O anúncio do governo dos Estados Unidos, no último dia 9, de aplicar uma tarifa de 50% sobre todos os produtos importados do Brasil a partir de 1º de agosto tem gerado preocupação entre autoridades e representantes do setor produtivo do Alto Tietê. Com exportações expressivas para o mercado americano, a região teme prejuízos em toda a cadeia de consumo. Entidades representativas da indústria e do comércio têm ampliado o diálogo com as empresas e defendem uma solução diplomática para a questão.

De acordo com dados do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Derex) da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), divulgados pelo Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) Alto Tietê, os Estados Unidos foram o principal destino das exportações regionais entre janeiro e maio deste ano, somando US$ 93,5 milhões. 

A taxação, segundo o Ciesp Alto Tietê, pode atingir diretamente segmentos como papel e cartão, máquinas e aparelhos mecânicos e materiais elétricos, que lideraram as exportações neste ano. A entidade divulgou nota manifestando “profunda preocupação” com o embate político entre os presidentes dos Estados Unidos, Donald Trump, e do Brasil, Luis Inácio Lula da Silva, classificando a medida como uma retaliação pessoal e ideológica, sem base econômica concreta.

Para o diretor regional do Ciesp Alto Tietê, José Francisco Caseiro, faltam justificativas técnicas para a decisão americana. Ele lembrou que, apenas na última década, o superávit comercial dos EUA em relação ao Brasil somou US$ 91,6 bilhões no comércio de bens, e incluindo serviços, esse número chega a US$ 256,9 bilhões.

Entre janeiro e maio deste ano, os principais destinos das exportações do Alto Tietê foram: Estados Unidos (US$ 93,5 milhões), Argentina (US$ 52,7 milhões) e Chile (US$ 24,7 milhões). No mesmo período, os principais países de origem das importações foram: China (US$ 106,9 milhões), Japão (US$ 94,1 milhões) e Estados Unidos (US$ 60,9 milhões).
 
 O diretor também salientou que “questões pessoais e ideológicas de governantes não podem prevalecer em relações internacionais”, sob o risco de comprometer o desenvolvimento e o bem-estar das populações. Ele defendeu ainda o diálogo diplomático como caminho para a solução de conflitos.

Comércio
 
O Sindicato do Comércio Varejista de Mogi das Cruzes (Sincomércio) alerta que a tarifa pode provocar retração nas vendas, impactando o consumo. “Se se confirmar a tarifa, a gente prevê uma queda de até 30% nas vendas no geral, em dois, três meses.” Para ele, os efeitos devem ser sentidos de forma ampla. “Independentemente das preocupações políticas, são os reflexos diretos no mercado. Os preços que devem subir e nas relações comerciais que sustentam. Se cair os empregos na indústria, as vendas caem na mesma proporção, por exemplo. É tudo uma cadeia”, disse o presidente da entidade, Valterli Martinez. 

Martinez ressaltou que o aumento de custos e a instabilidade política afetam diretamente o pequeno empresário da região. “No Alto Tietê, milhões de famílias têm sua renda vinda das indústrias, o que abala diretamente o comércio. O comércio já está afetado pelo aumento de custo, pois tivemos recentemente um grande aumento nos impostos”. Ele defende mais responsabilidade nas decisões políticas e fiscais, e afirmou que, além da tarifa americana, outras medidas recentes também preocupam o setor, como o decreto que aumentou a alíquota do Imposto de Operações Financeiras (IOF).
 
 O Sincomércio, de acordo com o seu presidente, tem trabalhado para apoiar os empreendedores locais. “Estamos atentos para que a gente oriente o comerciante para ter uma boa gestão do seu capital, dos seus investimentos”, disse, destacando ações como a Loja do Futuro, em parceria com o Sebrae-SP, além de programas de capacitação e campanhas para estímulo ao consumo no comércio local.
 
 “Estamos fazendo campanhas agora para reativação de créditos, conversando com bancos, Serasa, com várias instituições para minimizar esse impacto financeiro e trazer pessoas para consumir no comércio novamente”, completou Martinez. Ele se mostra otimista com uma possível mudança no cenário. “Eu acredito que terá uma reversão nessa situação, pois isso também afeta muito a economia americana,que terá problemas internos. O governo vai ter que fazer pressão”.
 
 Prejuízo 

Em vídeo publicado nas redes sociais, a prefeita de Ferraz de Vasconcelos, Priscila Gambale, se manifestou sobre a taxação americana e afirmou que o município pode perder até R$ 4 milhões com a medida. A estimativa, segundo ela, considera possíveis quedas nas transferências do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) e do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).
 
 Segundo a prefeita, os investimentos em áreas como educação, saúde e prestação de serviços estão ameaçados. Ela defendeu a retomada do diálogo entre os governos para evitar que os prejuízos recaiam sobre os municípios.