No oitavo mês do ano, a campanha Agosto Lilás faz referência à Lei Maria da Penha, que completou 17 anos em 2023, reconhecendo a violência doméstica como crime. Como forma de ressignificar marcas e cicatrizes de vítimas desta violência, Fabiana da Silva Rosetti, tatuadora há 21 anos, criou o Projeto Recomeçar Tattoo para atender gratuitamente essas mulheres.
O projeto começou em 2012, em São Paulo, sua cidade natal, após Fabiana ver uma tatuadora de Curitiba (PR) atender mulheres na mesma situação. De início, o procedimento era realizado uma vez por mês, mas com a demanda crescente, o número de atendimentos aumentou. “Acredito que já passei de 300 atendidas, dependendo do tamanho da cicatriz atendo de 4 a 5 por mês, pois, além das vítimas de violência doméstica atendo as de câncer, automutilação e cirurgias malsucedidas”, comenta Fabiana, que atualmente está em Mogi das Cruzes.
As tatuagens não têm nenhum custo. São atendidas vítimas com cicatrizes de violência, automutilação e acidente. A profissional comenta que devido à complexidade do local, os preços costumam ser mais elevados do que o comum, por isso que muitas não conseguem custear o procedimento. No início, segundo Fabiana, é realizada uma avaliação, em que a mulher comenta e manda foto da cicatriz. O procedimento é feito apenas em maiores de idade que tenham a marca há 2 anos ou liberação médica.
Reconhecimento
Depois de uma década, Fabiana relata que todo o custo do projeto sai de seu bolso, com o ganho de outras tatuagens. Para ela, a ação social só acaba se mais ninguém precisar de seus serviços. A tatuadora participa de outros projetos que trabalham a conscientização e orientação de mulheres vítimas de violência doméstica, como o Projeto Acredita Poderosa, que tem uma programação especial ao longo deste mês, além de manter contato com outras ações fora de São Paulo, participando de eventos e palestras.
Em 2020, o Projeto Recomeçar foi destaque na televisão japonesa e ganhou reconhecimento além do território brasileiro. Fabiana comenta que isso representa uma mistura de sentimentos: “Feliz por estar sendo divulgado e triste por ver que existem tantas mulheres com esse tipo de cicatriz”.
Entre as histórias que mais a emocionou, ela comenta de uma mulher que saiu de Santa Catarina, no Sul do país, para que ela fizesse uma tatuagem. “Atendi uma moça de Balneário do Camboriú. Ela nunca tinha vindo para São Paulo e muito menos viajado de avião. Os patrões dela deram a passagem e ela passou o dia comigo. O ex-marido colocou fogo nela e ela estava grávida de 3 meses. Passou a gravidez toda no hospital e graças a Deus, e ao médico, teve a filha. O agressor foi preso, porém, como tinha bons antecedentes, acabou saindo”, contou.
Em julho deste ano, o projeto completou 11 anos, superando as expectativas: “Nunca imaginei a repercussão que teve, também nunca imaginei que conseguiria manter por tanto tempo. Fico muito feliz em continuar ajudando e apoiando essas mulheres. O preconceito com as tatuagens ainda existe, porém, é bem menor. Atendo pessoas que não têm e acabam fazendo para não ter que ver a cicatriz mais”, finalizou.
Para obter mais informações, entre em contato pelo número de WhatsApp (11) 98788-6836, por meio do e-mail fdasilvarosetti@gmail.com ou no Instagram pelo perfil @rosettifabi ou @projetorecomecartattoo.
*Texto supervisionado pelo editor.