Cerca de mil pessoas são esperadas neste domingo (27), a partir das 9 horas, para a Segunda Virada Autística de Mogi das Cruzes. O evento, que é organizado pelo Instituto Resiliência Azul, traz para o Pipa Hub, no Centro da cidade, palestras, relatos, atividades culturais e vivências de autistas, familiares e apoiadores. A atividade, que deve seguir até às 17 horas, também contará com a participação de diversas entidades regionais dedicadas ao segmento, especialistas e pessoas envolvidas com os direitos de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA).

Após ser incluída no calendário oficial de Mogi das Cruzes, por aprovação de projeto de lei de autoria da líder social do Instituto, Diiva Battista, e apresentado pelo vereador Marcos Furlan (Pode), a Virada deste ano celebra o Dia Internacional de Conscientização sobre o Autismo, ocorrido no dia 2 deste mês, e busca fortalecer os vínculos da comunidade atípica e promover um momento de lazer e comunidade por meio da cultura.

Cultura e lazer

Segundo a organização da Virada Autística, o evento contará com atividades culturais, como a apresentação musical ao vivo da Família Camargo e do artista Leandro Lopes Bass. A apresentação da Família Camargo, em que alguns integrantes da família são autistas, trará um repertório de Música Popular Brasileira. Já o show do artista Leandro Lopes Bass revisitará clássicos do rock nacional e internacional dos anos 1980 e 1990. O público também poderá se divertir com a seleção musical do DJ Luciano Baloba.

Para Michele Camargo, 44 anos, vice-diretora escolar e integrante da Família Camargo, a falta de inclusão dificulta muito a vida do autista e da família, gerando isolamento. Michele se descobriu autista há dois anos, após seu filho receber o mesmo diagnóstico. Por vivenciar o autismo, ela acredita que “o ponto mais delicado na inclusão está na educação, pois é uma fase longa da vida do autista devido à falta de profissionais capacitados para a efetiva inclusão escolar”. Segundo ela, a incompreensão da motivação de alguns comportamentos e o desconhecimento podem dificultar a convivência.

“Eventos como este são muito importantes para mostrar para a sociedade que nós, autistas, podemos fazer tudo que as pessoas típicas fazem, mostrando que apenas somos diferentes, mas não incapazes, reforçando a conscientização e sensibilização”, define. No dia, também ocorrerá a exposição de trabalhos da fotógrafa Daniela Cunha, parceira do Instituto Resiliência Azul e de outras iniciativas em prol de políticas de inclusão. O evento também disponibilizará espaço e material para oficinas de arte e jogos de tabuleiro.

Expandindo Horizontes

Outra iniciativa importante no evento é o segmento “Profissão Inclusão”, no qual pessoas autistas ou aliadas da causa apresentarão suas carreiras e histórias. Na atividade, o tenente da Polícia Rodoviária, André Belarmino, aliado da causa, apresentará o trabalho da polícia e sua motivação para aproximar a corporação de jovens e adultos autistas ou com deficiência, por meio de visitas guiadas e outras atividades. David Souza, bombeiro socorrista e futuro terapeuta ocupacional, relatará sua experiência com diagnóstico recente de TEA e Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH). A preocupação com a inclusão e o acolhimento são características da família de Souza, já que sua esposa é psicóloga especializada em TEA e seu filho, estudante de Fonoaudiologia.

A enfermeira Steffanny Costa Silva Ribeiro, especialista em Urgência e Emergência, também participa do segmento, trazendo em suas falas abordagens teóricas e práticas inovadoras, relacionando a área da saúde às necessidades de pessoas neurodivergentes. O “Profissão Inclusão” também possibilitará que os interessados possam se aventurar na seleção de músicas, mixagem e reprodução de faixas com o DJ Luciano Baloba. 

Já o casal Caio e Kátia Manço apresentará um relato sobre Direito Animal, Meio Ambiente e Autismo. Há três anos, ele começou a atuar diretamente com essas causas em Mogi das Cruzes. Além de protetor e articulador por políticas públicas, ele participa de diversos projetos relacionados ao meio ambiente. “Luto pela implantação de um CETAS (Centro de Triagem de Animais Silvestres do Ibama) aqui no Alto Tietê. Atualmente, estou na prefeitura, trabalhando no Núcleo de Bem-Estar Animal”, relata. Ele também é voluntário em uma praça de Mogi das Cruzes e do SOS Mata Atlântica.

 O evento, segundo ele, não deve se limitar apenas às pessoas com TEA, pois o acolhimento dos familiares e profissionais da saúde é fundamental. Ele também considera que Mogi das Cruzes ocupa uma posição de destaque por sediar eventos como a Virada Autística e por ter ferramentas como a Escola Clínica TEA. Para Caio, o evento potencializa as capacidades de pessoas e famílias ao propiciar oportunidades, experiências e conhecimentos. “Muitas vezes a família recebe o diagnóstico como uma sentença de morte. Diagnóstico não é uma sentença. Ele é uma possibilidade. Se você souber trabalhar isso, falar com as pessoas certas, estar engajado, as possibilidades são infinitas”, conclui.

Educação e serviços

Além das atividades culturais, a Virada contará com a presença de profissionais do Cras e do Poupatempo, que estarão à disposição dos participantes para orientar a respeito de direitos, políticas públicas de assistência e procedimentos administrativos ou legais. Fabíola Prince, representando a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), também trará seu conhecimento, enquanto advogada e mãe de adolescente autista, sobre legislação e direitos de pessoas com TEA ou outras deficiências.

A Associação Madre Esperança de Jesus e a Escola Clínica TEA, inaugurada em 2024, também participam do evento, administrando uma sala terapêutica com jogos e outras atividades relevantes para o público autista. No espaço sensorial, coordenado pela neuropsicopedagoga Adriana Magalhães, pela psicóloga especialista em ABA Milena Patella e pela fisioterapeuta e neuropsicomotricista Adriana Mendonça, a comunidade autista poderá encontrar um espaço projetado para acolhimento, visando minimizar sobrecargas sensoriais e facilitar a regulação daqueles que necessitem.

Para discutir o direito da população autista e de suas famílias, o Dr. João Victor Moussalem conduzirá uma palestra. Os movimentos Mãe Onça e Autistas Alvinegros também participam, discutindo desafios, demandas e conquistas. Lidia Pelegrino e Marcelo Cerrato também apresentam a musicoterapia como ferramenta de aumento da qualidade de vida de pessoas autistas.

Histórico

A primeira Virada Autística de Mogi das Cruzes ocorreu no dia 27 de abril de 2024. Conforme Diiva Battista, apesar das dificuldades para realizar o evento, ele possibilitou o fortalecimento do movimento TEA na região, inspirando outras iniciativas e aproximações entre famílias e projetos. Para Rafael Lopes, 37 anos, participante do movimento Autistas Alvinegros, essa foi a principal conquista do evento. “Foi muito importante, porque conseguimos reunir os familiares atípicos e as crianças. É de suma importância que consigamos ter mais eventos como aquele.”

Para a organizadora do evento, a festa está melhor estruturada e mais completa neste ano. “O intuito da Virada é externalizar a parte cultural dos autistas e suas famílias para que as pessoas possam se conhecer e se conectar”, define. O Pipa Hub, que receberá o evento, fica na rua Francisco Franco, nº 500, Centro de Mogi. 

Foto I: Rafael e outros integrantes do Movimento Autistas Alvinegros
Foto II: Caio e a esposa Kátia Manço
Foto III: Michele e o filho Victor, autistas, e o esposo Leandro
Foto IV: Diiva Battista, líder social do Instituto Resiliência Azul