Muita comida e ainda mais gordurosa e salgada, como se o corpo estivesse carente disso para se aquecer. Para acompanhar, vinho, pois a sensação do clima frio do inverno parece exigir doses a mais de álcool. Há também quem troque os saudáveis sucos coloridos por barras de chocolate. Além disso, a estação é resultado de menos exercícios, pois é difícil sair numa manhã gelada para ir à academia. Caminhadas ao ar livre, menos ainda - um martírio suportar esse vento no rosto pelas ruas. Pedaladas, nem pensar, é castigo em dobro, por mais que o corpo se aqueça depois de alguns minutos - o frio é cortante. Dessa forma, com essa mudança de tempo, todos os hábitos saudáveis adquiridos nos dias quentes do verão são abandonados em nome de um conforto maior no inverno, salienta o médico Américo Tângari Junior, especialista em cardiologia pela Sociedade Brasileira de Cardiologia e Associação Médica Brasileira. Segundo ele, roupas pesadas, alimentação forte e uma sensação de aquecimento ao pé da lareira são algumas ações preferidas das pessoas no inverno. "Mas vale a pena passar a temporada de inverno assim, hibernando e ganhando peso?", questiona. "A resposta está nessa informação: as mortes por enfarte do miocárdio aumentam 30% durante o inverno, segundo estudos feitos em todo o mundo há pelo menos 50 anos". O médico informa que alimentação pesada, a volta ao sedentarismo e a pouca atenção à prevenção favorecem as doenças do miocárdio, especialmente se a pessoa tem alguma predisposição e não sabe, o que é comum. Para não entrar de forma trágica nessa estatística, o melhor remédio, conforme o especialista, é procurar um médico, submeter-se aos exames e se precaver. Depois, seguir uma dieta própria para o corpo e se preparar para uma vida longa e mais saudável. De acordo com Tângari Junior, que também integra a equipe de Cardiologia no Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo, todas essas doenças do miocárdio - AVC`s, hipertensão, ataque cardíaco, aterosclerose e outras - resultam de um estilo de vida inapropriado. Entre os principais fatores que ocasionam estas doenças estão má alimentação, tabagismo, álcool, sedentarismo, obesidade, além do estresse do dia-a-dia. "Mesmo que a pessoa não fume, não beba e caminhe regularmente, deve ficar atenta, pois viver sem estresse nas grandes cidades brasileiras é quase um milagre. Sem poluição, impossível. Importante saber que qualquer pessoa pode sofrer de pressão alta, uma doença silenciosa. Estima-se que ¼ da população seja hipertensa", alerta.
Prevenção
Para ele, nada na medicina substitui aquele verbo que todos conjugam, mas poucos o praticam: prevenir. "Mesmo que não haja na família um parente com histórico de doença coronariana, ou mesmo nenhum sintoma, ainda que se sinta forte como um touro ou esportista, não deixe de estar sempre atento ao seu coração", ressalta. Também é importante manter a visita ao médico em dia, realizar os exames, monitorar os medicamentos de que faz uso, além de praticar exercícios indicados e manter uma alimentação saudável.
Estudos conduzidos pelos doutores Rodolfo Sharovsky e Luiz Antonio Machado César mostraram que, ao sentir frio, os receptores nervosos da pele estimulam a liberação de adrenalina e noradrenalina, este um hormônio responsável por contrair os vasos sanguíneos.
O especialista explica que o consequente estreitamento dos canais de circulação do sangue, embora não tão significativo, pode gerar rupturas de placas de gordura no interior das artérias coronárias, que irrigam o coração. "Neste processo, as proteínas e plaquetas do sangue são designadas para reverter o quadro e isso aumenta as chances de formação de coágulos (responsáveis pelo entupimento das artérias) e provocar o enfarte do miocárdio", explica.