O ex-jogador Marcelinho Carioca contou o início de sua carreira na primeira parte de sua participação no Café com Mogi News. Nesta segunda parte, em parceria com a Padaria Tita, o assunto é voltado para o Estado de São Paulo, partindo da sua história tão representativa no Corinthians até seu trabalho, hoje à frente da Secretaria de Esportes e Lazer de Itaquaquecetuba. Destaque para o projeto Terrão Corinthians Itaquá, que possibilita jovens atletas a participarem de uma peneira no clube da capital paulista.

Café com Mogi News: Foi no Corinthians que você recebeu a alcunha de “Marcelinho Carioca” e se transformou no ídolo da Fiel. Como explica o fenômeno que foi no Timão e o que o clube significa para você?

Marcelinho Carioca: Eu cheguei no Corinthians no dia 23 de dezembro de 1993. Se eu falar que queria ter vindo para São Paulo, é mentira, porque o meu sonho era jogar no Maracanã e no Clube de Regatas  Flamengo. Vim a contragosto, mas foi a melhor coisa que me aconteceu na vida, por isso falo que é “Corinthians minha vida, Corinthians minha história e Corinthians meu amor”.

A primeira frase que falei para o presidente Alberto Dualib foi: “Eu vim aqui para fazer história”. Ele me perguntou se eu sabia o tamanho do clube e respondi que sim, que vinha de um clube de massa, gigante e que tinha feito história lá e faria uma maior ainda no Corinthians. Deu no que deu: 10 títulos, sou o maior vencedor da história do clube; 206 gols marcados em 433 jogos; em 2010, humildemente, ganhei como o Senhor Centenário e é difícil falar de si mesmo, mas contra fatos não há argumentos.

Recentemente a TNT Sports fez uma pesquisa com os torcedores e jornalistas, depois até do jogo contra o Boca Juniors e eu ganhei, mas cada atleta tem a sua importância. A instituição está acima de qualquer orgulho, vaidade ou estrelismo. A instituição e a torcida estão acima da gente, porque o atleta passa, cada um tem sua história e importância, cada um quer buscar seu recorde e cravar a história, para quando parar de jogar poder falar para seus filhos e netos.

CMN: Você carrega o título de maior ídolo da história do Corinthians?

Marcelinho: Contra fatos não há argumentos, foram feitas pesquisas em 2010 e 2022 que cravaram isso. É a maior alegria e felicidade, é espetacular, sensacional! Eu falar isso é ruim, mas abriram essa enquete e a torcida e jornalistas votaram e decidiram. Fiquei muito feliz, mas defendo que todo atleta tem sua importância. O Cássio tem uma história maravilhosa, para mim o maior goleiro da história do Corinthians, o Ronaldo também tem uma importância fenomenal.

CMN: Qual foi o gol mais memorável de sua carreira?

Marcelinho: Eu tenho dois lances super inusitados. O primeiro gol é em cima do maior rival, contra o Palmeiras, naquela falta em que o Velloso não quis formar a barreira. Foi do meio de campo, a trajetória que a bola fez. É interessante que quando você vê no Youtube, o próprio gandula corre achando que a bola vai fora e depois ele volta, porque a bola faz curva e entra. E o gol na Vila Belmiro, pela plasticidade da jogada, um lance memorável e antológico. Poder receber uma placa do rei do futebol é algo que ficou marcado.

CMN: Mudando de assunto, hoje você é secretário de Esporte e Lazer de Itaquaquecetuba. Como você chegou na política?

Marcelinho: Eu vejo política como a arte de construir, realizar e transformar. Eu vim para Itaquaquecetuba, mas não queria vir no começo, porque a cidade é conhecida como “Itaquaquistão”. O prefeito Eduardo Boigues e eu temos o mesmo advogado, que me falou que havia o interesse de me levar para Itaquá e eu respondi que só iria se tivesse autonomia para trabalhar. Então escolhi Itaquaquecetuba porque é uma cidade menos favorecida. Eu sou de comunidade, negro, era pobre e minha vida deu um giro de 180 graus. Venci no esporte e na educação, então eu sei o que é um povo menos favorecido.

Hoje em Itaquaquecetuba, a Secretaria de Esportes e Lazer tem uma equipe fantástica, com o professor Gabriel, a professora Janaína, a professora Joyce, e tantos outros. São pessoas extraordinárias. Me sinto extremamente feliz e honrado de ter uma equipe qualificada para irmos em âmbito estadual e federal para buscar recursos para Itaquá. O prefeito nos dá muita autonomia e liberdade para poder transformar o esporte e a cidade. Nessa transformação vemos as coisas acontecendo.

Em um ano e meio, conseguimos um feito extraordinário. Fui a Brasília e conseguimos R$ 750 mil com o deputado federal Coronel Tadeu para fazermos a primeira piscina pública do município. Depois fui até a deputada federal Carla Zambelli e pedi ajuda. Ela mandou R$ 470 mil para fazermos duas quadras de areia para ter vôlei masculino e feminino, futevôlei, beach tennis, as salas para artes marciais e mandou R$ 300 mil destinados à Saúde.

Eu sou do Esporte, mas os secretários trabalham todos em conjunto. Fui ao âmbito estadual e o deputado Gil Diniz mandou R$ 300 mil que vão para o Ginásio Municipal de Piratininga; fomos ao deputado estadual David Soares, que mandou R$ 500 mil para o município; e fomos ao Eduardo Bolsonaro, que mandou R$ 800 mil que servirão para a reforma do Estádio Municipal.

O Estádio Municipal de Itaquá é padrão FIFA, então vai poder ter jogo da seleção brasileira, será sede da Taça São Paulo. Vai ser um campo de grama sintética com irrigação, iluminação e terá a reforma dos vestiários. Tiveram outros deputados que ajudaram a custear. 

Me sinto extremamente feliz. Falar que eu queria vir, não. Nós estamos, agora, montando a liga de futebol. Nós também constituímos o Centro de Excelência de Itaquaquecetuba (CEI), então os campos terão futebol de campo, onde serão atendidas crianças de 7 a 17 anos, teremos aulas de judô. Estamos buscando para ver se terá ginástica, pois ainda não temos os polos esportivos para poder criar e ampliar. Temos mais de dois mil alunos por semana em mais de 14 modalidades esportivas.

Um detalhe inusitado é que as pessoas com deficiência (PcD), que muitos falam que são deficientes, para nós são eficientes. Estávamos conversando com as mães e vimos que sempre foram deixados de lado. Nesses 461 anos de Itaquá, eles treinavam num cantinho, sem organização. Agora não, o professor Erasmo pediu muito e nós chegamos no prefeito e também pedimos essa atenção especial. Agora os PCDs têm voz e vez não só em Itaquaquecetuba, mas em São Paulo, no Brasil e no mundo. Então me sinto feliz, porque a transformação que a cidade de Itaquá está tendo hoje, vai fazer com que ela seja referência para São Paulo e para o Brasil.

CMN: Falando em autonomia, você foi um dos que encabeçaram o projeto Terrão Corinthians Itaquá. Conte sobre ele.

Marcelinho: Cara, é uma Parceria Público-Privada (PPP), algo inusitado no país, porque é a primeira vez em que uma instituição privada, que é o Corinthians, sede a sua chancela para um órgão público. Aí foi feito um acordo de cooperação e levamos o prefeito Eduardo Boigues para falar com o presidente Duílio Monteiro Alves, um cara fantástico que vem fazendo uma gestão maravilhosa.

O Instituto Marcelinho Carioca, existente desde 2003, trabalha com empreendedorismo, integração da família, cobrança de estudos, saúde e cultura e a última vertente é o esporte, porque eu não estou preocupado em formar um esportista de sucesso, quero formar um cidadão que saiba defender seus direitos e interesses perante a sociedade. É difícil um atleta chegar em clubes como o Corinthians, Palmeiras, São Paulo e Santos, pedir por uma peneira e conseguir. Então nós trouxemos o sonho até o município.

Imagina um menino poder ter a oportunidade de mostrar o talento dele e mudar a história da família. Um dia eu fui um desses meninos. O Madureira me deu a chance de chegar ao Flamengo; o Flamengo me deu a oportunidade de chegar ao Corinthians; e o Corinthians me fez ir para o mundo. Mas para esse menino, muitas vezes, é difícil até de chegar em um clube de quarta divisão.

Então, o Terrão Corinthians Itaquá é um negócio extraordinário, um projeto dentro do próprio Instituto Marcelinho Carioca, que estamos levando para o Brasil inteiro. É um sucesso de Itaquaquecetuba, saiu da Secretaria de Esportes e Lazer em parceria com a Secretaria de Saúde, todos os professores e staff envolvidos. Tem avaliação médica para ver se o atleta está apto à atividade esportiva, tem a equipe de captação do Corinthians, então não tem jeitinho. Se tiver talento e for aprovado, o atleta ficará 30 dias no Corinthians e se for aprovado lá, pode se tornar um atleta de futebol profissional.

Nós temos sub-11, 13, 15 e 17. Primeiro são feitas as seletivas, dentro do município, então é feita a avaliação e os aprovados são encaminhados para o Terrão Corinthians, que é uma peneira realizada em Itaquá.

*Texto supervisionado pelo editor.