Mogi das Cruzes é a primeira cidade a incluir em seu Plano Diretor a implantação de um corredor ecológico. A proposta foi discutida nesta semana, em uma oficina para apresentação do projeto. O secretário de Verde e Meio Ambiente, Daniel Lima, esclareceu que o objetivo é ligar a Serra do Itapeti, a Área de Proteção Ambiental (APA) da Várzea do rio Tietê e a Serra do Mar por meio dos fragmentos de Mata Atlântica identificados na região.
A proposta está incluída no projeto do Plano Diretor, que deve ser encaminhado para a Câmara em novembro. Lima lembrou que no passado o município era coberto por Mata Atlântica e que a pasta, em parceria com a Universidade de Mogi das Cruzes (UMC), mapeou os fragmentos de mata para estabelecer a conectividade.
O secretário destacou que a criação do corredor não vai favorecer apenas a preservação das matas. "Existe uma pesquisa da USP (Universidade de São Paulo) que as abelhas que saem da Serra do Itapeti ajudam a polinizar as folháceas no sul de Mogi, ou seja, colaboram com a agricultura, tanto que, nesse corredor, fizemos com parceria com a Secretaria de Agricultura. Ele não foi feito meramente, entre aspas, no sentido ambientalista, é sustentável, dentro dos pilares da sustentabilidade, e vai defender essa questão ambiental e social, pois gerando divisas, cria-se empregos. Será gerado um equilíbrio com o município", ressaltou.
Lima explicou que a Prefeitura realizará novas oficinas temáticas para debater outros temas. "Na oficina, não discutimos só o corredor, mas o Zoneamento Especial de Interesse Ambiental (Zeia), que incorporarmos em todas os zoneamentos ecológicos que temos no município, como a futura APA da Serra do Itapeti e APA da Várzea do Tietê. Estamos compatibilizando nosso Plano Diretor a todas legislações, sejam elas estaduais, federais ou municipais", informou.
A professora do curso de Ciências Biológicas da UMC, Maria Santina de Castro Morini, avaliou que a criação do corredor gera benefícios para todo o município. "Eu o vejo com dois papéis importantes, o primeiro é de conservação da biodiversidade, incluindo a fauna e flora que terão trânsito livre entre a Serra do Itapeti e a Serra do Mar. Segundo, para as pessoas que terão um clima mais ameno, maior quantidade de água, menos erosão", reforçou.
Maria Santina é uma das pesquisadoras responsáveis pelo livro "Caminhos do Itapeti", que foi lançado em julho. Para ela, a criação do corredor não vai atrapalhar o desenvolvimento de Mogi, mas fortalecê-lo. "Esta estrutura pode não aumentar a população dos animais, mas vai ajudar na variabilidade genética, pois se eles estão em uma 'ilha', cruzam com parceiros semelhantes e a tendência é que se extingam, fiquem vulneráveis à doenças e intempéries. Com o corredor, eles conseguem ir para outras áreas e cruzar com outros parceiros", explicou.
Economia
Uma das espécies identificadas no livro é a Ptiloglossa latecalcarata, uma abelha que constrói seu ninho no solo é a responsável pela polinização de um fruto da Mata Atlântica, o cambuci. "Mogi, com Salesópolis e Biritiba Mirim, estão tentando criar a rota do cambuci, mas ele só é polinizado por esta abelha nativa. Se ela desaparecer, não vai ter o fruto e todo o trabalho feito pode cair por terra", destacou.