O amor não tem tempo para chegar nem roteiro pré-definido. Neste Dia dos Namorados, celebrado hoje (12), histórias de moradores de Mogi das Cruzes mostram que novas paixões podem florescer em diferentes fases da vida. Ricardo Fernandes e Marta Vicentin encontraram novos parceiros após os 40 anos, se permitindo viver novas histórias. Já Maria Helena da Silva se casou após os 70 e virou inspiração para outras pessoas.
 
 O mogiano Ricardo Fernandes, de 47 anos, que trabalha na área de rádio e televisão, vive um relacionamento recente com Anderson Bueno, 40, que mora na capital. A relação já é marcada por cumplicidade e planos para o futuro. Os dois superaram desafios de relações passadas e encontraram um no outro um suporte.
 
 Fernandes lembra que, aos 43, teve um relacionamento desafiador que durou três anos com uma pessoa que tinha metade da sua idade. “São gerações diferentes. As ideias não batem e nem planos para o futuro”, contou.
 
 Sem pretensão e até um pouco "desacreditado do amor", Fernandes conta que conheceu Bueno por meio de um aplicativo de relacionamentos em abril deste ano. Depois de um mês, eles marcaram o primeiro encontro. “Quando nos conhecemos pessoalmente foi amor à primeira vista. Fomos justamente para assistir a um filme de terror. Foi uma conexão”, contou o mogiano.
 
 Para Fernandes, filho mais novo de uma família de dez irmãos, a maturidade faz toda a diferença. “Nos outros relacionamentos eu me sentia bem mais imaturo, agora sou eu que estou bem. Tudo é diferente, porque ele já passou por muita coisa, assim como eu”, destacou. "É possível sim encontrar alguém em uma idade mais velha e se permitir ser feliz, principalmente depois de lições. Vá viver com alguém que te transborde porque completo você já é", aconselhou.
 
 Por ser um casal gay também há outros desafios. “A gente se poda, enfrenta preconceito desde pequeno, mesmo sem saber o significado disso. Tem parentes que não aceitam. Já outras pessoas dizem que dois homens não vivem amores verdadeiros, apenas superficiais”, conta Fernandes. Segundo ele, após uma vida marcada por julgamentos, fica mais difícil confiar e se entregar a outra pessoa, mas agora a história é diferente. “Hoje, o fato é que um já não vive sem o outro”, comenta.
 
 Noiva aos 50 anos

A jornalista Marta Vicentin, 53, também vive um recomeço amoroso. Após o fim de um longo casamento, ela entrou em uma nova fase e o amor aconteceu naturalmente. Em 2017, aos 45 anos, conheceu o comerciante Valdecir José de Paula, 60, e embarcou em um novo capítulo que já dura oito anos.

A jornalista lembra que o encontro entre eles foi despretensioso e reforça que o mais importante é se permitir viver novas histórias. "Quem diria que aquele encontro fosse se tornar um relacionamento cheio de boas histórias, companheirismo, cumplicidade e paixão, e eu me permiti viver isso tudo, sem grandes expectativas. Ao longo dos anos esse relacionamento foi ficando sólido e as diferenças todas se tornaram uma jornada de aprendizados diários como, por exemplo, deixar de lado as pequenas bobagens do dia a dia e focar no que importa, que é colecionar momentos felizes”, destaca Marta. “Nessa fase você sabe exatamente o que você não quer”, complementa.

O pedido de casamento veio de forma marcante: durante sua festa de 50 anos, Valdecir fez um discurso emocionado na hora do parabéns e lhe entregou um anel de noivado. Hoje, vivem como noivos, mas sem pressa para formalizar a união. “O interessante é que criamos uma nova família, o relacionamento permitiu unir nossa família”, afirma a jornalista, que tem duas filhas.

Para Marta, recomeçar faz parte da maturidade e do autoconhecimento: “É muito interessante recomeçar sua vida com alguém. Você se dá essa oportunidade de ser feliz novamente, de ter uma companhia”.

Casamento após os 70
 
A aposentada Maria Helena, 72, acredita que uma série de coincidências a levou a reencontrar o amor em plena maturidade. Sua história com Claudine dos Santos, 77, também aposentado, começou de forma inesperada e acabou se tornando inspiração para outros casais, especialmente da igreja que frequentam.
 
Tudo começou, em junho de 2023, quando Maria Helena, que já havia se separado há 10 anos, e Claudine, há 21 anos, se conheceram durante um encontro religioso. “Eu nunca me sentava ao lado de outros homens e nunca chegava atrasada, o que aconteceu justamente nesse dia e me fez sentar ao lado dele”, relembra. Justamente nesse dia houve orações específicas para casais e aos solteiros.
 
Sentados um do lado do outro, a conversa começou naturalmente, e ela, que mora no Rodeio, ao final do encontro, ofereceu uma carona para ele, que é de Cezar de Souza. Desde então, os dois passaram a se falar com frequência e, como ela descreve, “do nada iniciou o nosso namoro”.
 
O casal oficializou a união há um ano. “Nunca mais teve outro momento na igreja específico para casais como aquele. Parece que tudo foi preparado”, comenta Maria Helena, que revela que os colegas da comunidade ainda comentam como foi especial o encontro deles. “As pessoas se espelham na gente”, destaca. 
 
A relação, segundo a aposentada, é marcada por respeito, companheirismo e maturidade, depois de um primeiro casamento conturbado. “Entre a gente não existe problema. Se não fosse a situação financeira do Brasil, estaríamos num mar de rosas.” Maria Helena admite que tem um temperamento forte, mas admira a forma como o companheiro conduz os conflitos. “Eu sou mais brava, e ele entende. Ele não aceita briga, e isso eu admiro muito nele”, finaliza.