A figura do pai provedor, sério ou até bravo, sem grandes demonstrações de carinho, sendo responsável apenas pelo custeio dos gastos que envolvem um filho, tem perdido força em muitas famílias. Um modelo de paternidade mais consciente, presente e amorosa ganha espaço e dá sinais de que, por meio dele, é possível construir uma relação mais consistente, saudável e feliz.
Hoje, data é que é comemorado o Dia dos Pais, o Mogi News/Dat apresenta a história do médico pediatra Fabiano Fonseca, pai de três meninos, que vê a paternidade como um propósito de vida capaz de torná-lo um cidadão e um profissional melhor; e do jornalista William Almeida, que estabeleceu uma relação de igualdade em sua família aos assumir tarefas domésticas e o cuidado com o filho para que a esposa pudesse crescer profissionalmente.
Pais de três, médico acredita na educação respeitosa pautada no amor
A paternidade não estava nos planos do médico Fabiano Fonseca, de 39 anos, que aos 17 anos foi sozinho para a Bolívia com o sonho de cursar Medicina. Foi lá que, além do amor pela profissão, ele encontrou a esposa, a médica peruana Pamela Cuzmar. De volta ao Brasil, já casado o e formado, a vida lhe presentou, de diferentes formas, com três filhos: Davi, de 9 anos, João de 8, e Pedro de 5.
Foi a partir da chegada do trio que ele entendeu a paternidade com um espaço para trabalhar a fraternidade, algo que sempre buscou. “Quando criança e jovem eu sempre pensava em ter uma vida onde eu pudesse viver uma fraternidade, mas não via isso na paternidade, pensava em outros projetos, até que então me casei e virei pai, e pude entender que lugar onde mais se pode viver o amor e a fraternidade é na família”.
Ao se tornar pai, Fonseca afirma ter encontrado também mais um propósito de vida. Ele destaca que o homem é a única espécie que os filhos necessitam dos pais por tanto tempo para se desenvolverem. “Por muito tempo eu me perguntava o porquê disso, até que pude entender que é por essa necessidade de ‘troca’, de aprendizado, e uma oportunidade de fazermos crescer a semente do amor que todos trazemos em nosso DNA.
Penso que o maior desafio do homem seja ter consciência de qual é o seu propósito nessa vida. No meu caso eu busquei esse propósito na profissão, na religião, na filosofia e, depois de muito, tempo entendo que ser pai é o meu propósito de vida. O Criador me confiou três vidas para que eu possa ensinar o caminho do bem. Quando se compreende isso, não há propósito maior que esse”.
Atento as necessidades e rotina dos filhos, o médico se divide entre o trabalho e suas tarefas de pai, como brincar, ajudá-los na tarefa e levá-los para a escola. “Eu sempre gostei de ter responsabilidades e compromissos na vida, e a paternidade resume os maiores deles ao meu ver. Para mim é algo que me preenche coisas como levar o filho na escola, cultivar uma horta com eles e por isso tento sempre que posso estar presente”.
Nova visão
A paternidade mudou não apena a vida pessoal médico, como também sua forma de exercer a Medicina. Ela destaca que, ao viver alguns momentos como pai de um paciente grave, já que seu filho precisou passar por algumas cirurgias em função de problemas de saúde enfrentados na infância, consegue olhar de uma maneira mais real para as situações, ter empatia com os pais e pautar sua vida como médico tendo um olhar para isso.
“O Davi precisou de muitas intervenções cirúrgicas, e seu sempre estive presente nelas. No começo pensando como médico, até que algumas delas tiveram momentos difíceis e aí entendi que eu era o pai. Nesse momento me coloquei mais na posição de pai. Foram momento de muita tensão, medo e angústias, mas graças a Deus fomos muito amparados e tudo deu certo”, relembra.
“Cuidei sozinho do meu filho enquanto minha esposa viajava a trabalho por um mês”
Imaginar uma mulher sendo responsável pelos cuidados do filho enquanto o marido viaja a trabalho é uma situação normal. Agora imagine um pai cuidando do filho sozinho durante um mês enquanto a esposa viaja para Londres a trabalho? E se essa situação se repetir não apenas uma, mas duas vezes?
Essa é uma das histórias que o jornalista Willian Almeida conta desde que se tornou pai e decidiu que viveria sua paternidade da forma mais afetiva e próxima possível. Integrante desse movimento de homens que decidiu enfrentar essa experiência de igual para igual com a mães, ele já colhe os frutos dessa relação única e cheia de desafios e vitórias vivida com o pequeno Caetano, de 5 anos.
“Desde que descobrimos a gravidez e a ficha caiu, pensei ‘essa criança vai precisar de um pai, então se vira’. Logo que o Caetano nasceu eu consegui juntar as licenças que eu tinha direito e as férias e ficar 40 dias em casa, dando todo suporte que minha mulher precisava. Eu cuidava de tudo da casa para que ela se concentrasse no bebê. Eu ficava responsável pelos banhos também e assim começamos a construir o nosso laço”, relembra.
Conforme o garoto crescia, Almeida, que trabalhava fora na época, passou a pegá-lo na casa da avó e a preparar suas refeições também, além do cuidado diário, das brincadeiras e os afazeres domésticos. Após alguns meses, o jornalista passou a trabalhar em casa, juntamente com a esposa e também jornalista Ariane Noronha, fundadora da ONG Sou Bilingue. “Nesse momento eu entendi que a nossa relação mudaria e para melhor, porque eu estaria ali, sempre com ele, brincando, atendendo suas necessidades e cuidando de fato dele o dia todo.”.
Quando Caetano estava prestes a completar 3 anos, Ariane viajou para fora do Brasil pela primeira vez após o nascimento do filho. “Eu incentivei ela a ir, poque acho importante o Caetano saber que a mãe dele trabalha, tem sua carreira, que a maternidade não limita ela. Nós tivemos alguns perrengues durante aquele período de quase um mês, mas ficamos bem sozinhos. A noite era mais complicado, porque ele queria a mãe, mas conseguimos enfrentar as dificuldades juntos e aquilo nos fortaleceu muito como pai e filho”.
Em maio deste ano, uma nova viagem uniu os dois mais uma vez. Durante 30 dias estiveram juntos novamente e a experiência foi ainda melhor. “A gente se dá super bem, ficamos juntos numa boa. O Caetano sempre me viu fazendo comida, limpando a casa, cuidando dos animais. Vou nas reuniões da escola, nas consultas médicas, então ele sabe que o pai divide igualmente os cuidados dele com a mãe, que somos parceiros”, detalhou. Segundo o jornalista, exatamente por isso, a esposa se sente segura em deixá-lo para viajar e trabalhar, assim como filho se sente seguro em ficar somente com o pai.
Referência
Estabelecer essa relação de confiança e ser exemplo para o filho são algumas das metas de Almeida como pai. Para ele, é importante que Caetano corra para ele e não dele quando enfrentar um problema e para isso cria uma relação uma relação cada vez mais sólida e única com o garoto.
“Quero que ele tenha boas memórias afetivas da infância tendo o pai presente. Quero que ele seja um adulto que entende a importância de cuidar da casa, de ter um relação de respeito e amor com os familiares. Sei que não faço nada de extraordinário. Faço o que todo pai tem a obrigação de fazer, mas tento fazer sempre o meu melhor”, finalizou.