As relações humanas, a crítica à sociedade e a necessidade de políticas públicas para a cultura sempre foram assuntos trabalhados na dramaturgia da Cia. do Escândalo, que estreia o seu décimo espetáculo no dia 22 de abril no Galpão Arthur Netto de Cultura e Cidadania, em Mogi. Com o nome provisório de "O Inimigo", a peça convida o público a refletir sobre a capacidade que a sociedade tem de conquistar inimigos. Reflexo de estudos que o grupo tem feito desde o ano passado, a produção também tem como base o livro "Abril Despedaçado" e, assim como a obra do escritor albanês Ismail Kandare, apresenta um código oral de moral e conduta em que as pessoas têm o direito de fazer justiça com as próprias mãos, com base na Vendetta, conhecida também como vingança.
De acordo com Manoel Mesquita Junior, gestor do centro cultural e um dos fundadores da companhia teatral, o espetáculo tem como mote principal a fragilidade nas relações humanas e a tradição de as pessoas fazerem inimigos com facilidade. "As relações humanas têm se enfraquecido e as pessoas, cada vez mais, encontram formas de brigar, discutir e xingar sem ter motivo. Por que um motorista precisa mostrar o dedo do meio para o outro quando ocorre uma imprudência? Este é apenas um exemplo. Na peça, há um menino que passa pela situação de fazer inimigos ao longo de sua vida, seguindo a tradição de sua família", comenta o ator, que integra o grupo com os atores Thiago Costa, Ricardo Caffé, Camila Araújo, Isabela Zandoná, Vitor Gonçalves e Danilo Meirelles de Souza.
Com aproximadamente 21 anos de história, que serão completados no dia 9 de dezembro, a Cia. do Escândalo surgiu por meio de Lucena e da atriz Priscila Nicholiche, integrante do Grupo Quântica Laboratório, também de Mogi. "Trocamos muitas referências e chegamos até a montar um espetáculo, que recebeu o nome de 'Suicida'. No início, não pensava em atuar, apenas em dirigir. Convidamos algumas pessoas e uma delas foi o Arthur Netto, que fazia parte, na época, de outro grupo. Inclusive, a data de aniversário do grupo é em homenagem a ele, porque no dia 9 de dezembro foi quando ele passou a fazer parte da companhia. A Priscila saiu do grupo, mas continuamos e outras pessoas foram entrando, como, por exemplo, o Rui Longo", revela.
Além do espetáculo "Suicida", a companhia teatral tem "Eu Te Amo", "Mintchíííra", "O Tribunal da Santa Ignorância", "Fratello", "Intolerância", "Putismo", "Borracha", e o "O Sequestro do Secretário de Cultura" em seu repertório. Este último, que foi lançado em 2011, conta a história de um grupo de teatro que sequestra o secretário de Cultura por se sentir desvalorizado e marginalizado. "Com esse espetáculo, circulamos bastante e provocamos muitas reflexões. Inclusive, a peça chega até a ser profética e infelizmente termina de uma forma pessimista", relembra Mesquita.
Profissionalização
A Cia. do Escândalo iniciou a sua trajetória de forma amadora, porém decidiu, quatro anos depois de sua fundação, se profissionalizar. "Durante esse período, passamos por um dilema, porque, para nós, o amadorismo queria dizer que fazíamos teatro por amor. Uma parte do grupo desejava continuar da mesma forma, mas a outra parcela não, desejava se profissionalizar. Apesar disso, sempre fomos um grupo que fazia um monte de coisa. Um dos eventos foi o 'Vitamina', que reuniu cinema, artes plásticas e literatura. Foi a partir daí que encaramos a companhia teatral como profissão", finaliza.