O principal desafio para a população idosa neste ano deve ser a retomada da "vida normal", interrompida pela prolongada pandemia de covid-19. "Voltar à vida normal não vai ser fácil. Muitos idosos estão completamente isolados, com depressão, com medo de sair de casa, de ver gente, muitos com sequelas do covid, endividados com empréstimos consignados feitos para ajudar familiares ou vitimas dos próprios sistemas financeiros que, sem solicitar o empréstimo, depositam o valor na conta do aposentado e depois ele não consegue devolver sem pagar juros. Enfim, superar tudo isso será um grande desafio", destaca Juraci Fernandes Almeida, presidente do Conselho Municipal do Idoso (CMI) de Mogi das Cruzes.

O Conselho não parou e, em 2022, já teve sua primeira reunião no dia 11 de janeiro. No encontro, segundo Juraci, foram debatidas a reorganização da rede de atendimento à pessoa idosa na Assistência Social, e a reestruturação de serviços voltados à população idosa, como o projeto Cecim (Centro de Convivência do Idoso Mogi das Cruzes), que está suspenso temporariamente, e o Pró-Hiper. Serviços que, de acordo com ela, precisam ser atualizados.

Segundo a presidente do órgão em Mogi, os Conselhos são de fundamental importância. Eles foram criados para propor políticas públicas necessárias à população idosa, acompanhar sua implantação e fiscalizar os serviços públicos e privados. "O Conselho do Idoso tem inclusive um diferencial. É obrigado, por força de lei, a zelar pelo cumprimento dos direitos dos idosos definidos no Estatuto do Idoso, e quando não são cumpridos e denunciados no CMI, temos que tomar as providências cabíveis. Temos bastante trabalho, e o fato de ser um trabalho voluntário (sem remuneração) talvez seja o motivo de termos tão poucos interessados em participar do colegiado", salienta.

Pandemia

O atual cenário da pandemia de covid-19, para Juraci, não deve impedir a retomada das atividades presenciais. "Penso que o ser humano não foi feito para viver isolado. Não aguentamos, temos sequelas do covid e do isolamento. Vamos ter que conviver com essas pestes de coronavírus, gripes e outras mais que aparecerem. O que precisamos é respeitar as orientações da ciência, que vêm mostrando cada vez mais sua eficiência e tomar todas as vacinas. Cabe aos governos em suas esferas, exigir apresentação da carteira de vacinação até na padaria pra comprar pão", defende.

ILPIs

Um problema antigo não apenas em Mogi, mas em outras cidades do Estado é a fila de espera para uma vaga em uma instituição de longa permanência para idosos (ILPI), como são chamados as casas de repouso, asilos e residenciais. "Essa novela é antiga. Pessoas idosas estão vivendo de forma indigna, sem família e sem teto. Envelhecer não está fácil", afirma a presidente do Conselho Municipal do Idoso. Juraci conta que uma reunião deve ser marcada em breve com o prefeito de Mogi, Caio Cunha, e ela sugeriu que inclua secretários municipais, para traçar projetos para um envelhecimento ativo, participativo e saudável para a população mogiana.

"Recentemente a mesa diretora do CMI teve uma reunião com o prefeito Caio Cunha e minha primeira pergunta pra ele foi: 'O que está sendo feito para que a população idosa mogiana que, já ultrapassa os 64 mil, tenha um envelhecimento ativo, participativo e saudável? O que temos programado para a pessoa idosa dentro das pastas da Saúde, Esporte, Cultura, Lazer, para que isso seja uma realidade?' Ele, com muita sinceridade, me respondeu: 'Minha prioridade eram as crianças, mas a senhora tem razão. Precisamos ter um planejamento para essa população'", relata Juraci, confiante de que o planejamento seja feito e executado.

Eleições

Este é um ano eleitoral e o envelhecimento deveria estar na pauta dos candidatos. "Como sempre a pessoa idosa está apenas no discurso. Ninguém quer cuidar dos idosos, nem a família. No Conselho, me deparo com isso todos os dias através das inúmeras denúncias de violência, uma mais triste que a outra", afirma.

O desafio também é estimular a participação na cobrança de projetos. "Os dados da Eleição 2020 mostram que houve um aumento significativo na participação da população idosa, isso é muito bom, mas como existe uma negação dos próprios idosos quanto a ser idoso, eles não cobram projetos para idosos", conclui Juraci.