio, a gente tem os pontos de apoio, tem pessoas que adoram receber. Entre Taubaté e Pinda, o seu Paulo e a dona Dolores, eles não são pousada, não são comércio, eles são ponto de apoio. O seu Paulo tem uma gratidão de receber as pessoas, ele agradece pelas pessoas entrarem na casa dele, e faz bolinho de chuva, bolo de fubá. Dona Dolores faz um suco delicioso.
É acolher mesmo, então o que os peregrinos fazem eles são tão bem recebidos que não conseguem sair do local sem deixar algo. Então muitas vezes, o pessoal chega lá tem garrafas de água mineral que ele distribui para as pessoas, e não acaba uma garrafa de água mineral, porque o pessoal traz, repõe. Da mesma forma que você está recebendo acolhimento, você ajuda. Às vezes muita gente deixa uma contribuição para ele comprar mais água ou as pessoas se juntam, voltam lá e reabastecem o ponto de apoio dele, é maravilhoso. É um personagem da Rota a família do seu Paulo. Já existem outros pontos que fazem isso também, a gente tem exemplos saindo de Redenção, no bairro de Samambaia, que é a Michele. Ela e a mãe dela, a Dona Maria. A Michele começou com uma portinha e uma garrafinha de café e um saco de pão, e oferecia graciosamente para todos os peregrinos. Hoje ela tem uma mercearia, com um mercadinho, um restaurante, e é a mesma pessoa! Acolhe todo mundo, recebe todo mundo, tem um carinho com todas as pessoas.
CMN: É um misto de muitas coisas, de fé, acolhimento.
Ubirajara: É tudo aí, é o acolhimento, é a geração de renda, é a religiosidade, é muito bonito! Então, eu convido todos a experimentarem a Rota da Luz e eu posso dizer que a maior parte das pessoas que fazem, elas votam. Às vezes você fala assim: “Ah, eu já fiz uma vez, não quero fazer de novo”, mas a gente conhece pessoas que todo ano se programa para fazer, e muitas vezes faz questão de ajudar de alguma maneira, colocaram outras placas agora. Para você ter uma ideia, um grupo se juntou e viram a necessidade de ter a quilometragem no caminho, então o que que eles fizeram? Se juntaram, fizeram uma vaquinha, fizeram uma plaquinha, pegaram logomarca da Rota da Luz, colocaram quilômetro 5, quilômetro 10, quilometro 15, quilômetro 20... o caminho todo sem precisar falar com Associação.
Eu falo isso para as pessoas, a Associação não foi criada para ser dona, proprietária, até porque é um caminho público, é um caminho que é uma estrada que foi implantada com essa proposta de destino. Mas é a apropriação das pessoas e saber que de uma forma ou de outra, existe uma Associação que ajuda a cuidar, principalmente dos peregrinos.
CMN: Deixa uma mensagem para gente, o que você espera para o futuro da Rota.
Ubirajara: Eu tenho que agradecer também a atual gestão do Governo do Estado, através da Secretaria de Turismo que nós recebemos recentemente mais passaportes. Tivemos uma conversa com o pessoal e nos forneceram mais passaporte que já estão disponíveis na estação Estudantes. O pessoal da CPTM já está distribuindo, então é a gratidão pela Secretaria de Turismo ter disponibilizado mais passaporte para a Associação. Eu acho que se todo mundo ajudar, nada acaba. O problema é quando você propõe algo e descontinua, e aí faz as pessoas que acreditaram tanto, ficarem ali à mercê da sorte, da possibilidade de fechar.
Nesse período da pandemia, as pessoas não fecharam, acreditaram que tudo ia passar. Passaram por essa fase difícil e a gente estava ali junto com todo mundo, e veja muitos peregrinos se oferecendo para ajudar essas pessoas, porque estavam passando dificuldade nesse período. Muitos peregrinos se juntaram e foram fazer apoio para quem faz apoio para eles. Então, é gratidão! Eu acho que o caminho, ele só tem a crescer, já está apropriado, e apropriado no sentido de apropriação mesmo das pessoas.
As pessoas hoje entendem que não é mais somente uma estrada, é um momento ali de paz interior, de contemplação, de troca, de experimentar mesmo algo diferente. Então, cada vez mais a gente tem visto construções de capelinhas nos sítios. Recentemente a Tânia fez uma campanha das fitinhas da Rota da Luz de Nossa Senhora Aparecida, então ao longo do caminho você vê nas cercas amarradinhas as fitinhas. Nossa e é um momento tão bonito, porque mexe com a sua religiosidade, com a sua fé, com a sua crença.
A minha mensagem é agradecer a todo mundo que acredita na Rota, que faz a rota acontecer, principalmente os empreendedores, os primeiros ali, os pioneiros, e quem também está vendo todo esse movimento acontecer, esse fomento e também está acreditando e o melhor de tudo: o acolhimento na Rota é diferente. As pousadas, elas não são aquelas pousadas que olham para você e falam “seu nome e CPF, RG, check-in”.
Muitas vezes na pousada você chega a pessoa só fala: “seja bem-vindo Peregrino, vá para o seu quarto, toma um banho, descansa, depois a gente conversa”, mas isso não acontece em qualquer lugar. É assim, simplesmente tem que fazer aquele check-in, aguardar a mala, o pessoal liberar o quarto, é diferente. Então, eu convido a todos a conhecer a Rota da Luz, que eu não tenho sombra de dúvida, já está estabelecido e só tenha a crescer e muita coisa para acontecer.
CMN: E o site?
Ubirajara: O site é www.amigosdarotadaluz.org. Ele é pensado para o peregrino, não é um site cheio de coisas maravilhosas, brilhando, piscando, não. Você clica e tem as informações objetivas: "Onde eu posso dormir?" você clica lá e tem o nome das pousadas; "Cadastro do Peregrino"; "História da Rota da Luz"; "Pontos de apoio". É objetivo, porque muitas vezes o peregrino só quer a informação exata, então você vai entrar lá e está tudo separadinho e muito bem elaborado para o peregrino. Eu queria agradecer novamente ao Mogi News, parabenizá-los pelo trabalho, é uma honra estar fechando essa série do ano. Obrigado a toda diretoria do jornal e eu estou sempre à disposição aqui para conversar com vocês.
Mais informações sobre a Associação Amigos da Rota da Luz no site Associacao Amigos Rota da Luz e no perfil do Instagram @amigos_da_rota_da_luz