O novo episódio* do "Café com Mogi News" entrevista Cláudio Neto, coordenador da ONG Trupe do Riso, que iniciou os trabalhos em 2016, mas foi formalizada em 2018. Os voluntários se transformam em palhaços para levar acolhimento e alegria para hospitais, instituições filantrópicas, creches, escolas e abrigos. "O objetivo principal é utilizar a figura do palhaço e outras figuras artísticas que nós temos, como por exemplo a contação de história, para alcançar pessoas em situação de vulnerabilidade, seja social ou em razão da saúde", explicou o coordenador da ONG, que é desenvolvedor de sistemas.
Na entrevista do novo episódio do Café, com apoio da Padaria Tita, Claudio Neto fala do trabalho realizado pelo grupo, o impacto da pandemia de Covid-19 e de uma outra iniciativa voltada para saúde mental, que funciona de forma online. Neste projeto são realizados encontros realizados duas vezes por semana, no formato de uma roda de conversa. Toda a Trupe conta com cerca de 30 voluntários. Saiba mais nesta entrevista especial.
*Excepcionalmente este episódio, por problemas técnicos, não contará com a versão em vídeo.
Café com Mogi News: Conte um pouco sobre o seu trabalho e sobre você.
Cláudio Neto: Obrigado pelo convite! Sou Cláudio Neto e hoje sou coordenador da ONG Trupe do Riso. A Trupe do Riso existe desde 2018, como uma instituição realmente fundada, com CNPJ. Nosso trabalho principal é através da figura do palhaço, em que a gente visita hospitais, instituições filantrópicas, creches, escolas, casas de repouso, abrigos. O objetivo principal é utilizar a figura do palhaço e outras figuras artísticas que nós temos, como, por exemplo, a contação de história, para alcançar pessoas em situação de vulnerabilidade, seja social ou de saúde.
CMN: Como vocês escolhem os projetos e lugares?
Cláudio: Antes de a gente realmente fundar a Trupe e ser uma instituição, era eu, minha esposa e uma amiga. A gente começou com um trabalho dentro da própria igreja de Braz Cubas, que a gente fazia parte na época e a intenção era fazer um teatro para sair se apresentando dentro de igrejas. Esse, basicamente, era o nosso objetivo quando a gente fundou. A gente nem tinha muita noção da figura do palhaço, do impacto do palhaço na sociedade. Aos poucos, a gente foi recebendo alguns convites para fazer algumas apresentações em lugares mais carentes. O primeiro lugar onde a gente começou a ter um pouco mais de impacto foram algumas pessoas que nós conhecemos de uma igreja em Jundiapeba.
A gente está falando sobre os bairros mais pobres que a gente tem em Mogi das Cruzes, então a gente sabe que é uma realidade difícil, é uma realidade que a gente queria que nem sequer existisse no mundo. Mas aquelas crianças que, muitas vezes, estavam passando por muitas dificuldades dentro de casa, elas brincavam, se divertiam e tinham a possibilidade de ser uma criança naquele momento. A partir dali a gente começou a perceber o impacto da figura do palhaço. A gente recebeu alguns outros convites, e chegou, inclusive, a fazer um trabalho evangelístico na Copa do Mundo.
CMN: A atenção que faz a diferença?
Cláudio: É a atenção. A gente teve a oportunidade de começar a visitar hospitais. O primeiro que a gente visitou foi em 2016, se não me engano, que foi o Hospital das Clínicas, em São Paulo, na ala psiquiátrica e ali a gente teve uma experiência fantástica. Era a nossa primeira vez, a gente tava indo muito mais como observadores para entender o que acontecia, mas a gente foi no Departamento Infantil. Alguns da nossa equipe começaram a pintar com crianças, a fazer mágica, tinha alguém com violão e cantando. A gente saiu dali e uma mãe veio até nós, abraçou a equipe e começou a chorar. Ela falou que a filha dela estava ali há uma semana e era a primeira vez que ela via a filha dela sorrindo. A partir dali, a gente falou: ‘Existe um espaço para o palhaço’.
A gente conseguiu identificar o impacto que tinha e resolvemos estudar, a se especializar sobre o palhaço, a origem do palhaço. Nós fizemos cursos para poder aprender mais sobre a arte do palhaço e a gente percebe que o grande diferencial do palhaço é que apesar de usar uma máscara, o palhaço acaba sendo o artista mais nu que existe, porque ele está ali disposto e se entregando a qualquer coisa que vier. E isso faz com que a gente tenha esse alcance de alguém que está em um dia triste, nublado, chuvoso, e a gente tem essa capacidade de se conectar com essa pessoa e conversar, entender e se doar. Em 2017, éramos nós três, que eu citei, a gente estava indo fazer vários trabalhos, praticamente todo fim de semana e tivemos a ideia de aumentar.
CCMN: Para construir algo?
Cláudio: Exato, aí a gente foi atrás e entender como fazia para fundar uma ONG. Passamos 2017, planejamos e em 2018 deu certo. Temos um CNPJ, e o que a gente faz agora? Eu fui atrás de parcerias. Na época, o Sesi abriu as portas para a gente utilizar o anfiteatro para ensaiar. Entrei em contato, divulguei que a gente estava com vagas abertas para voluntários e mais de cem pessoas se inscreveram e dessas que se inscreveram, umas 40 vieram fazer o teste. Das 40, umas 20 ficaram, das 20, umas 8 começaram a fazer parte. A partir daí, foi bater na porta dos hospitais e oferecer nosso trabalho.
Dentro do Hospital Municipal já existia um trabalho de voluntariado, então a gente agregou com esse trabalho que existia. Na AACD, a gente ficou de dezembro de 2018 até começo de 2020 com trabalho quinzenal, comigo e mais duas contadoras de história. Era um trabalho incrível, a gente aprendia muitas histórias, ouvia histórias daquelas crianças. Uma história que me marcou foi em uma das primeiras visitas na AACD, eu estava em uma sala que tinha quatro menininhos, três deles estavam em uma cadeira de rodas. Era uma sala de terapia em grupo e eu perguntei para uma das terapeutas por que terapia em grupo e ela falou que, naquele caso, os quatro tinham uma mesma doença degenerativa, e normalmente essas crianças nem sequer chegam aos 15 anos. A terapia em grupo é justamente para que eles troquem experiências. Eu entrei na sala, brinquei, eles riram para caramba, eles pularam em cima de mim, a gente se divertiu muito.
CMN: Vocês conseguem fazer a diferença? E como foi com a pandemia de Covid-19?
Cláudio: Muito. Foi um momento que me marcou para caramba. Depois de um tempo, a coisa começa a mudar um pouquinho de figura, a gente vai tendo uma certa visibilidade, então passam a nos chamar. Nesse período de pandemia, por exemplo, num momento de hospitais lotados, UTIs lotadas, gente chorando e desesperada porque ninguém sabe o que vai acontecer, morrendo muito mais gente do que a gente tá acostumado a ver por conta de uma doença respiratória, e a gente fala assim: ‘Caramba, esse é o momento, onde a gente deveria estar dentro dos hospitais, do lado de um leito de UTI, para tentar fazer aquela pessoa desacreditada sorrir', e não podia. A gente não podia sequer visitar uma comunidade, uma escola, a gente não podia entrar num lugar público. Houve pessoas dentro da instituição que choraram, que disseram iria acabar o grupo. A gente tem contato com alguns grupos pelo país e sabe de muitos grupos que acabaram.
A gente começou a se reinventar. Primeira coisa, começamos a estudar sobre gestão do Terceiro Setor, gestão específica para grupos de palhaços voluntários. A gente precisava, de algum jeito, não perder os nossos voluntários, essa foi uma etapa muito difícil. Algumas pessoas foram embora por conta de trabalho, foi morar em outro país, eu tive o falecimento de uma pessoa muito querida. Ela coordenava o nosso trabalho dentro das casas de repouso e faleceu de Covid, foi um impacto muito forte. Minha equipe diminuiu.
CMN: Hoje são quantos voluntários?
Cláudio: Na equipe de palhaços, hoje nós somos sete pessoas. Eu tenho três contadoras de história e uma equipe grande que trabalha no administrativo.
CMN: Como está o projeto no momento?
Cláudio: Em 2020, durante a pandemia, a gente estava lá, batalhando, eu era a pessoa que tentava falar para todo mundo continuar, eu criava os projetos. No final de 2021, a gente fez um projeto online para as escolas públicas municipais durante três meses todo sábado a gente fez uma apresentação virtual para os alunos. Entre trancos e barrancos, entre a dificuldade de uma câmera e um áudio travar, entre tudo isso a gente conseguiu fazer um projeto com eles. Eu era a pessoa que tentava levantar todo mundo, mas isso tudo até a mim cansou, porque chegou 2022, a gente ainda não sabia o que ia acontecer. Eu tentei ir atrás de parcerias, ver o que era possível e ainda nada era possível.
Estava já batendo aquele desânimo até que, em fevereiro, recebi o contato da Dra. Patrícia, coordenadora do CAPS Infantil. A gente sentou, rabiscou o projeto e realizamos um evento incrível com temática circense. A partir dali, a gente publicou nas redes sociais, e a gente recebeu contato e começamos um trabalho quinzenal no Pró-Criança. Aos poucos, com o trabalho acontecendo, outras pessoas vão vendo e vão nos chamando.
CMN: Como as pessoas podem ajudar, financeiramente ou se voluntariando?
Cláudio: Hoje, a gente precisa muito de um espaço. Tem muito imóvel vazio em Mogi, e a gente não precisa de um prédio de mil metros quadrados, precisa de uma sala, onde a gente consiga capacitar pessoas, que a gente consiga, inclusive, montar um bazar nosso, porque grande parte do dinheiro que entra na Trupe do Riso é através dos nossos bazares. A gente está no Terceiro Setor, a gente sabe o quanto a falta da arte impacta na vida das pessoas.
A gente tem muita vontade do nosso espaço, que a gente consiga colocar o nome de Casa do Riso, ter uma pequena biblioteca, encher de criança, contar história, entregar um livro. É o nosso maior sonho hoje: ter o nosso espaço. Um espaço cultural transformador da cidade e da vida das pessoas. Se a pessoa não tiver uma casa, condições de ajudar financeiramente, o nosso trabalho é 100% voluntário, então a gente sempre precisa de voluntários em diversas áreas. Mais informações pelo site trupedoriso.org.br e nas redes sociais @trupedorisobr.