A segurança do sistema hídrico e a saúde pública foram os temas debatidos ontem, segundo dia da audiência pública que discutiu a crise hídrica, na sede do Ministério Público do Estado, na Capital. A audiência pública foi promovida pelo Ministério Público de São Paulo, Ministério Público Federal e Defensoria Pública.
Na primeira intervenção do evento, o professor Ivanildo Hespanhol, do Centro Internacional de Referencia em Reuso de Água (CIRRA), destacou a importância da segurança hídrica e sanitária da água e os impactos da crise no sistema único de saúde. Segundo o professor o reuso de água é ainda incipiente no Brasil, mas crescerá muito em futuro próximo, inclusive para fins potáveis. "É preciso estimular os governos, federal, estadual e municipais e comitês de bacias a estabelecerem políticas realistas para a implementação da prática de reuso no Brasil".
Para Carlos Bocuhy, do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental, a crise hídrica somente poderá ser equacionada com medidas firmes, estruturais e não-estruturais. Para ele a crise já se revelava há anos e ocorreria de forma gradual pela falta de políticas de sustentabilidade. Também apontou que a região metropolitana polui seus corpos de água com esgotos domésticos, industriais e com a carga difusa, somatória de poluentes existentes na metrópole, que são lançados com as chuvas, além de apenas 11% dos esgotos domésticos gerados são tratados.
O Professor José Roberto Kachel dos Santos, da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC), falou sobre a redução drástica no sistema Cantareira, de aproximadamente 17m³, e defendeu a implantação de ações emergenciais.
A médica Telma Cássia dos Santos Nery, da Vigilância Sanitária, abordou os impactos da crise hídrica na saúde pública, citando várias doenças que podem ser provocadas em caso de contaminação da água.
Membros da sociedade civil, representantes do Poder Legislativo de cidades da Grande São Paulo, representantes de organizações não governamentais, de movimentos sociais e associações em defesa da água e do meio ambiente, também se manifestaram apresentando informações que poderão ser aproveitadas nos inquéritos civis em andamento.
Durante os dois dias da audiência. 80 depoimentos foram colhidos. "Foi um passo muito grande para tentar reverter um grave quadro de crise", afirmou a Promotora de Justiça do GAEMA Piracicaba Alexandra Facciolli. O MP vai catalisar todas essas vozes para aproveitar nos procedimentos investigatórios já instaurados". "Foi um momento de verdadeira cidadania".